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Foto: Santiago Pagnotta/Divulgação.

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Noisey

Pela primeira vez no Brasil, Pussy Riot ainda acredita no ativismo jovem: “Nós devemos ser maiores do que nossos medos”

Nadya Tolokonnikova falou rapidamente com a gente sobre influências musicais, feminismo e rir de si mesma.

Após oito anos de rostinhos bonitos, clipes distópicos e feminismo de guerrilha, o grupo Pussy Riot finalmente chega em São Paulo para o festival Garotas à Frente e lançar o livro Read and Riot, escrito por Nadya Tolokonnikova, umas das fundadoras do grupo.

O Pussy Riot ganhou atenção mundial após organizar um protesto improvisado em uma catedral de Moscou contra o presidente Vladimir Putin em 2012. A apresentação contra o Kremlin não durou muito tempo na catedral sem a intervenção de segurança parrudos tentando conter quatro jovens russas de balaclavas coloridas, mas a resposta foi severa. Três integrantes do grupo Maria Alyokhina, Yekaterina Samutsevich e Nadezhda Tolokonnikova foram sentenciadas pela justiça russa por “vandalismo motivado por ódio religioso” no mesmo ano e ficaram presas quase dois anos pelo protesto até receberem perdão de Putin em 2013 (altamente criticado pelas mesmas).

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Nadya Tolokonnikova. Foto: Sasha Sofeev/Divulgação.

Formado em 2011, o Pussy Riot se destacou principalmente através de manifestações em grande eventos mundiais como as Olimpíadas de Inverno em Soichi em 2014 e a invasão na final entre França e Croácia na Copa do Mundo em 2018, sediada em Moscou. Com a implacável perseguição do Kremlin, a banda acabou caindo nas graças de organizações de direitos humanos como a Anistia Internacional como uma espécie de representante da liberdade de expressão e ativismo feminista.

Claro que peitar o líder de uma das maiores (e doidas) nações do mundo trouxe consequências. Além das detenções, das agressões e precisarem evitar pisar em solo russo em 2018 o ativista Piotr Verzilov teve que ser levado às pressas a um hospital após ser envenenado na Rússia. Para Nadya que é casada com Piotr e mãe, o perigo não a intimida. “Prefiro não ficar obcecada na possibilidade de estar correndo perigo toda hora,” conta uma das fundadoras ao Noisey antes de aterrissar no Brasil. “Quando tomei a decisão de estar na Rússia e lutar pelos meus direitos, apenas aceitei como uma possível consequência que poderei ser presa, agredida ou morta. Nós precisamos ser maiores do que nossos medos.”

Musicalmente, apesar da banda ser classificada como punk rock pela imprensa musical, Nadya diz que o grupo sempre se considerou eletrônico. “A gente só pegou uns samples de bandas como Sham 69 para nossas músicas e gritamos nossas letras maravilhosas e terríveis em cima de tudo isso. Então, desde sempre nós somos artistas eletrônicos.” Ainda segundo a artista russa, não há estratégias ou planos quando se trata de lançar músicas, apenas diversão. “Nós rimos muito de nós mesmas,” diz.

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Ano passado, o grupo lançou o single “Bad Apples”. A faixa foi feita com o músico e produtor Dave Sitek, uma das inspirações musicais do grupo ao lado de Rammstein, Slipknot, IC3P3AK e Charli XCX.

Após se apresentarem na Argentina e elogiarem o movimento pró-aborto do país, Nadya diz que bota muita fé nas gerações jovens pelo mundo que desejam fazer diferença e lutar por direitos iguais e justiça social. "Acredito muito nisso. Eu viajo muito e já percebi que muita gente está de saco cheio com esse sistema antigo de distribuição. Mais do que isso, acredito também que os próprios eleitores do Trump estão cansados do que têm rolado, mas ainda não sacaram que eles possuem uma opção melhor."

Com a recente explosão do movimento feminista e a apropriação das pautas como slogans publicitários, Nadya também se mostra mais positiva ainda. "Não me mata por dentro saber que grandes corporações acham que o feminismo é algo legal. Pelo contrário, acho uma puta vitória que conseguimos deixar isso popular. Porém, como ativistas, nós devemos sempre andar para frente e sermos autoindulgentes. Precisamos sempre trabalhar nas coisas mais radicais."

Pussy Riot no festival Garotas à Frente
Evento: https://www.facebook.com/events/285488125446518/
Data: 20 de abril de 2019
Horário: a partir das 16 horas
Local: Fabrique Club
Endereço: Rua Barra Funda, 1071 (Barra Funda - SP)
Ingressos online: R$ 80,00 (1º lote - promocional e estudante), R$ 100,00 (2º lote - promocional e estudante)
https://pixelticket.com.br/eventos/3119/festival-garotas-a-frente-pussy-riot
Censura: 12 anos

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