O que o mercado pensa sobre as eleições? Pergunte a um tubarão
Foto: Larissa Zaidan/ VICE

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Politică

O que o mercado pensa sobre as eleições? Pergunte a um tubarão

Um investidor bilionário de São Paulo conta como é a estreita relação entre ações, boatos e pesquisas eleitorais.

A cidade de São Paulo pode não ter mar, mas possui vários tubarões.

Tubarão é o termo usado pelo mercado financeiro para um grande investidor que pode ditar os rumos da Bolsa.

A capital paulista é, por assim dizer, o habitat de vários deles — muitos dos quais trabalham na Avenida Faria Lima, o centro financeiro do Brasil.

Mas um dos maiores tubarões está distante de lá. Mais precisamente no centro de São Paulo, a poucos metros da B3 (novo nome da BM&FBovespa).

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Luiz Barsi, 80 anos, virou bilionário no mercado financeiro após deixar o jornalismo e investir em ações. Sua fortuna hoje é estimada em mais de um bilhão de reais.

Sua estratégia de investimento, com foco no longo prazo e em empresas que pagam bons dividendos (lucros), é seguida a risco pelo cardume de peixes que nadam próximo a ele.

Suas opiniões são uma parte importante do discurso que circula no mercado financeiro, preocupado com a eleição mais tensa do Brasil em 30 anos, como diz uma fonte de uma grande corretora da Faria Lima que lida diariamente com vários investidores.

E, como você ter percebido nas últimas semanas, a imprensa nacional também é ávida em publicar as reações da Bolsa assim que saem os números de uma nova pesquisa eleitoral. Em parte porque há uma demanda por informações, quando uma parcela considerável é de investidores estrangeiros (mais de 40%, segundo dados da B3), que mostram, de certa forma, a crença no futuro da economia brasileira. Se o Ibovespa está em alta, há uma maior crença na futuro econômico do Brasil. Se está em baixa, existe o contrário.

Mas, em outra medida, há um jogo especulativo, principalmente no mercado futuro, com o preço das ações mais impactadas pelo resultado das eleições. Nesse caso, estatais como Petrobras e Eletrobras, além de empresas de capital misto, como no caso do Banco do Brasil, veem os preços de suas ações variarem ao sabor das pesquisas.

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Quem tem a melhor informação ganha. Quem ficou de fora dela acaba perdendo. E o resultado pode ser feio.

Embora diga que não faça parte do jogo, o tubarão do centro de São Paulo tem uma opinião forte sobre as eleições deste ano. Barsi defende que “Lula já é um defunto”, elogia o “autoritarismo” de Bolsonaro e vê uma semelhança entre Ciro Gomes e Fernando Collor. (A entrevista foi realizada antes de Fernando Haddad ser oficializado como candidato do PT.)

Usando jeans e uma camisa tipo polo, seu Barsi, como é chamado pelos funcionários, recebeu a VICE em uma sala de reunião no escritório de sua própria corretora, a Elite, para falar o que pensa sobre as eleições deste ano.

Na entrevista, ele aborda os pontos positivos e negativos entre os candidatos mais bem colocados nas pesquisas e o futuro do país. E ilustra o que o mercado, essa entidade quase mística, pensa a respeito do pleito nacional.

VICE: Como você vê a influência das pesquisas eleitorais sobre o mercado financeiro?

Luiz Barsi: As pesquisas somente afetam os papéis da roleta, os papéis de alta definição especulativa. Se o Lula ganhar, se o Alckmin ganhar, ou se o Bolsonaro ganhar, ninguém vai deixar de beber água, tomar banho ou usar energia elétrica. Então, isso é uma espécie de jogo plantado, para que as ações oscilem e, consequentemente, os índices.

Mas a especulação acaba atingindo o valor das ações que o senhor tem, como, por exemplo, a Eletrobras.

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Eu tenho ação da Eletrobras, mas comprei quando elas valiam 4 reais (a ação fechou valendo 18,98 reais no pregão de ontem). Eu, diferentemente dos outros profissionais do mercado que observam os fluxos especulativos, avalio o mercado à luz de um futuro mais distante. E não analiso as ações pelo simples fato de serem ações. Analiso projetos, de preferência que tenham a estigma de serem vitoriosos.

O que o senhor pensa do Lula como candidato neste ano?

Para mim, o Lula é um defunto. Só falta enterrar. Essa é a grande realidade. E graças a Deus. Falo isso porque o mercado hoje sente os reflexos da era PT. E a era PT inclui o Lula. Nós tivemos o mensalão que foi encoberto pela Justiça. Agora nós temos a Lava Jato, que está desvendando uma série de distorções e corrupção, principalmente entre os integrantes do PT e de outros partidos também.

Se o Lula ou Haddad virar presidente, você venderia sua carteira de ações, manteria sua posição ou compraria mais papéis na Bolsa?

Você pode pôr o Marcola (Marcos Willians Herbas Camacho, apontado como líder do PCC), mas você vai continuar bebendo água. Talvez o Marcola fosse melhor que o Lula, a gente não sabe. Ele comanda o PCC e é muito organizado. Eu digo o seguinte: há segmentos que, sem aquela atividade, a economia não vive. Olha a Venezuela! Está todo mundo indo embora.

Foto: Larissa Zaidan/ VICE

O risco Lula seria um caminho para uma situação como a da Venezuela?

É a consequência do socialismo mal empregado, do comunismo, em última análise.

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Se o Bolsonaro virar presidente, você venderia sua carteira de ações, manteria sua posição ou compraria mais papéis?

No caso do Bolsonaro, talvez ele pudesse ser o melhor dos presidentes, porque tem o espírito autoritário e reconhece coisas importantes para o brasileiro. Por que você pensa que o americano pode comprar armas? Porque o Estado não tem a condição de ter um agente de segurança junto de cada um. Então, a arma é para se proteger e também para tornar o cidadão um agente do Estado. Ele tem de ter o direito de se proteger. Se você tivesse uma arma para se proteger, o ladrão teria um fator psicológico para não assaltar.

O senhor compraria uma arma?

Eu compraria com todo o prazer, porque sou partidário da filosofia que, se o governo não pode produzir ou proporcionar segurança, você tem que ser um dos agentes de segurança.

Que outras propostas do Bolsonaro o senhor acha interessante?

Acho que ele é uma figura autoritária. E o Brasil precisa disso. O Brasil é um país que não tem autoridade.

Mas essa autoridade não pode convertê-lo em um Leviatã (Estado absoluto)?

Ele não consegue, porque o Brasil é uma democracia corporativista. Ele pode ter ímpeto, mas terá sempre que olhar para políticos que são viciados em propina. Ele terá de combater esse esquema.

No caso do Ciro Gomes, você venderia sua carteira de ações, manteria sua posição ou compraria mais papéis?

Ciro Gomes é um cara perigoso. Vou falar uma coisa que talvez você não se recorde ou não tenha feito a avaliação que o tema merece ser avaliado. Você se lembra o que aconteceu quando o Collor (ex-presidente) tomou posse?

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O confisco da poupança…

Isso, ele confiscou tudo o que era conta corrente, tudo o que era título de crédito, tudo, menos as ações.

Mas você acha o Ciro Gomes semelhante ao Collor?

Cada um tem o direito de falar o que pensa. Eu tenho o seguinte receio: nós estamos com um país quebrado, nossa balança fiscal está quebrada, e tenho a impressão que algum desses políticos pode lançar um artifício como o do Collor. Se você tiver dinheiro na mão, você perde. Se você tiver ações, você não perde.

O Ciro Gomes fala em tributar as grandes fortunas. Como você enxerga isso?

Ele tem esse cunho socialista, distribuindo o que é dos outros, mas não distribui o que é dele. E ele não é um cidadão que pode ser considerado um vencedor. Ele avança naqueles que são vencedores. Neste país, você corre o risco de um camarada como aquele (Collor) lançar mão na poupança de todo mundo.

Mas, nos Estados Unidos, dependendo do local, você acaba pagando um imposto muito alto sobre a herança.

Eu sou favorável que se cobre um tributo sobre as heranças, porque quem está herdando não fez nada, não trabalhou. Então, acho justo que ele pague um valor maior.

Então, seu medo em relação ao Ciro seria um eventual confisco.

Eu não tenho dúvida disso, porque ele é um radical. A visão dele é distribuir o que é dos outros. Mas o que tem de fazer é o seguinte: uma distribuição de renda equânime. Ele já falou que vai no rico, mas o rico tem seus méritos. É um cara que trabalhou, que arriscou.

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E no caso da Marina Silva?

Ela é uma ausente. Ela fica quatro anos fora e, quando chega a hora da eleição, ela aparece porque é presidente do partido e se coloca à frente. Se ela não for eleita, vai ficar mais quatro anos outsider.

Tenho falado com outras pessoas do mercado financeiro, e a maioria delas prefere o Geraldo Alckmin.

Sabe por quê? Porque o Alckmin é um cidadão que fica em cima do muro. Ele não faz nada. Você costuma andar de metrô?

Sim…

Muito bem, ele é uma empresa do Estado, e o Alckmin falou que daria a todos com mais de 60 anos, grávidas ou deficientes a preferência (nos vagões). Mas ele não te garante. Você vê aquela pessoa fantasiada de segurança e percebe que está fazendo apenas uma conferência. Por que não o põe na porta para falar que só pode entrar quem é preferencial? Então, ele (Alckmin) não faz as coisas pelo país. O Fernando Henrique (Cardoso) também fez um governo horroroso.

Mesmo com a criação do Real?

Houve, na verdade, uma conversão, e não um plano. Ele enxugou o dinheiro. E, no fim, você percebe que eles (PSDB) não honram o que falam, o que prometem. Ele (Fernando Henrique Cardoso) chegou diante do Adib Jatene (ex-ministro da Saúde), e disse que ia colocá-lo como ministro, porque ele tinha credibilidade, e ia implantar a CPMF direcionada para Saúde. Quando conseguiu aprovar, ele (Fernando Henrique Cardoso) falou para o ministro (Adib Jatene): olha, (o dinheiro) não vai mais para Saúde. Então, é um camarada que não honra. Depois, ele colocou o amiguinho dele lá, o (José) Serra, que é um ex-fugitivo. O Fernando Henrique também é um ex-fugitivo. Ele foi banido daqui do Brasil. E eles voltaram. É o que o Jânio Quadros (ex-presidente do Brasil) falava: fizeram uma limpeza, só que deixaram os cantinhos livres.

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E como você vê o futuro do país?

Estou com 80 anos e não vou viver para ver esse país desmoronar, se não houver uma mudança radical no comportamento das pessoas, no direcionamento da economia e na forma de conduzir as finanças públicas. Enquanto eu viver, vou continuar investindo no mercado de valores, porque não existe outra coisa melhor no mundo. No curto prazo, vejo esses políticos e me dá pena, me dá medo. Mas, de qualquer maneira, prefiro comprar ações do que botar dinheiro na mão deles. O que falta nesse país é cultura de investimento. É saber onde você coloca seu dinheiro.


Assista ao nosso documentário "O Mito de Bolsonaro"


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