Juan Ignacio: Acho que foi no hacker news. A minha primeira compra no mercado foi de 200 euros, 20 bitcoins aproximadamente, em Maio de 2011, se bem me lembro. Não queria especular, só queria apoiar as Bitcoins como conceito sem si. E depois encontraste esse eBay da droga que se chama Silk Road, foi isso?
Sim, basicamente. Havia ali vendedores e compradores, cada um com a sua reputação e as suas opiniões. De facto, era bastante parecido ao Ebay mas no Silk Road podia fazer transacções sob anonimato, isto é, podias registar-te sem e-mail. O acesso era feito através do Tor, que é um browser que se utiliza para evitar a censura ou a espionagem de alguns países. Estou a ver que entraste de cabeça.
Claro, já tinha as minhas bitcoins e gastava-as para comprar cenas de tecnologia que precisava ou para ir ao mercado da droga. [Risos] Os meus tios dizem-me sempre que os jovens de hoje são os que mais se drogam mas também são os que pior o fazem. Sempre estive se acordo com isso, por isso, toca de melhorar isso. Lembras-te da tua primeira encomenda?
Sim, foi metanfetamina para o casamento de um amigo. Fui conservador, escolhi um vendedor espanhol, apesar de não ter boas críticas. A encomenda chegou num instante. Em 24 horas já a tinha em casa. O preço era o da rua, 40 euros mais ou menos. Quando o recebi a encomenda tive uma valente surpresa. O que era?
Veio um perfeitamente empacotado e em óptimas condições. O material chegou no dia do casamento e esqueci-me dela em casa da minha mãe, que foi a morada que dei para a entrega. Liguei à minha mãe e pedi-lhe que ma trouxesse. Não suspeitou de nada. O pacote vinha tão impecável que parecia inofensivo. Isto com um traficante normal jamais aconteceria. Parecia um daqueles preservativos grátis que oferecem nos festivais. Que nota deste aquele dealer?
Fui generoso. Dei-lhe cinco em cinco. Depois desta primeira experiência procurei níveis de pureza maior: 80 por cento, 90 por cento. Fizeste bem?
Muito bem. A qualidade melhorou bastante. Não sei, se calhar nunca estive nos sítios certos mas não tinha nada a ver com aquilo que costumava meter. A diferença nota-se sobretudo quando queres dormir. A que países é que pedias a droga?
Principalmente Bélgica, Holanda e Reino Unido. O mais fixe é que as encomendas vinham sempre no mesmo estilo: limpas e criativas. Lembro-me de um pedido disfarçado de comunicado da Universidade de Roterdão.Também havia um dealer que me enviava um baralho de cartas com o prémio escondido entre elas. Há um tipo que merece uma menção especial, o "solidário do haxixe". O "solidário de haxixe"?
Sim. Era um tipo que vendia haxixe nepalês e que garantia que o 50 por cento dos seus lucros iam para um orfanato da cidade onde produziam o material. O tipo punha a cena dentro de uma bolsinha, já de si bastante segura (cães e raios-x não chegavam lá) e punha-a numa caixa de dvds de um filme com autocolantes com preço e tudo. Também havia compradores de países difíceis para este tipo de importação de drogas, tipo Austrália, que recebiam a embalagem depois de ter sido inspecionada nas fronteiras. Imagino que nesses casos fosse mais difícil. Uma das coisas que percebi com o Silk Road é que o haxixe de Espanha é bom e barato. E a coca?
A coca parece estagnada desde os anos 90. Qualquer coisa que se aproximasse dos 50/60 euros por grama já dava a ideia de que era placebo. Encontrei um tipo que me trazia a cena directamente do Perú ou da Bolívia. Contou-me o processo todo. Se vais a esses países não é muito fácil que consigas cena pura, mas ele tinha pequenas encomendas e só vendia a malta que fazia mais de 20 compras. No momento em que eu fiz a minha 20.ª compra, o gajo foi apanhado pelo admin do silk road e fecharam-lhe a conta. O que mais me custou foi perder essas encomendas. Os tipos que me enviavam esta farinha tinham como nick ItalianBrusselsMafia. Como é que apanharam o criador do Silk Road?
Com um erro infantil. Utilizou o mesmo nick no dia em que lançou o site e quando procurou por malta que desenvolvesse o site para uma loja virtual. No segundo caso também lá estava o nome real. A relação foi simples, e se a isso somares que não se escondia e que vivia em San Francisco… um erro humano, portanto. Normalmente costumam fazer asneira com a segurança e não com essas coisas. Ainda compraste mais alguma coisa antes que fechassem a loja? MD?
Sim, ainda saquei MD mas não fez grande efeito. O que sobrou está com um colega meu. Talvez um dia destes volte à carga. Tinhas ofertas do tipo: "se levares três só pagas dois"?
Uma vez comprei quatro gramas ao preço de três e ainda recebi duas pastilhas de borla. No Verão passado comprei em saldo várias vezes. No Primavera Sound do Porto passámos o tempo todo na maior. Três días completos, sempre a abrir. Consegues fazer-nos um balanço de tudo o que compraste?
Humm, talvez tenha comprado metanfetaminas umas dez vezes. Coca umas cinco vezes. Haxixe uma vez. MD uma vez também. Não se se isto é importante mas investi 200 euros e neste momento sobram-me três bitcoins, que agora valem 1500 euros. Wow.
É a vantagem de seres um pioneiro. Saquei 20 bitcoins a 200 euros e na segunda inflação (neste momento vamos na terceira) passaram a ser 3 mil ou 4 mil euros. Se quisesse especular ainda conseguia que esses 20 bitcoins pudessem ser 18 mil euros. Impecável. Aposto que estás a cutir bastante. Deves estar à espera que abram outro eBay de drogas.
Sim, o fórum oficial do Silk Road continua a funcionar, por isso é provável que dali saia alguma coisa. Enquanto isso não acontece, tenho um dealer que é meu amigo. Simples.