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Comida

Eu Como Comida do Chão e Tenho Orgulho Disso

Lembra quando você era uma criança, e a “regra dos cinco segundos” decretava que um pedaço de comida que cai no chão pode ser pego e comido dentro de cinco segundos antes que os germes se transfiram para ele?

Jantar chique na minha casa. Em geral, não usamos pratos. Foto por Chris Bethell.

A “regra dos cinco segundos” – esse mantra tácito, quase sempre gritado por uma criança de olhos esbugalhados enquanto pega um salgadinho do chão e enfia na boca – decreta que um pedaço de comida que cai no chão pode ser pego e comido dentro de cinco segundos antes que os germes sejam transferidos para ele. Recentemente, essa regra provou ter algum fundamento científico. De acordo com um novo estudo da Universidade Aston em Birmingham, as crianças estão certas. Claro que estão.

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Esse estudo, comandado pelo professor de microbiologia Anthony Hilton e uma equipe de estudante de biologia do último ano, observou a transferência de E. coli e estafilococo-dourado (que causa gastroenterite estafilocócica) de um variedade de pisos – laminado, azulejo, carpete – e uma variedade de alimentos – presunto, frutas secas, torrada, biscoito, macarrão, pudim. Eles testaram cada alimento em cada uma das superfícies, variando o contato entre 3 e 30 segundos. Eles descobriram que não só o tempo é um fator significativo na transferência de bactérias do chão para um pedaço de alimento, mas que também depende do tipo de chão onde a comida cai. Acontece que o carpete é a superfície menos provável para a transferência de bichinhos, mas se qualquer coisa fica num piso de madeira por mais de cinco segundo, certeza que alguma coisa vai subir nela. E se você derrubar algum alimento úmido no chão e pegar? Os pesquisadores descobriram que é hora de você repensar seriamente em sua vida, colega.

Eles também descobriram que, dos 87% de entrevistados para a pesquisa que disseram comer comida do chão, 55% são mulheres. Eu, com muito orgulho, sou uma dessas mulheres. Não vou dar o dedo do meio para a ciência – já fiz isso uma vez, quando larguei o curso de medicina – mas comi comida do chão e de outras superfícies questionáveis a minha vida inteira. E até onde eu sei, nunca fiquei doente por causa disso.

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Comer coisas do chão é um pré-requisito quando se é criança, mas, quando adolescente, continuei aplicando a mesma atitude laissez-faire para as superfícies de onde eu recolhia minha comida, principalmente quando trabalhei como garçonete nos restaurantes chiques da minha cidade natal (Bishop's Storford, já que você perguntou). Ali, eu e meus amigos nos alimentávamos alegremente de terrines meio comidos, goujons de arinca defumado, batatas fritas, panna cottas e restinhos de creme inglês parcialmente congelado dos pratos das pessoas antes de colocá-los para lavar. Era uma delícia. Se um cliente derrubava seu pão amanteigado no chão, você acha que a gente ia jogar no lixo ou esconder no avental para comer depois? Lógico que a segunda opção.

Aqueles anos foram, sem dúvida, alguns dos melhores de minha vida e carrego o mesmo mantra antidesperdício até hoje: não posso – não vou – desperdiçar. Desperdiçamos comida demais. Se estou cozinhando e alguma coisa cai da panela, essa coisa vai voltar para a panela. Se estou passeando por Westfield, comendo sushi de um potinho e derrubo um pedacinho disso no chão? Ainda vou colocar na boca. Não consigo olhar para uma coisa pela qual paguei caída lá, patética. Talvez seja algo meio patológico, mas e daí? Mesmo que eu não vá sair por aí comendo pão velho deixado num banco de praça como uma pomba, eu vivo pela regra dos muitos segundos.

A razão por trás dessa regra é bem simples: eu acredito no corpo humano. Alguém tem que acreditar. Essas grandes cascas de carne onde nascemos devem ser capazes de rechaçar as bactérias potencialmente prejudiciais de que Hilton e sua equipe falaram, ou, claro, muitos de nós ficariam doentes o tempo todo, não? Colocando eu e meus amigos igualmente nojentos de lado – tenho uma amiga que põe a metade de um sanduíche direto no chão, qualquer chão, enquanto come a outra metade – claro, quando você considera quantas bactérias devem existir em toda superfície que tocamos (máquinas de débito, teclados, telefones, canecas, corrimãos, botões de elevador, torneiras, impressoras, secadores de mão), que depois se transferem para nossa comida sem nem sabermos, todos os dias, então, comer alguma coisa que caiu no chão por mais de cinco segundos, realmente deveria fazer a gente se cagar de medo, quando poderíamos deixar para fazer isso depois? Acho que não.

Você não está mais seguro comendo de um prato que tirou do armário da cozinha do escritório; pelo que a gente sabe, alguém pode ter tocado aquela pilha inteira de pratos com as mãos sujas de resquícios de cocô de cachorro, porque essa pessoa tirou os sapatos mais cedo seja lá por qual razão. Está vendo? Esse tipo de pensamento só gera paranoia. Não bactérias. Muita gente vive exposta a coisas bem mais terríveis e seus corpos lidam com isso. Então, vou ignorar a ciência e continuar comendo minha comida do chão como se fosse um animal. Mesmo se for pudim.

@eleanormorgan