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Música

Discos: Atoms for Peace

Ah, os super-grupos.

Amok
XL Recordings
7/10 Ah, os super-grupos. O equivalente musical às crises de meia-idade que, por norma, não servem para mais do que um hype rápido quando a carreira assim o pede, e que quase inevitavelmente se transformam em meras notas de rodapé e breves menções num qualquer episódio do Behind the Music no VH1. Diz-nos o passado recente — e principalmente quando os seus membros têm passados mediáticos — que o resultado final é menor do que a soma das suas partes. Talvez por ser saltada a fase da luta darwiniana com que todas as outras bandas se deparam para ter sucesso numa fase inicial. Afinal de contas, há-de ser muito mais fácil recomeçar com os bolsos cheios e com uns discos de ouro na bagagem. Muitos destes super-grupos carregaram consigo desde o início um estigma do qual nunca se conseguiram (ou quiseram) libertar. A associação aos méritos já conquistados é demasiado confortável para ser largada e o que acaba por ser produzido torna-se uma verdadeira banhada. Os Velvet Revolver foram (são?) azeiteiros do rock mais genérico, os SuperHeavy vieram e foram mais depressa do que alguém conseguiu perguntar “Quem?”, e os Audioslave, lol, nem vou falar dos Audioslave. Exemplos bons, ou pelo menos aceitáveis, também existem, e por norma caracterizam-se pela capacidade que tiveram em criar uma identidade própria, tornando-se mais do que ‘o tipo de banda x e o tipo de banda y juntaram-se num só grupo’. Nesse sentido, podemos considerar que, por exemplo, os Them Crooked Vultures, os Fantômas ou os A Perfect Circle ainda foram capazes de fazer coisas giras. Posto isto, que pensar então de Amok, o primeiro álbum de estúdio do — lá está, super-grupo — formado por Thom Yorke, Flea, Nigel Godrich, Joey Waronker e Mauro Refosco? O facto de contar com os nomes dos dois primeiros colocava, à partida, uma pressão que poderia condicionar qualquer tipo de produto final na marca Atoms for Peace, e o facto de contrariar essa pressão com uma identidade muito definida é talvez o seu principal mérito: este é um disco coeso, com ritmos que são na sua maior parte entusiasmantes e repletos de vigor, qualidade suficiente para pensarmos que esta não é apenas uma tentativa rápida e genérica de capitalizar a fama dos intervenientes (afastando o tal estigma referido atrás) — estando repleto de bons momentos de electrónica ousada, com camadas que interagem na perfeição. No entanto, esta identidade acaba por traduzir a própria limitação do disco: Amok soa a um intermédio entre The King of Limbs e The Eraser — e com tudo de bom que isso implica, faz com que a tentação de lhe chamarmos um supergrupo possa ser enganadora, já que este parece talhado principalmente à medida e feitio de Thom Yorke, o indivíduo, e não por Thom Yorke & restantes membros, cada um com a sua contribuição. É como naqueles trabalhos escolares em que o grupo todo discute ideias ao lanche, mas no fim é o marrão que faz o trabalho todo enquanto os outros jogam Playstation. Amok vive neste paradigma: para além de uma tendência mais upbeat, com um vibe mais alegre, é difícil descortinar que tenha de facto havido uma influência dos outros membros que se tenha traduzido neste resultado final, onde a Yorke-centria faz com que o disco pareça algo rígido e estático em relação ao seu verdadeiro potencial colectivo, estando a comparação com Radiohead e o trabalho a solo do seu líder sempre à espreita.