O condrito Buzzard Coulee caiu no Canadá em 2008. Crédito: Scratch
Milhares de anos após chafurdar na água qual porcos enlameados, chegou a hora de encarar a real: estamos fazendo isso errado — faz tempo. E, no momento, a distopia mais próxima a nós não é do Waterworld com o Kevin Costner encharcado, mas, sim, a do Mad Max com o Mel Gibson cuspindo poeira. Curioso observar, no entanto, que esse futuro plausível tem origens em um passado mais remoto e distante que nosso sol já que pesquisadores afirmam que a água do planeta chegou aqui numa encomenda cósmica."A Terra é muito pequena para fixar gases durante seu crescimento. Assim, para a Terra incorporar coisas voláteis como a água, elas tinham de estar presente em gelo, argila, minerais, etc. A região onde a Terra se formou é muito quente para que água e gelo estejam estáveis, então a água deveria estar no estado gasoso. Por isso acreditamos que a água do nosso planeta tenha sido entregue por corpos gelados como cometas ou corpos argilosos", explicou o professor Conel Alexander, da Instituição Carnegie para Ciência, nos Estados Unidos, em uma troca de e-mails.O cientista e sua equipe são responsáveis por um estudo recentemente publicado na revista Science sobre a origem da água na Terra. Uma vez que ela não poderia ter sido feita aqui em casa, restava saber qual fora seu criadouro espacial. O cientista se voltou aos condritos, corpos formados durante a juventude do Sol. "A água tem um papel fundamental na alteração desses asteroides que orbitam o sol entre Marte e Júpiter. Quando os condritos se formaram, era frio o bastante para que alguns asteroides fossem compostos por gelo", explica Conel.Segundo ele, a água é produzida constantemente no universo graças a reações químicas, radiações cósmicas e elevada presença de hidrogênio e oxigênio. O conhecido H₂O, no entanto, pode se apresentar com moléculas de deutério. A chamada "água pesada" tem um isótopo — hidrogênio com um nêutron a mais — que revela detalhes da sua geração. Um índice elevado de deutério formando moléculas de água dificilmente seria produzido nas regiões internas do sistema solar, segundo o cientista.Com isso em mãos, Conel e sua equipe criaram um modelo que reproduzisse a geração de moléculas no nosso sistema, concluindo que ele não poderia ter produzido taxas de deutério similares a que encontramos em asteroides e no oceano. "Nossas descobertas mostraram que uma fração significante da água do nosso Sistema Solar é mais velha que o sol, o que prova que o abundante e rico gelo interestelar poderia ser encontrado em vários jovens sistemas planetário," disse Conel em um anúncio oficial.A data exata da entrega dessa água aqui na Terra ainda não é conhecida, de acordo com o pesquisador. "Há evidências produzidas a partir de grãos de zircão que a Terra tinha oceanos há no mínimo 4,4 milhões de anos, mas ela pode ter chegado aqui muito antes disso", explica Conel.Pesquisadores brasileiros também tinham comprovado, no início de 2014, que a água na Terra tinha origens remotas. "A maior parte veio dos asteroides, que deram uma contribuição de mais de 50%", afirmou Othon Winter, cientista do Grupo de Dinâmica Orbital & Planetologia da Unesp de Guaratinguetá, em entrevista à Agência FAPESP. Em seu trabalho, feito em parceria com a NASA, o pesquisador também fez uso de modelos computacionais para estimar a origem e a idade da água que primeiro aterrissou por aqui.O estudo feito em parceria com a NASA enfraqueceu ainda mais a ideia de cometas entregando água ao planeta, hipótese que tinha recebido muito apoio até o início desse século. "Pelas simulações, a contribuição dos cometas no fornecimento de água para a Terra seria de, no máximo, 30%", disse ele à publicação. "Os cometas e os asteroides preservam informações sobre como era o Sistema Solar durante seu estágio de formação."E quem não tiver muito interesse em pesquisa não deve descartar as missões a esses corpos porque, segundo o professr Conan, eles podem ser um plano B para a escassez de água aqui na Terra — caso tenhamos falhado indiscutivelmente enquanto espécie. "É possível. Cometas são relativamente raros e geralmente se movem bem rápido, então é difícil de pegá-los. Asteroides e luas de gelo, como as luas de Júpiter e Saturno, são melhores alvos para isso."
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