Sempre que ouço falar do declínio americano lembro-me logo de um
artigo que li há uns anos sobre o criador do Chat Roullette, um gajo que imigrou para os EUA porque na Rússia ninguém, nem mesmo a família, lhe dava o valor que ele merecia. Por mais que os EUA sejam uma sombra do império que foram, por mais que a China e a Rússia lhes roubem protagonismo, ainda continuam a existir dissidentes que fogem dessas potências semi-totalitárias à procura do sonho americano de liberdade, felicidade e do direito constitucionalmente garantido de deixar o pessoal mostrar a pila a pessoas aleatórias na Internet. Mas, apesar da Rússia ainda não valorizar tanto os seus geeks como o pessoal de Silicon Valley, a verdade é que, por não ter as mesma leis draconianas de direitos de autor, tornou-se o ambiente ideal para o surgimento do Vkontakte, provavelmente a melhor rede social de sempre.
Já aqui falámos de como o Hi5 agora serve para jogar cópias de jogos que a Zynga desenvolveu para o Facebook, mas existem muito mais versões rasca ou pelo menos inspiradas na rede que aqueles gémeos betos inventaram e que o Zuck roubou. Desde o Faceglória (para crentes no senhor) até ao JuggaloBook (para fãs da poesia violenta dos ICP), passando pelo Fuckbook (que não precisa de qualquer descrição). A China e a Rússia, também têm os seus Facebooks da ladra: na China há o RenRen, que obedece às regras de censura governamental, mas o Vkontakte russo é um poço de liberdade. Quer dizer, acho eu. Aquilo do registo por SMS deixou-me meio paranóico. O que o torna tão fixe é o seu serviço que permite o streaming de vídeo e música com alta qualidade.
Será que o KGB (ou FSB) anda a ouvir as minhas chamadas, agora?
Olhem só para este printscreen do Bicentennial Man, baseado no conto do russo-americano Isaac Asimov.
Isto é melhor que ver filmes no YouTube, onde as longas metragens aparecem cortadas em seis ou mais partes que podem desaparecer de um dia para o outro por causa dos direitos de autor. Talvez o plano da Rússia já não seja superar os EUA, mas sim roubar as ideias e permitir-nos ver, sem pagar, conteúdos para deitar Hollywood abaixo.
Ao que parece, os russos adoram country chauvinista.
Actualmente é mesmo [a rede mais visitada nos países da ex-União Soviética]( http://russian.lingualift.com/blog/russian-facebook-rival/ Actualmente ), mas, resolvidos os problemas de spam e phishing, seria bom que o Vkontakte se expandisse para o resto do mundo. Claro que já há produtores russos e, mais uma vez, a RIAA, à procura de mandar isto com os porcos, por isso é aproveitar enquanto se pode. Com isto do Megaupload e com o pessoal cada vez mais em cima do Pirate Bay, é provável que este oásis não dure muito mais. No que toca à mudança de paradigma em relação às outras redes sociais, isto lembra-me aquilo que o Malcom Gladwell disse sobre como por vezes o melhor é ser o terceiro a pegar numa tecnologia nova, em vez dos mais evidentes primeiro ou segundo lugares. Outro exemplo: a URSS foi a primeira a pensar na aplicação militar da tecnologia digital e os EUA foram os primeiros a criar armamento com base nesses conceitos, mas… foi Israel que fez uso disso tudo na guerra contra o Líbano. Não inventaram nada, pegaram nas ideias que já existiam e tornaram-nas melhores.
O Vkontakte copia os modelos de outras, mas tem potencial para ser muito melhor, só pelo facto de nos permitir ver e ouvir livremente qualquer filme ou música que queiramos. Só lhes peço que apaguem todos estes perfis falsos do Cristiano Ronaldo. Só quero ser amigo do verdadeiro!
Isto, no entanto, não me fez perder a fé na minha crença de que o declínio americano está longe. Para mim vai tudo acabar como no 2010: The Year that We Made Contact, ou seja, com os russos a pedir ajuda aos americanos para visitar uma nave fantasma perdida na órbita de uma lua de Júpiter. Depois aparece um novo sol no nosso sistema solar e teremos paz no mundo para sempre. Pelo menos era assim que acabava o último filme que vi no Vkontakte.
Publicidade