Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.Não é muito comum que as pessoas consumam as suas drogas preferidas sem as misturarem. Na verdade, o consumo múltiplo - um termo suave para "foderes a mona toda com mais do que uma droga" - é, tendencialmente, a regra e não a excepção para a maioria dos consumidores.É claro que bebes uma cerveja isoladamente, ou fumas um bocado de erva sem te sentires impelido a mandar um mail às quatro da manhã ao teu patrão, a pedir um aumento para estourares em mais seis gramas. Mas, experimenta meter alguma coisa nariz acima e é muito provável que acabes a adicionar mais qualquer coisinha - estimulante em cima de estimulante, ou um relaxante para equilibrar e ajudar a dormir.Apesar de ser a norma, o consumo múltiplo é pouco estudado. A maioria das investigações sobre drogas centra-se nos efeitos das substâncias quando tomadas em exclusividade. Mas, uma coisa é certa: com cada droga adicional que tomas, aumentas exponencialmente os riscos para a tua saúde. Um bom exemplo: as celebridades que durante anos consomem heroína e cocaína, aparentemente sem grande problema, até ao dia em que chutam um "speedball" - combinação de heroína e cocaína - e… morrem."Há várias 'prateleiras' de substâncias, estimulantes, sedativos, alucinogénos, dissociativos. Combinar mais do que um de cada prateleira pode aumentar os riscos", salienta o médico e investigador Bowden Jones, fundador da [norte-americana] CNWL Drug Club Clinic.
Bowden-Jones conduziu uma extensa investigação sobre drogas sintéticas tomadas em ambientes nocturnos e conhece bem os seus efeitos nos pacientes que acompanha. A combinação de dois estimulantes não é uma boa ideia, assegura, "já que aumentam os batimentos cardíacos e a pressão sanguínea". "Tomar mais do que um estimulante, pode multiplicar os efeitos, aumentando o risco de acontecer algo verdadeiramente prejudicial, nomeadamente paragens cardio-respiratórias e enfartes", conclui.Misturar drogas de categorias diferentes é, igualmente, uma péssima ideia. "Muitos consumidores juntam sedativos e estimulantes", lembra Bowden-Jones. "Tentam equilibrar o efeito de um com o outro", acrescenta. O problema é que se torna muito fácil atingir o equilíbrio errado: "As pessoas actuam como uma espécie de 'psico-farmacêuticas' que misturam drogas para obter um determinado efeito - mas não têm em conta os riscos".Ciente de que a maioria das pessoas continuarão a tomar duas ou mais substâncias ao mesmo tempo, sem terem em conta o que lhes pode acontecer, decidimos pedir a dois especialistas - Bowden Jones e Adam Winstock, criador do Global Drug Survey - para nos falarem sobre os potenciais riscos de algumas das mais comuns combinações de drogas.Uma combinação muito comum. Há até bastantes consumidores casuais de cocaína que só a tomam se já estiverem bebidos. Sem surpresas - dado que se trata de um estimulante e um sedativo -, a mistura não é boa para o teu coração, ou para o teu bem estar geral. Contudo, cria todo um novo género de moca em si mesma, que, provavelmente, é a razão pela qual muita gente pega nos telefones depois de umas quantas cervejas.De acordo com Bowden-Jones, "A ingestão de ambas substâncias leva à formação de 'cocaethylene', que tem propriedades psico-activas".Estudos sugerem que esta substância pode ficar mais tempo no sangue que a cocaína, aumentando assim o período de euforia. No entanto, pode ser também mais tóxica a nível cardíaco. Ou seja, nada bom para ti.Misturar MDMA e ketamina é, actualmente, muito recorrente. Geralmente, as pessoas tomam MD para começarem a noite e vão molhando o dedo ou metendo bombinhas até chegarem à ketamina, seja para lhes dar aquele "kick" extra, ou para os ajudar a descer um bocado, visto que dão por elas na sala de estar de alguém, com o sol a nascer e já não lhes apetece propriamente estar ali.Bowden-Jones diz que, apesar da popularidade desta combinação, há muito pouca investigação sobre o seu efeito. "Sabemos que a ketamina pode ser um sedativo e o MDMA um estimulante, mas avaliar o equilíbrio correcto entre os dois é extremamente complicado", diz.Tom, um estudante de 24 anos, teve essa experiência depois de tomar primeiro MD e depois ketamina, num daqueles momentos de festa em que a tua capacidade de avaliar situações se torna difusa. Nunca tinha tomado ketamina, mas achou a combinação das duas drogas bastante violenta. "Conseguia ainda sentir a ligação emocional do ecstasy, mas essa sensação foi rapidamente suplantada pela ketamina e, na verdade, não gostei nada", confessa.De acordo com Bowden-Jones, MDMA e ácidos é uma combinação menos usual. E está certo: não é uma mistura que te apeteça fazer nas tuas saídas regulares. E isso provavelmente é bom, já que juntar os dois estimulantes deixa-te em risco elevado de problemas a nível da pressão sanguínea e cardíaca. Para além das horríveis e intensas alucinações."Muita gente bebe sob efeito de MDMA e isso não é lá grande ideia", diz Adam Winstock, criador do Global Drug Survey" que, tal como Bowden-Jones, também é especialista na área do consumo multidisciplinar. "O álcool desidrata-te e corta-te o efeito do MDMA"."Um copo de vinho não fará mal", diz, "mas duas ou três garrafas sim". "Ou seja, depende muito de quanto bebas. Mas é melhor beberes água, sumo ou leite".Misturar charros e copos é uma forma tradicional de sentir-se bastante azamboado e mal disposto. Se gostares de ficar assim de propósito, diz Winstock, "assegura-te que, pelo menos, não estás a conduzir"."O álcool faz com que os níveis de THC no teu sangue aumentem rapidamente, por isso deixa-te mais pedrado", explica Winstock."A erva é a substância mais utilizada para livrar-se de um final menos bom de trip de MDMA", salienta Bowden-Jones. E acrescenta: "As pessoas fumam erva ou tomam comprimidos para dormir no final da noite".O risco principal, se fores susceptível a este tipo de coisas, é a erva deixar-te ansioso ou paranóico, em cima da ansiedade e da paranóia que já advém do 'bajón' do MDMA. No entanto, nenhum dos consumidores com quem falámos tinha alguma coisa a dizer contra esta combinação."Já tive imensas noites em que estava absolutamente em altas com MDMA e só me apetecia fumar. Não me bate tanto como habitualmente, mas ajuda a relaxar", garante Matt, de 24 anos."Quando há alguns anos, no âmbito do Global Drug Survey, perguntámos às pessoas qual achavam que seria a combinação de drogas mais perigosa, a maioria disse ketamina e álcool", revela Winstock. "É uma resposta inteligente, já que o álcool aumenta em muito os problemas da bexiga causados pela acção desidratante da ketamina. Para além disso deixa-te sedado e sem equilíbrio, o que aumenta as possibilidade de te atirar para o denominado 'K-Hole'".Já sabes: se estás a beber, mantém-te longe da ketamina."É uma combinação bastante comum", diz Winstock. "A descida do crack é muito desconfortável e a heroína é usada para a 'amaciar'".É por isso que, quanto mais crack consomes, mais heroína consumirás, para equilibrar as coisas e maior é o risco de overdose.
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Bowden-Jones conduziu uma extensa investigação sobre drogas sintéticas tomadas em ambientes nocturnos e conhece bem os seus efeitos nos pacientes que acompanha. A combinação de dois estimulantes não é uma boa ideia, assegura, "já que aumentam os batimentos cardíacos e a pressão sanguínea". "Tomar mais do que um estimulante, pode multiplicar os efeitos, aumentando o risco de acontecer algo verdadeiramente prejudicial, nomeadamente paragens cardio-respiratórias e enfartes", conclui.Misturar drogas de categorias diferentes é, igualmente, uma péssima ideia. "Muitos consumidores juntam sedativos e estimulantes", lembra Bowden-Jones. "Tentam equilibrar o efeito de um com o outro", acrescenta. O problema é que se torna muito fácil atingir o equilíbrio errado: "As pessoas actuam como uma espécie de 'psico-farmacêuticas' que misturam drogas para obter um determinado efeito - mas não têm em conta os riscos".
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