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Vida

Trocar Londres por Lisboa

A combinação entre custo de vida razoável, ambiente criativo em crescimento e clima ameno, faz de Lisboa uma opção muito atractiva. Há muitos portugueses a regressar e ingleses a vir.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma i-D.

À medida que a capital inglesa tenta assimilar mais cinco anos de um governo conservador, a cidade dos jovens artistas está, lentamente, a fazer com que estes paguem o preço da gentrificação. Para além de fazer as malas e deixar a chamada bolha criativa do país, andam também à procura de oportunidades fora da cidade cinzenta.

Uma dessas oportunidades é Lisboa. A combinação entre custo de vida razoável, ambiente criativo em crescimento e clima ameno, torna a capital portuguesa numa opção muito atractiva e para além dos ingleses, há muitos portugueses que querem regressar. Abaixo falamos algumas destas pessoas.

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Ronan McKenzie, 20, fotógrafa

i-D: Porque é que decidiste deixar Londres?
Ronan McKenzie: Vivi em Londres toda a minha vida e penso que está na hora de uma mudança. Como decidi não entrar na universidade, percebi que devia aproveitar cada oportunidade que me aparecesse no caminho e surgiu esta possibilidade de mudar-me para Lisboa. Por isso pensei: "Porque não?".

Do que é que vais ter mais saudades?
Adoro Londres, é a minha casa e é o único sítio que conheço realmente. Vou ter saudades dos turistas e das suas mochilas, de comprar cinco tomates, duas cebolas, pimentos e grão de bico por apenas 1 libra na mercearia Indiana da minha rua." Vou ter saudades da enorme diversidade cultural que existe em Londres. Porquê Lisboa?
Lisboa tem tantas coisas que Londres não tem. Tem um clima espectacular, um ambiente calmo e relaxado e, nos dias de sol, podes sempre aproveitar os espaços ao ar livre, porque não estão cheios de homens de meia idade, com a cara vermelha.


Vê: "Relocate: Lisboa - Parte 1"


Se os jovens londrinos não estivessem a atravessar esta situação política e financeira, ficarias?
Acho que agarraria igualmente esta oportunidade. Também não ajuda que aqui tudo seja incrivelmente caro e que grande parte das pessoas julguem que, ainda assim, podemos trabalhar de borla. Embora muita gente pense dessa forma, eu acho que não foi apenas pelos conservadores que chegámos a este ponto, mas sim por questões de estratégia política. Não importa quem está no poder. Como é que se muda esta situação?
Para começar, o salário mínimo deveria ser suficiente para viver em Londres. Comecei a trabalhar aos 16 anos numa sapataria em Westfield e ganhava apenas seis euros à hora. Ok, eu entendo, tinha 16 anos, mas estava a trabalhar, estava a dedicar o meu tempo e o meu esforço a um serviço. Depois, quando fui trabalhar para uma loja de roupa no centro de Londres, ganhava 10,5 euros por hora, a full time. Depois dos descontos sobravam-me 1.545 euros. Quase toda a gente que conheço e que trabalha em Londres - em todo o tipo de empregos -, fá-lo para pagar a renda e pouco mais. É difícil aproveitar a vida ou dedicares-te aos projectos que realmente nos interessam. O que esperas de Lisboa?
Quero fazer o mesmo que faço aqui, quero continuar a explorar a fotografia. E, claro, experimentar viver num país diferente. Também espero aprender português. A ideia é vir bastante a Londres, vou andar entre cá e lá, por isso espero que o meu trabalho também consiga adaptar-se a essa transição. Qual é a melhor parte de ser jovem em 2015?
Na maioria dos casos, temos liberdade para fazer o que queremos. Podemos viajar para diferentes países com bastante facilidade e quase não existem obstáculos. Podemos ser quem quisermos ser.

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Bruno Deodato, 24, músico

i-D: Porque é que decidiste deixar Londres?
Bruno Deodato: Portugal é o meu país natal e sinto que tenho que mudar-me para onde me sinta confortável em diversos aspectos básicos da vida quotidiana. Foram quatro anos formidáveis, mas está na hora de mudar. Do que é que vais ter mais saudades?
Vou sentir falta do lado cultural de Londres. Porquê Lisboa?
Eu sou do Porto e não queria voltar para a cidade onde cresci, por isso Lisboa pareceu-me uma opção bastante óbvia, uma cidade nova, uma vida nova. É isso que espero. Se os jovens londrinos não estivessem a atravessar esta situação política e financeira, ficarias?
Acho que não, esta é uma decisão pessoal, que não tem a ver com os problemas políticos ou económicos que Londres atravessa, embora, de certa forma, tenha influenciado a minha escolha.


Vê: "Relocate: Lisboa - Parte 2"


Como é que se muda esta situação?
Acho que sempre foi assim, especialmente no "mundo artístico". Nas grandes cidades levas muita porrada. O importante é mantermo-nos unidos. O que esperas de Lisboa?
O mesmo que esperava de Londres: continuar a trabalhar nas minhas coisas e naquilo em que acredito. Qual é a melhor parte de ser jovem em 2015?
Temos mais noção do que se passa à nossa volta e as opções são ilimitadas.

Diogo Rodrigues, 24, Escultor/tatuador/ilustrator

i-D: Porque é que decidiste deixar Londres?
Diogo Rodrigues: Mudei-me para Londres há três anos. Trabalhei numa loja durante dois anos, até não aguentar mais. E, nessa altura, decidi começar a trabalhar nos meus projectos. Consegui sobreviver durante alguns meses, sem um trabalho decente, mas é muito complicado viver aqui. Por isso, porque é que não continuo a fazer o que faço, por menos dinheiro? Do que é que vais ter mais saudades?
Tenho imensos amigos em Londres e vou ter muitas saudades deles. Porquê Lisboa?
Em primeiro lugar, sou português e sempre adorei Lisboa. O ambiente é espectacular e as pessoas são altamente. Durante o ano passado, cada vez que ia a Portugal e visitava Lisboa, sentia que gostava mais de lá estar. Além disso, há uma nova "cena" artística a acontecer na cidade. Se os jovens londrinos não estivessem a atravessar esta situação política e financeira, ficarias?
Se as rendas e o custo de vida não fossem tão altos, seria bastante mais difícil deixar a cidade, mas Lisboa tem o ambiente perfeito para jovens criativos. Tinha uma boa casa em Londres e uma vida bastante feliz, até perceber que podia estar a fazer as mesmas coisas numa cidade solarenga, e poupar várias centenas de euros todos os meses.

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Como é que se muda esta situação?
Londres já não é um polo atractivo para os jovens criativos. É difícil encontrar um estágio e, quando o encontras, tornas-te no escravo de alguém e com contas para pagar. É difícil sair do ciclo de trabalhos de café/loja de roupa/bar, para começares o teu próprio projecto. E é ainda mais complicado entrar no círculo criativo sem conhecer as pessoas certas. O que esperas de Lisboa?
Continuar a trabalhar nas minhas ilustrações e avançar no meu trabalho como tatuador. Talvez consiga abrir o meu próprio negócio, com um espaço pessoal onde possa trabalhar nas minhas esculturas. Qual é a melhor parte de ser jovem em 2015?
As inúmeras possibilidades. Poder começar de novo, se quiseres, e redefinires-te constantemente.

Catarina, 21, realizadora

i-D: Porque é que vais sair de Londres?
Catarina: Sinto que Londres já chegou a um ponto em que é extremamente difícil conseguirmos focarmo-nos no nosso próprio trabalho. A cidade em si inspira-nos de diferentes maneiras, com diversos ambientes, mas há um equilíbrio que é difícil de alcançar: pagar a renda e as contas e trabalhar nos nossos projectos. Do que é que vais ter mais saudades?
Londres deu-me os melhores anos da minha vida. Vou sentir saudades de tudo, basicamente. Porquê Lisboa?
Lisboa está, pouco a pouco, a tornar-se num ambiente cultural onde é bom estar. A cena artística está a evoluir rapidamente. Assim, podemos desenvolver-nos profissionalmente sem estarmos tão preocupados com a conta bancária. Se os jovens londrinos não estivessem a atravessar esta situação política e financeira, ficarias?
Claro que sim, porque Londres ensinou-me muitas coisas e poder continuar neste processo de aprendizagem sem ter de me preocupar com a sobrevivência monetária, seria óptimo.

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Como é que se muda esta situação?
Estas eleições decepcionaram muita gente, eu incluída. No entanto, acredito que tenha sido uma espécie de choque de realidade. Estamos a crescer e cada vez somos mais conscientes do facto de que existem 8 milhões de pessoas a viver em Londres. Se nos unirmos, podemos mudar alguma coisa. O que esperas de Lisboa?
Mesmo quando estiver em Lisboa, vou continuar a trabalhar em diversos projectos em Londres, o que me vai permitir tirar o melhor partido das duas cidades. Mas, quando estiver de malas e bagagens em Lisboa espero que o meu trabalho não seja caracterizado por um certo pessimismo. Qual é a melhor parte de ser jovem em 2015?
A sensação do enorme potencial e das inúmeras possibilidades que a Internet nos apresenta e talvez a percepção de que não existem limites ou barreiras.

Tiago Rodrigues, 28, artista/músico

i-D: Porque é que vais sair de Londres?
Tiago Rodrigues: Por vezes sentimos que já não pertencemos a um lugar, ou talvez nunca tenhamos pertencido. Esta cidade é demasiado intensa, as expectativas muito altas e os resultados insuficientes. E, também, por causa do clima. Do que é que vais ter mais saudades?
Dos amigos. Porquê Lisboa?
Principalmente por causa do clima, mas também do ambiente da cidade. Sinto-me mais calmo e relaxado em Lisboa, não há pressas. Se os jovens londrinos não estivessem a atravessar esta situação política e financeira, ficarias?
Acho que não. Como é que se muda esta situação?
Transformando Londres num parque temático gigante. O que esperas de Lisboa?
Quero trabalhar e produzir muito. Tenho imensas ideias para projectos neste momento e preciso que elas se tornem realidade, o mais rápido possível, em Lisboa. Qual é a melhor parte de ser jovem em 2015?
A nossa presença física já não interessa para nada. Já não precisamos de estar no mesmo lugar para comunicar com alguém. Nós próprios definimos como queremos que a nossa existência aconteça.


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