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Identificar os Genes “Criminosos” não Vai Impedir a Violência, mas Pode Ajudar a Explicá-la

Um estudo finlandês ajudou a estabelecer uma ligação entre dois genes (MAOA e CDH) e crimes violentos que são particularmente selvagens.

Os sujeitos de um novo estudo finlandês que ajudou a estabelecer uma ligação entre dois genes e crimes violentos que são particularmente selvagens. O grupo de 78 prisioneiros cometeu mais de 1.500 ofensas brutais na paisagem criminal: assassinato, homicídio, tentativa de homicídio e agressão, de acordo com o estudo publicado na Nature no final do mês passado. Eles compartilhavam variações de dois genes: MAOA (monoamina oxidase, também conhecida como o "gene guerreiro") e CDH13. Basicamente, se a combinação desses dois genes foi ruim para os sujeitos do estudo, foi ainda pior para as vítimas deles.

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"Nenhum sinal substancial foi observado, nem para a MAOA ou o CDH13, entre criminosos não violentos, indicando que essas descobertas são específicas de criminosos violentos", escreveu o autor. Os 78 prisioneiros mais agressivos eram parte de um grupo maior de estudo, mas representaram a conexão mais concreta entre os dois genes e crimes hediondos.

A MAOA metaboliza dopamina, aquele hormônio maravilhoso que atravessa nosso corpo quando acendemos um cigarro ou tomamos um gole de bebida. Os criminosos mais violentos do estudo – aqueles 78 – tinham grandes explosões de dopamina quando álcool, cocaína ou outras drogas eram introduzidos em seus sistemas. Esses sujeitos também tinham uma quantidade maior de "atividade dopaminérgica" do que uma pessoa normal, mesmo sem a adição de drogas, o que pode levar a comportamento agressivo. Enquanto isso, o CDH13 – para evitar uma linguagem muito específica – é um gene que afeta interruptores no cérebro mais frequentemente associados a transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.

Os dois genes são "bastante comuns" – me disse, por e-mail, um dos autores do estudo, Jari Tiihonen – e podem ser encontrados em 20% da população. E mesmo que a combinação MAOA e CDH13 represente para seu portador um "risco 13 vezes maior, comparado ao genótipo 'usual'", de que ele venha a cometer crimes violentos, a maioria das pessoas com o combo de genes não vai sair por aí trucidando famílias. Apesar da fascinação geral por histórias de crime, incidentes violentos são relativamente baixos em países desenvolvidos. Nos EUA, a taxa de crimes vem caindo de maneira constante nos últimos anos. Por exemplo, foram cometidos 5,4% menos crimes violentos nos primeiros seis meses de 2013 se comparado ao mesmo período de 2012, de acordo com o FBI.

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A especulação corre solta sobre o motivo da queda nos crimes. Desde sentenças de prisão mais pesadas a porte de armas por civis são citados como razões para a tendência. Mas, como a própria justificativa para cometer crimes, a resposta real é muito mais complexa. E, provavelmente, podemos dizer que é muito mais complicada do que a ciência por trás do estudo de Tiihonen.

"Esse não é um sistema em que todo mundo que tem um certo gene é violento", afirmou Lawrence Kobilinsky, professor do departamento de ciência forense do John Jay College of Criminal Justice, em Nova York.

Qualquer pessoa com um conhecimento mínimo de criminologia sabe que, começando com o aumento da urbanização na Revolução Industrial, as causas do crime são muitas e variadas. Condições de vida, acesso a serviços básicos, renda, educação e moradia têm papéis importantes. Além desses fatores e dos dois genes de Tiihonen, temos a influência esmagadora do ambiente – o cérebro tem alguma coisa a ver com isso, mas o quarteirão onde você mora também tem.

"Me parece que o ambiente tem um papel tão importante quanto, se não mais, a genética", defendeu Kobilinsky. "Mesmo que a pessoa tenha genes que predispõem a certos comportamentos, há muitos outros fatores que entram nisso, e não sabemos até que ponto."

Como em todas as coisas, a maioria das pesquisas em ciência genética tem a ver com dinheiro. Há lucros óbvios em se identificar genes que levam ao câncer, doenças cardíacas ou outras condições que diminuem a expectativa de vida. Mas o campo da pesquisa dos genes comportamentais é mais dependente da curiosidade fora dos laços do Capitalismo. Há décadas, os cientistas vêm trabalhando para identificar genes associados a certos comportamentos (autismo e DDA, por exemplo) e até à orientação sexual. Mas, como em todas as coisas feitas por humanos, o hardware dentro das nossas cabeças é só parte da equação. Uma pessoa com os genes identificados no estudo finlandês pode ser mais inclinada a cometer um assassinato brutal, mas é menos provável que ela faça isso se não tiver passado por várias experiências traumáticas ou se houver sido criada num bairro violento e miserável.

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Na verdade, frisou Kobilinsky, algumas pessoas nascem com o gene guerreiro, e outras fazem coisas violentas por si mesmas.

"Se você está em Wall Street, você precisa ter um comportamento violento para ter sucesso", ele me disse. "Mas não é porque tem certo gene, que você vai ter um comportamento violento."

A crueldade mostrada por aqueles que jogam com quantidades absurdas de dinheiro não é diferente da dos criminosos de rua, que decidem ser mais fácil acabar com um competidor do que fazer um acordo com ele. Novamente, isso depende da perspectiva e do ambiente. Fazer dinheiro é bom. Fazer dinheiro matando pessoas é ruim.

De acordo com Kobilinsky, demonstram isso estudos gêmeos nos quais duas pessoas com genéticas iguais, mas vindas de ambientes diferentes, não tomam decisões iguais. Na analogia dele, o banqueiro de Wall Street com deficiência de dopamina – como a encontrada nos sujeitos do estudo finlandês – tomaria decisões mais aceitáveis pela sociedade do que seu gêmeo do gueto, onde a maioria concordaria que as regras são diferentes.

Para aqueles equipados com genes associados à violência, a identificação pode ser mais útil no final do aparato da justiça criminal do que no começo. A menos que adotemos a prática de colocar de quarentena qualquer um com esses genes, trancando-os em quartos acolchoados para garantir que eles não matem ninguém ou derrubem a economia com práticas especulativas desastrosas, os resultados do estudo são apenas mais uma peça do quebra-cabeça.

"Acho que isso vai tomar o seguinte rumo: quando alguém cometer um crime, eles podem usar isso como um atenuante na sentença", apontou Kobilinsky. "Não é culpa da pessoa se ela tem uma predisposição genética para a violência."

Se um advogado de defesa do Texas pode citar "gripe" como razão para um garoto rico ter enchido a cara, atropelado e matado quatro pessoas, é lógico acreditar que a ciência, em adição ao ambiente, pode explicar por que alguns crimes acontecem.

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Tradução: Marina Schnoor