​O passatempo destes gajos é beber (e avaliar) cerveja

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​O passatempo destes gajos é beber (e avaliar) cerveja

Paralelamente às marcas mais conhecidas, há todo um mundo cervejeiro por descobrir. "Cerveja Depressão" está aqui para ajudar-te a percorrê-lo.

Com um decréscimo generalizado no consumo nos últimos anos, mas com indicadores de retoma aqui e ali, e com uma forte componente de exportação, a cerveja continua a fazer parte do dia a dia dos portugueses. Ou é a crise, ou é o Verão menos quente, ou é a moda parola dos balões de gin, certo é que a fresquinha lá se vai aguentando.

Paralelamente às marcas standard, há todo um mundo cervejeiro por descobrir. Diogo Soares Silva, Hugo Gonçalves, João Gonçalves e João Martinho têm o melhor hobby do mundo: bebem cerveja! "Cerveja Depressão" é o nome do site, que começou como uma página no Facebook. A VICE tinha de falar com eles, como é evidente.

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VICE: O mundo da cerveja artesanal tem vindo a crescer nos últimos anos em Portugal. Para além da óbvia vantagem - que é a Cerveja Depressão ter mais matéria sobre a qual se debruçar - como explicam esse fenómeno?

COLECTIVO CD: Desde logo, achamos que se explica por uma mera questão de inevitabilidade. O movimento da craft beer surgiu em força nos EUA há umas três décadas e, mais recentemente, torna-se de certa forma um fenómeno global com uma trend no outro lado do Atlântico protagonizada por cervejeiras como Firestone, Three Floyds, ou Russian River, que vieram mostrar aos europeus que era por lá que estava a vanguarda na produção de cerveja artesanal.

Depois de provarmos e nos rendermos às evidências da qualidade, aliado à facilidade com que se faz cerveja, a Velha Europa quis ripostar. Fazemos fast forward e estamos nos dias de hoje, que são fantásticos. Ou seja, depois de esse movimento percorrer vários países, com mais ou menos tradição cervejeira, era apenas uma questão de tempo até chegar cá. Claro que também se pode explicar pelo contexto da crise económica que vivemos. Nestes anos em que tanto se falou de empreendedorismo, muita gente começou a ver na cerveja artesanal uma oportunidade de negócio, fosse a produzir, fosse a vender.

E algumas centenas (ou milhares?) de cervejas depois, quais são as vossas preferidas?

As belgas Trappistes Rochefort 10, Westvleteren XII, Struise Pannepot, Abbaye de Rocs Brune, Rodenbach Grand Cru, Alvinne Wild West e De Dolle Dulle Teve estarão sempre no nosso top e no nosso coração.

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Mas há tantas mais, como as inglesas The Kernel Export Stout e Fuller's Vintage Ale, ou as americanas North Coast Old Rasputin Russian Imperial Stout, Goose Island Bourbon County Stout e Pliny The Elder… Da Escandinávia também têm saído demasiadas coisas boas! Destacamos marcas como a norueguesa Haandbryggeriet, as dinamarquesas To Øl e, claro, Mikkeller, ou as suecas Omnipollo e Beerbliotek. E, apesar de não ser fácil encontrar cervejas deles por cá, a cena cervejeira italiana é muito rica, o que não deixa de ser fascinante num país tradicionalmente de vinhos.

As cervejas da LoverBeer, Baladin ou OpperBacco são imperdíveis numa visita a qualquer cidade transalpina. Queres também portuguesas, certo? Mean Sardine, Dois Corvos, Passarola, Oitava Colina, OPO74, Post Scriptum e Letra, só para nomear algumas cervejeiras, têm feito umas coisas bem interessantes. Chega?Já estamos a ficar cheios de sede.

A cerveja, quando acondicionada, quer-se em pé, ou deitada? Porquê?

Em pé. Ao estar deitada, existe muito mais área em contacto com o oxigénio preso na garrafa e há risco de oxidação. Para além disso, em cervejas não filtradas, é melhor que o depósito fique bem no fundo e se misture o menos possível com o resto da cerveja. A não ser que gostem do sabor da levedura, claro. Mas há determinados estilos que podem ser armazenados na horizontal, como as lambics, especialmente se tiverem rolha e não cápsula.

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Continuo a achar que a Cristal preta é boa. Porque é que não me compreendem?

Vá, e é, dentro do género. Durante uns tempos foi a cerveja corrente que alguns de nós tivemos no frigorífico. Acaba por ser das melhores cervejas industriais portuguesas em termos de relação preço/qualidade e não fica a dever nada à Super Bock Stout, ou à Sagres Preta. Mas depois de provares stouts a sério vais ver que a Cristal preta, em comparação, é uma brincadeira de crianças e já nem voltas a incomodar-nos com essa tua angústia.

É verdade que para beber uma cerveja má, basta que esteja estupidamente fresca?

Quando o líquido está demasiado frio, as papilas gustativas ficam algo entorpecidas com a temperatura. A velha técnica de bares servirem cerveja corriqueira a temperaturas abaixo de zero funciona, desde que a bebam depressa e não a deixem aquecer. Fazemos o mesmo com a horrível água da torneira lá de casa: quando não temos água engarrafada, enchemos uma garrafa de litro e meio e metemo-la no frigorífico durante a noite. Quando se bebe aquilo de manhã ninguém diria que está cheia de ferrugem.

Diz que há por aí umas confrarias e confrades da cerveja, mas aquilo, pelas fotos, parece malta de abanar o balão de gin. Afinal, que merda é esta?

Quando te dizes entendedor do que quer que seja - imagina um sommelier de chouriças -, abres as portas a que o teu show off a servir chouriças seja bem aceite pelo mundo. É um pouco isso.

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E boas dicas, tipo aquela cerveja do Aldi a 0,69€? Qual foi a vossa última descoberta, versão baratinha, que possam recomendar?

Lembram-se da Tagus quente que bebiam em festas académicas e festivais? Esqueçam. A receita foi melhorada recentemente e foi uma boa surpresa. E até deve ser mais barata que essa alemã do Aldi, só é pena ser difícil de encontrar em supermercados. Quanto a estrangeiras, a Leffe Blonde é capaz de ser a melhor cerveja mais barata que se pode encontrar com uma certa facilidade. Mas descobrimos há pouco tempo, numa grande superfície (procurem!), a Mc Chouffe a metade do preço normal.

Desde o início desta aventura, quanto quilos já ganharam?

"Muitos" é uma resposta? A maioria das Imperial Stouts, por exemplo, têm mais calorias que um Big Mac. E também sabem melhor.

Isso de ser um geek da cerveja… vocês também contam anedotas uns aos outros sobre fermentações e isso, que só vocês é que percebem?

Achas que pode ter alguma piada contar uma anedota sobre a saccharomyces cerevisiae, ou sobre a brettanomyces? És um tipo estranho.

Já me tinham dito, e por falar nisso, outra ideia estranha: que tal passar a avaliar cervejas também pelo teor da ressaca. Querem pensar nisso?

Não, não queremos. Isto é um assunto sério, camandro.

Preferem um Woodstock, perdão… um Oktoberfest, em Munique, ou uma boa e simples esplanada aquecida algures na Bélgica?

Depende daquilo que pretendemos. Ver pessoas a vomitar e a mijar na rua enquanto se afogam em rios de cerveja de trigo? Oktoberfest, claro. Mas se calhar 9 em cada 10 vezes preferíamos fazer uma tour pela Bélgica e procurar os locais onde podemos beber directamente da fonte.

Vocês avaliam cerveja a partir de vários critérios. É verdade que quanto maior for a ressaca, menor é a qualidade?

Não será assim tão linear, mas a verdade é que não nos lembramos de ter tido uma ressaca depois de termos passado uma noite a beber cerveja de qualidade. Também é verdade que, num ambiente mais de festa em que estejamos a beber fino/imperial (sim, vamos manter as duas palavras para não haver chatices) da marca que houver, somos capazes de beber duas ou três cervejas no mesmo espaço de tempo em que bebemos uma cerveja, digamos, mais "complexa", num local adequado, como o Catraio (no Porto), o Kitten's (em Aveiro), ou a Cerveteca, o Lisbeer e a Zymology (em Lisboa).

Para terminar, uma espécie de insulto, que é mais ou menos como perguntar a um enólogo gourmet que vinho de pacote prefere, mas esta é obrigatória: Sagres ou Super Bock?

Oferecemos uma garrafa a quem conseguir distinguir as duas numa prova cega, especialmente às temperaturas a que costumam ser servidas.