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Música

Do estrangeiro para o Serralves em Festa (pela primeira vez)

Quem é que precisa de lama quando tem Serralves?

Estou no Porto há poucos dias (comecei o meu estágio na VICE apenas na sexta-feira) e nunca tinha ido a Serralves, por isso não sabia muito bem o que esperar. Tinham-me vendido o Serralves em Festa como o grande acontecimento cultural da cidade, apesar do

Primavera Sound estar aí à porta, mas ninguém me contou que seria uma cena tão familiar. Não que isso seja mau, só não estava à espera da mistura. Ou da chuva. Pedro Coquenão a acariciar instrumentos antes do concerto Os MCs de Batida a serem MCs. Os Deuses devem estar loucos! Alto filme, já agora. Quem esteve no Serralves em Festa no sábado sabe do que estou a falar. Nesse dia choveu muito, mas nada que impedisse o pessoal de passar bons momentos (estamos em 2012, mas ainda não dá para controlar a meteorologia, por isso trabalha-se com o que se tem). Para todos os efeitos, o concerto de Batida correu muito bem. O Prado estava cheio e, apesar da chuva miudinha que caía por volta da meia noite, o pessoal presente fartou-se de dançar ao som dos decibéis luso-africanos do projecto do Pedro Coquenão. Dizer que foi apenas um concerto seria um insulto. Todos os detalhes, desde a projecção de vídeos ao guarda-roupa (a banda ia trocando de roupa, em palco, por entre canções), passando por pormenores como as missangas a decorar os suportes de material ou os bidões que serviam de filtro para as luzes, fizeram desta actuação um concerto memorável. Foi mesmo altamente e, como se isto não chegasse, o pessoal de Batida, que eu não conhecia, é mesmo boa onda. No domingo estive a vaguear pelo labirinto, tipo Alice no País das Maravilhas, de Serralves. Fui recebida por uns macacos dançantes e uns estrunfes gigantes. Um contexto meio estranho. Mais estranho só aquele sol de dia preguiçoso. Fui esmagada pelos guarda-sóis e mochilas dos visitantes. Foi, como se diz em Portugal, do oito ao oitenta. A chuva chata deu lugar a um sol lindo e o pessoal (de todas as idades, não me canso de sublinhar) ocupou todos os espaços possíveis, como vingança pelas oportunidades roubadas do dia anterior. A recordação dos festivais ingleses a que estou habituada — eu atolada em lama durante vários dias, a apanhar chuva madrugada dentro — foi apagada de imediato. Os sons fofinhos de Stereoboy (projecto do Luís Salgado, acompanhado pelo Joãozinho e pela Íris) arrancaram por volta das duas da tarde, motivando uns “ohhh, que voz tão doce!” do pessoal presente. A culpa é da Íris que, e já agora ficam a saber este trivia, só tinha dormido duas horas na noite anterior, o que explica o facto de ela ter passado grande parte do dia esticada no relvado. Só com duas horas de sono, ninguém diria. Quem é que se consegue encontrar nesta foto? Eu não. Por esta altura, a hipsterlhada já tinha sacado dos seus óculos de sol e os beats da Capicua começaram a abafar o ruído das conversas. O sol batia com força, a cerveja estava na temperatura certa e a letra de "Medo do Medo", que mergulha na fragilidade da consciência humana (contaram-me), serviram como um bom contraste para o ambiente despreocupado daquela tarde de domingo. Foi tranquilo, mas foi uma festa e, como em todas as festas, até teve direito a coro do público para acompanhar. A Capicua é que não parou quieta em palco, por isso tive alguma dificuldade em tirar-lhe uns retratos melhores do que estes aqui em baixo. E depois ainda houve o crowdsurfing do concerto dos Throes + Shine, um concerto cheio de energia que levantou a terra batida junto ao palco. Wu-Tang is for the children, e Capicua também. Enfim, começo a duvidar do glamour das barracas e da chuva dos festivais ingleses. Sou capaz de trocar os jardins de Serralves pela lama do Glastonbury. Todos os dias da semana, nem que seja só uma vez por ano.

Podia dizer "mais, só para o ano", mas ainda vamos publicar uns vídeos deste fim-de-semana, por isso fiquem atentos.