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Tecnologia

Hackers Criaram um Gigantesco Simulador Espacial Dentro de um Trailer

É o melhor simulador com o espírito DIY que eu já vi.
Tim Reynolds é o agente tático. Todas as fotos por Victoria Turk/Motherboard

Enquanto nossa espaçonave balançava em algum lugar depois de Marte, eu freneticamente mexia em interruptores e apertava botões para controlar o reator nuclear à bordo, para assim evitar um blecaute na cabine e manter invasores alienígenas do lado de fora.

A tela à minha frente piscava, pedindo pelo código que levaria a mim e minha equipe de volta à segurança enquanto a nave toda tremia ao nosso redor. Folheei o manual do veículo e digitei o que achei ser a sequência correta. A porta atrás de mim se abriu, e um tentáculo vermelho disparou adentro. "Você morreu", estava escrito na tela.

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Ao passo em que jogos de realidade virtual muitas vezes são declarados como "imersivos", isto me mostrou que as experiências mais cativantes não precisam do uso de óculos. Eu estava no simulador espacial LHS Bikeshed, um trailer com jeitão sci-fi que leva a experiência de jogos imersivos a outro nível, tudo na base do faça-você-mesmo.

Diferente da realidade virtual, o jogo mostra a que veio fora da tela. Quando a nave balança, o carro inteiro balança de verdade. Quando você tem que ligar um cabo de emergência para salvar a nave, há a necessidade real de se levantar e ligar o cabo no local certo. Não é realidade virtual, é realidade de vida real mesmo – e isso fez deste o melhor simulador espacial em que já pisei.

O trailer no EMF

Vi o Bikeshed pela primeira vez no Electromagnetic Field Festival mês passado, então fui ao London Hackspace, onde geralmente ele fica, para dar uma voltinha essa semana.

O simulador está instalado em um trailer antigo, pintado de preto e decorado com fitas de segurança. No interior, três assentos – para um piloto, um engenheiro e um agente tático – próximos de monitores, joysticks e tudo que é tipo de botão. Praticamente tudo ali que parece fazer algo, pode crer que faz.

O game foi criado por frequentadores do Hackspace Tom Wyatt, Tim Reynolds e Charles Yarnold, que explicaram que o finalizaram há mais ou menos um ano, mas sempre estão adicionando novos elementos. "Não tínhamos exatamente um plano além de 'vamos construir uma nave'", disse Wyatt, enquanto Yarnold lembrava de ter pego o velho trailer em uma corrida de destruições.

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O cockpit, com Tom Wyatt de piloto, na esquerda

Dentro do trailer, uma enorme tela bem na frente mostra a visão da nave enquanto passa pelas estrelas e (com sorte) desvia de detritos para chegar a pontos de ancoragem no decorrer da missão. O piloto controla a nave com um joystick, um monte de interruptores e dispõe de uma tela com radar que Wyatt admite ter praticamente roubado do clássico game dos anos 80 Elite.

O agente tático dá início a missão ao entrar em contato com o tráfego aéreo – interpretado por Yarnold, que aparecia em outra tela no cockpit – e geralmente é quem mantém tudo rodando numa boa. O grande botão com os dizeres "Salto Hiperespacial" precisava ser apertado sempre que piscava em vermelho.

A estação do engenheiro

Fiz o papel de engenheira, que consistia em observar uma série de interruptores que precisavam ser acionados de acordo com sinais luminosos na tela acima deles, além de um kit de reparos de emergência e um manual da nave com trocentos códigos.

Estava tudo indo bem – passamos em diversos checkpoints, evitei um colapso em determinado momento – até precisar usar uma daquelas sequências de números. Alinhei meu decodificador e digitei os números que ali constavam – só pra descobrir então, que sorrateiramente, o manual exigia que o decodificador estivesse de cabeça pra baixo neste caso. Em meu surto de pânico, não havia percebido ter alinhado incorretamente A com B e B com A, o que resultou em game over.

O sucesso do jogo reside neste tipo de surpresa; você nunca sabe se quando terá que fazer algo na tela, prestar atenção a algum detalhe, ou levantar do seu assento e trocar uns cabos de lugar (era o que constava no kit de reparos).

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The success of the game is this kind of twist; you never know whether you're going to have to do something onscreen, focus on some small print, or jump out of your seat and plug a cable from one socket to another (that's what was in the repair kit).

Charles Yarnold na "câmara de compressão"

A experiência é criada com o que seja lá que for que os rapazes sonhem em adicionar. Há uma placa de cinto de segurança cortada à laser, uma máquina de fumaça que é ativada quando rolam danos e a coisa toda é transmitida ao vivo por câmeras em cada estação de trabalho.

O jogo funciona por outro jogador que fica escondido no fundo da cabine – a "câmara de compressão". Aqui, Yarnold controlava o jogo através de dois tablets Android. Quase todos os aspectos do script podem ser alterados, e quando sentei na cadeira do piloto, ele fez com que a aterrissagem fosse semiautomática pra mim, porque sou péssima com joysticks. "A não ser que você aperte o botão de "autodestruição", você pode vencer mesmo se eu for bem malvado", disse.

Não é preciso tanta ajuda pra morrer, porém, porque o jogo já é difícil normalmente. Como consta sua descrição no Twitter: "Um simulador espacial dentro de uma van. Todo mundo morre".

Em contraste com as fortes emoções dos jogos de realidade virtual, as partes mais cativantes disto aqui são as que dispõem de menos tecnologia. Quando toda a van balançava – algo que imaginei ser um dispositivo hidráulico deveras inteligente – era apenas Yarnold pulando pra cima e pra baixo. O "invasor alienígena" também era ele, pulando pra fora com um tentáculo vermelho inflável.

Futuramente, a equipe busca financiamento para expandir o jogo para um espaço ainda maior – uma estação espacial – que ofereceria uma experiência próxima às feitas pelo Secret Cinema. "Teríamos uma estação espacial completa e o trailer, e aí você poderia sair para uma missão no espaço", disse Yarnold. "Queremos uma câmara de êxtase com alguém congelado", adicionou Wyatt.

É um trabalho contínuo, e eles prometeram a mim que o jogo não seria o mesmo nem no próximo dia. "Será diferente amanhã", declarou Reynolds, adicionando que quarta-feira é "dia de trabalhar no trailer". Seu interior está em evolução constante, disse Wyatt – "Sempre seguindo um pensamento tipo 'Não seria legal se…?'"

Baseado no que vi até agora: sim, seria legal sim.

Tradução: Thiago "Índio" Silva