A Vida Perigosa dos Catadores de Moluscos do Mangue Colombiano

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A Vida Perigosa dos Catadores de Moluscos do Mangue Colombiano

Os Piangueras são uma comunidade remota colombiana que se sustenta coletando e vendendo moluscos encontrados nos mangues da costa do Pacífico do país.

Os Piangueras são uma comunidade remota colombiana que se sustenta coletando e vendendo moluscos encontrados nos mangues da costa do Pacífico do país. Os moluscos, um alimento popular no Equador, são a base de sua renda. O trabalho dos moradores é perigoso, não-regulamentado e estar constantemente molhado e cercado por mosquitos significa que doenças são um problema sério. Por causa da agilidade necessária para pegar os moluscos, muito do trabalho é feito por crianças. Com poucas outras fontes de renda disponíveis e a falta de presença do governo na área, essa é a única opção que muitos têm.

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O fotógrafo alemão Jonas Wresch cruzou com essa economia do mangue enquanto morava e trabalhava na Colômbia. Ele falou com a VICE sobre sua experiência na região e como tenta documentar a pobreza sem se tornar um predador dela.

VICE: Oi, Jonas. O que te levou à costa do Pacífico da Colômbia?
Jonas Wresch: Isso era parte de uma reportagem mais ampla sobre a vida numa municipalidade chamada El Charco, em Nariño. Essa é uma área muito afetada por conflito, 85% da população foi deslocada por certo tempo. Fui até lá documentar os efeitos do conflito em diferentes partes da vida, tipo como as pessoas se alimentam, e foi assim que cruzei com os piangueras.

Como agilidade é necessária para pegar os moluscos, muito do trabalho é feito por crianças.

Como você teve acesso a essa comunidade?
Foi bem engraçado, encontrei essas senhoras que trabalharam a vida inteira nos mangues e perguntei se podia ir com elas. A resposta foi: "Não! Você não vai sobreviver uma hora lá!". Elas pintaram um cenário cheio de malária, onde você tinha que esfregar gasolina na pele para não ser picado pelos mosquitos. No final, elas ficaram satisfeitas por eu ter ido até lá e sobrevivido. São pessoas muito simpáticas e abertas.

Como é um dia de trabalho para o piangueras?
É um mundo bastante interessante. Você pega uma canoa e todo mundo come e fuma cigarros durante o trajeto. Os moluscos ficam bem perto das raízes das árvores, então eles têm que cavar de 10 a 20 centímetros na lama para procurá-los. Os moluscos não ficam aparentes, então você tem que fazer uma pesquisa.

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Quais são os outros riscos de saúde que eles encaram, além da malária?
Eles têm problemas de pele e acreditam que precisam passar gasolina no corpo para manter os mosquitos afastados. Eles também podem sofrer picadas de cobra e ataques de outros animais.

A maior preocupação dos trabalhadores é a malária.

Há muitas crianças nessas fotos. Por quê?
Há muitas crianças envolvidas, especialmente porque elas têm mãos e corpos menores, então podem trabalhar com mais eficiência. Muitas delas não frequentam a escola ou vão no período da tarde. O trabalho é muito difícil e eles são competitivos, então se focam no trabalho por horas. É a única opção que eles têm. Os mais velhos me disseram que estavam cansados desse trabalho.

E não há outras opções de fonte de renda na área?
Não muitas. Eles podem entrar para o exército, essa é uma mudança, ou há a produção de madeira, a pesca e o trabalho nas plantações de banana – mas praticamente só isso.

Você mencionou que alguns dos garotos mais velhos disseram que estavam cansados. Qual é o clima geral na comunidade?
Eles sabem que é trabalho pesado, mas também é uma atividade com muita história e eles têm muito orgulho disso. Falando com as mulheres mais velhas na cidade, dá para saber quem é pianguera pelo jeito que elas fumam. É uma trajetória e isso dá à comunidade um senso de união.

Para as crianças na área, outras opções de trabalho incluem entrar para o exército, cortar madeira, pescar ou trabalhar nas plantações de banana.

A área não conta com muita assistência e presença do governo, certo?
Eles se sentem totalmente abandonados. Estive em outras áreas da Colômbia, como o sul de Bogotá, onde a vida é tão difícil quanto para os piangueras, mas as coisas ainda são mais acessíveis. Mas ONGs estão presentes, então as pessoas sentem que estão sendo levadas em consideração. Esse lugar é muito afastado e é muito caro viajar de barco por causa do preço do combustível. Poucas pessoas vão para lá.

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Como fotografar a desigualdade com dignidade e não cair na simples "pornografia de pobreza"?
Sempre tento encontrar um equilíbrio entre as vítimas e a resistência. As pessoas não sofrem anonimamente, elas estão sempre se organizando e sempre são muito fortes. Não quero retratar essa região como o pior lugar da Terra, mas sim que há essa esperança de que as pessoas têm poder. Me senti muito bem nas comunidades afro-colombianas, eles são muito hospitaleiros e amigáveis, e tentei incluir isso no meu trabalho.

Entrevista por Laura Rodriguez Castro, siga-a no Twitter.

Tradução: Marina Schnoor

A área é de difícil acesso, por isso há pouca ajuda de ONGs.

Apesar das dificuldades do trabalho, a comunidade tem orgulho de sua história.