Seu José Barbosa dos Santos relata suas perdas materiais e financeiras. Foto: Susan Ritschel/Ava Notícias
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Barbosa chegou em Bento Rodrigues em 1970, vindo de Governador Valadares, a cerca de 300 km, "junto com mais 40 pessoas em cima de um caminhão sem toldo, sem nada" - conhecido como pau-de-arara. Havia sido recrutado por uma empresa de reflorestamento de eucalipto.Na hora do almoço do primeiro dia de trabalho já não tinha mais sapato, o salto fora arrancado. No fim do primeiro mês, com o primeiro salário, se animou e resolveu ficar. E ficou até hoje. Passou 13 anos na função, quando a empresa diminuiu o serviço e ele foi demitido. "Aí eu comecei a garimpar um pouco de ouro, aqui em Bento Rodrigues, mesmo, de forma manual, para pagar as contas", conta. "Fui construindo a vida mais ou menos, até abrir um 'comercinho'".
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Barbosa conta que quando chegou a Bento Rodrigues, em 1970, ainda não havia a mineradora. E que nas reuniões feitas entre a empresa e os moradores de Bento Rodrigues, sempre foi falado que as barragens "eram 100% seguras"."Uma empresa tão falada, você não desconfia, né?", avalia. Sobre o tremor de terra que teria causado os rompimentos, ele desabafa: "Não sentimos nada; tremor que nada! Eles falam que houve o tremor para dizer que foi coisa de Deus, mas isso não é coisa de Deus nada. É coisa do homem mesmo."Por ironia do destino, nem a poupança nem a barragem estavam seguras e ambas o afetaram de modo decisivo. "a gente só não morreu, porque nosso mundo mesmo foi arrasado." E lamenta."O Bento era pequeno, nós éramos uma família. E agora tem muita gente que eu não vi mais, espalhada por aí".Alojado em um hotel em Passagem de Mariana junto com outras vítimas de Bento Rodrigues, ele agora teme não recuperar este dinheiro, já que não tem como comprovar sua existência, mesmo o incluindo em um cadastro feito pela Samarco relatando bens perdidos na tragédia.