A Fade In, é uma associação cultural que produz e promove concertos desde o início deste século e que, actualmente, tem entre mãos dois eventos principais: o Festival Monitor e o Entremuralhas, no castelo de Leiria, cidade onde está sediado este conjunto de militantes musicais. Podem encontrar-se movimentos nos sítios mais inesperados, mas as propostas sonoras desta pandilha são sempre arrojadas. A VICE Portugal quis saber mais sobre este Monitor, uma espécie de luz vertida sobre o lado mais obscuro da música, que acontece já este fim-de-semana.
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A sério que a ideia inicial era só sacar umas informações sobre o Festival, mas ao pedir um pequeno enquadramento, a conversa acabou numa viagem histórica sobre música. O ponto de partida da conversa foram os diversos géneros e subgéneros que se vão fazendo na música electrónica underground."Pela sua especificidade, há necessidade de criar intervalos, meter em gavetas, arrumar melhor de modo a que seja mais fácil encontrar", diz Carlos Matos, da Fade In, que partilhou connosco a sua visão pessoal de todo um movimento."O pós-punk surge, tal como o nome indica, depois do punk. Há uma série de bandas que deixa de fazer aquela sonoridade mais in your face, de três acordes e de contestação, e adoptam uma ideologia mais romântica, sorumbática, menos política, mais misteriosa, a falar de simbologias. Bandas como os Joy Division podem hoje chamar-se de pós-punk, mas não naquela altura, pois foram contemporâneos do movimento punk. O que se passou é que, anos mais tarde, houve a necessidade de olhar para trás e arranjar uma etiqueta para identificar que género de som era aquele", enquadra o porta-voz da associação cultural .E acrescenta: "Hoje, o pós-punk é feito com instrumentos orgânicos, caixa de ritmos ou bateria, normalmente com um baixo muito marcado, guitarra e voz, normalmente são três ou quatro elementos e a sonoridade resulta desses instrumentos. As influências são, de facto, das bandas que surgiram originalmente a seguir ao punk, como Killing Joke, The Cure dos primeiros anos, entre outros".
Pós-punk (e coldwave com shoegaze)
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"No fundo este pós-punk de agora é, por si, também um outro revivalismo que surgiu com bandas como os Editors, Interpol, She Wants Revenge - projectos mais populares e que atingiram o mainstream - mas o underground continua vivo com muitas bandas, algumas delas muito inventivas, que não se limitam a perpetuar o "mofo", mas que introduzem novos elementos. São esses grupos com que a Fade In, através do Monitor, quer trabalhar", explica Carlos Matos."Nesta edição temos duas bandas claramente pós-punk, mas dentro desse mesmo género, com dois estilos diferentes: os The Agnes Circle, com uma sonoridade mais nostálgica, guitarras dedilhadas, com delay, quase shoegaze que vai buscar influências aos Clan of Xymox, ou Cocteau Twins, no tempo em que estas duas bandas estavam na 4AD, uma editora muito importante em meados e finais dos anos 80 e também um bocado do género coldwave, de uma editora que havia em França, que era uma espécie de resposta à 4AD, a Lively Art, com bandas como os Asylum Party ou os Little Nemo", conta.E o produtor conclui: "Depois há um pós-punk mais vivaço, que é representado pelos Rendez-Vous, que são neste momento um fenómeno em França, têm feito primeiras partes dos M83 e dos Soft Moon, têm tocado com os Frustration e são uma banda que utiliza influências dos The Cure (mas mais nervosos) com caixa de ritmos"."Aqui há uns anos, o radialista António Sérgio, por exemplo, não utilizava o termo pós-punk, mas sim 'som da frente'. Na altura servia para tudo o que era novo, o que ainda não estava etiquetado nem massificado. Curioso como na altura se confundia o 'som da frente' com 'música de vanguarda'. O paradoxo é que, hoje, o termo 'vanguarda', dentro de um determinada circuito underground, já não identifica o que é novo, mas sim o que é o saudosismo do que era vanguarda nos anos 1980. Essa mesma vanguarda dessa altura, hoje pertence ao passado, naturalmente. A palavra 'vanguarda', embora signifique 'à frente', é utilizada por alguns como uma coisa do passado, é um anacronismo interessante", reflecte Matos.E acrescenta: "O António Sérgio foi muito feliz quando criou esse epíteto de etiquetar a música daquele 'hoje' como 'som da frente', uma música que, provavelmente, seria ouvida no 'amanhã' daquela altura. E, na verdade, com todos os anacronismos que daqui advêm, o festival Monitor é uma espécie de radar daquilo que a Fade In considera que são as bandas que merecem ser ouvidas neste momento. Se antigamente se ouviam ecos da bandas que faziam digressões europeias mas cá não chegava nada, ou só chegava muito tarde, hoje, com a Internet, é mais fácil. Andamos a monitorizá-las".
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