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Entretenimento

Esse mafioso se infiltrou em Hollywood e deu um grande golpe

Ele era amigo da Marilyn Monroe e (claro) estava envolvido em extorsão de sindicatos. Aí ele foi assassinado.
Johnny em Hollywood
Esquerda: Johnny Rosselli, foto da polícia aos 20 anos. Cortesia de David Nissen. Direita: Marilyn Monroe via Wikimedia Common.

Em 28 de julho de 1976, “Handsome Johnny” Rosselli, um gângster que ascendeu nos escalões da Máfia com Al Capone, tomou brunch com a irmã em Miami, nos EUA, antes de emprestar o carro dela e dirigir para a marina. Lá ele embarcou num barco particular com dois homens, um deles um velho amigo. Em alto-mar, porém, o terceiro homem — alguém que Rosselli não conhecia de Chicago — estrangulou o gângster de 71 anos até a morte. Menos de uma hora depois que o perpetrador desembarcou, ele estava morto, apagado por um assassino da máfia que cortou suas pernas, colocou o corpo num barril de petróleo e jogou na Baía Dumfoundling.

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O barril não afundou, e pescadores o encontraram dez dias depois num banco de areia num canal, como o New York Times revelou em fevereiro do ano seguinte.

Foi um fim baixo para Rosselli, um cara que se passava por playboy e agia como embaixador da máfia em Los Angeles nos anos 30 e em Las Vegas nos anos 50. Trapaceiro charmoso que conhecia mafiosos infames, homens do dinheiro de Hollywood, astro e estrelas, Rosselli até se encontrou com membros do Congresso antes que tudo desse errado em Miami.

Num novo livro, HANDSOME JOHNNY—The Life and Death of Johnny Rosselli: Gentleman Gangster, Hollywood Producer, CIA Assassin, Lee Server explora a vida e a época do homem que ajudou a construir uma ponte entre o cinema e a máfia. A VICE falou com Server para saber como Rosselli entrou para o crime organizado – e como ele introduziu os dedos sujos da máfia em Hollywood.

VICE: Teve um momento em particular que você suspeita que empurrou Johnny Rosselli para o caminho do crime organizado?

Lee Server: Rosselli estava à deriva nos EUA quando era jovem. Ele se estabeleceu em Los Angeles na década de 1920, se tornou contrabandista, depois apostador e aí estelionatário. Num encontro de sorte ele chamou a atenção de Al Capone, que estava sempre de olho em novos talentos criminosos. Ele reconheceu alguma coisa em Johnny na época em que precisava de um contato entre Chicago e a Costa Oeste. Rosselli se tornou meio que um cônsul honorário de Chicago em LA.

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Acho que todo mundo tem uma noção vaga de que a máfia se envolveu em produções de Hollywood, mas não era uma coisa periférica – eles chegaram até o topo.

Parte da “missão” de Rosselli em Los Angeles era cultivar relações com a hierarquia da indústria do cinema. Ele conhecia todo mundo, namorava estrelas de cinema, jogava golfe com chefes de estúdio. Seu amigo mais próximo na indústria era o dono da Columbia Pictures, Herry Cohn. Eles socializavam juntos, e Johnny visitava sempre o estúdio para dar consultoria ao magnata para seus filmes de gângster. Quando Cohn precisou de um grande empréstimo urgente, foi Johnny quem o colocou em contato com o mafioso da Costa Leste Abner Zwillman. Isso teve suas próprias complicações. O gângster possuiu secretamente uma parte do estúdio de Cohn por vários anos, até ele morrer repentinamente, torturado até a morte ou pelas próprias mãos, dependendo em que história você decidir acreditar.

Mas o envolvimento de Rosselli acabou saindo do controle, certo?

Ele colaborou com Frank Nitti – sucessor de Capone na máfia de Chicago – num plano para dominar todo o negócio de cinema de Hollywood. Ele fez isso tomando controle de um sindicato, depois exigindo enormes pagamentos por baixo dos panos de cada estúdio, ameaçando paralisar todas as produções se eles não pagassem. Os mafiosos fizeram milhões. Mas a coisa desmoronou no final, e muitos dos perpetradores acabaram presos.

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Ele realmente coproduziu filmes como Demônio da Noite e Canon City mais tarde nos anos 40 – então ele não estava apenas no crime. Você acha que essa foi uma escolha deliberada, para conseguir um trabalho tradicional?

Quando Rosselli saiu da prisão sob condicional, ele tinha que encontrar um emprego legítimo. A maioria dos ex-presidiários atendia essa exigência de condicional com trabalhos como lavador de pratos. Rosselli, sendo Rosselli, conseguiu um trabalho como produtor associado num estúdio de cinema. Ele formou uma produtora com Bryan Foy e produziu dois filmes noir. Minha pesquisa revelou como a contribuição de Rosselli foi importante no desenvolvimento desses dois grandes filmes.

Fiquei impressionado com as muitas amizades públicas que ele tinha com grandes nomes – uma coisa bem na cara de todo mundo, mesmo depois que ele cumpriu pena.

Johnny conheceu Marilyn Monroe por meio do produtor (e colega criminoso) Joseph Schenck. Eles foram próximos por um tempo, amantes segundo alguns rumores. Não consegui confirmar isso, mas a história é que ele ajudou Monroe a conseguir seu primeiro papel importante em Mentira Salvadora na Columbia.

Como o poderoso chefão virtual de Las Vegas nos anos 50 e 60, Rosselli conhecia a maioria dos astros do showbiz que tocavam nas casas de show. Sinatra e Dean Martin eram amigos pessoais. Eles se divertiam juntos. Frank e Dean patrocinaram a associação de Johnny no Friar's Club.

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O cara gostava mesmo de um drama. Tem algum episódio que você acha que captura isso muito bem?

As Audiências de Kefauver no começo dos anos 1950 foi a primeira investigação profunda do governo sobre o crime organizado nacional. Poucas pessoas nos EUA sabiam quão longe chegava o que era conhecido então como a máfia e o sindicato, corrompendo cada área do país. O grupo Kefauver de Washington arrastou todos os principais gângsteres de alto escalão, incluindo Johnny Rosselli. Diferentemente de outros mafiosos, que tentaram não dizer nada (e foram presos por isso), Rosselli respondeu todas as perguntas, mas com uma habilidade estratégica que no final não entregava nada.

Mas o que fez ele ser morto não foran seus (vários) testemunhos para o Senado?

Vou repetir as palavras do detetive de homicídio que encontrou o corpo dele: ele tinha deixado muita gente puta.

A entrevista foi ligeiramente editada e condensada para maior clareza. Saiba mais sobre o livro de Server aqui.

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