Cinquenta anos atrás, eu era uma garota boazinha que tinha acabado de participar do meu baile de formatura. Em 22 de junho de 1969, joguei meu capelo com o resto da minha classe no Colégio Plainedge em Longa Island, Nova York. Naquele mesmo dia, Judy Garland faleceu. Quando era mais nova, eu gostava de pular na cama e cantar “Somewhere Over The Rainbow” sozinha – a voz de Garland parecia inconscientemente especial para a garotada que se sentia meio diferente. Em 27 de junho aconteceu o funeral de Judy. Em 28 de junho, começaram as revoltas de Stonewall. Um sininho dentro de mim tocou, mas eu não estava pronta para ouvir ainda. Durante a faculdade, me juntei aos protestos contra a Guerra do Vietnã e cantava minha música favorita, “Walk on The Wild Side”, ainda ignorando aquele sino.
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Mas em 1º de abril de 1975, o sino tocou mais alto e claro que nunca, e me assumi. Alguns meses depois, mudei para um lugar além do arco-íris onde senti que eu pertencia – Nova York. Moro aqui desde então.Em 1977, Anita Bryant, uma miss que promovia suco de laranja, lançou uma campanha chamada “Salvem Nossas Crianças”, para repelir uma ordem na Flórida que proibia discriminação com base em orientação sexual. Aquilo me deixou muito puta, me levando a boicotar suco de laranja e participar da minha primeira Marcha do Orgulho Gay de NYC, com minha câmera. Revelei o filme e coloquei as fotos numa pasta, mas durante 42 anos não olhei mais pra elas.
A marcha começou mais no centro da cidade do que acontece hoje; tirei fotos das pessoas no Central Park e na biblioteca da 42nd Street, no caminho para a Christopher Street. Fotografei comunidades espirituais que apoiavam os direitos gays – incluindo a Congregação Beth Simchat Torah, a sinagoga LGBTQ a qual eventualmente me juntei (e que participa da Parada Gay de Nova York até hoje).
Numa das fotos está uma linda pessoa de vestido preto, usando flores no cabelo, caminhando com dignidade e orgulho. As pessoas atrás dela estão segurando os cartazes da época: “Anita Sucks”, “Boicote” e “Lembre-se de Robert Hillsborough 1944 – 1977”. Robert Hillsborough e seu colega de apartamento, Jerry Taylor, foram brutalmente espancados em São Francisco em junho daquele ano por uma gangue de homens jovens. Jerry se recuperou. Robert morreu.
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Aquela pessoa linda de vestido preto e flores no cabelo era Marsha P. Johnson, ativista LGBTQ e uma das figuras-chave da Rebelião de Stonewall. Ela e sua amiga próxima Sylvia Rivera logo serão imortalizadas numa monumento perto de Stonewall, uma homenagem a suas vidas e devoção aos direitos humanos.
Chegamos longe na luta por igualdade e dignidade para pessoas LGBTQ. Mas ainda temos muito pela frente. As pessoas continuam sofrendo discriminação, sendo atacadas e assassinadas por sua expressão de gênero, sexualidade ou por quem amam, no mundo todo. A administração americana atual quer derrubar direitos LGBTQ, das mulheres e de minorias. Martin Luther King disse: “O arco do universo moral é longo, mas tende para a justiça”. O arco-íris é um arco. Juntos, temos que continuar lutando por igualdade e justiça para todas as pessoas. Em 30 de junho, estarei fotografando e cobrindo a Marcha do Orgulho Gay de Nova York novamente, para a próxima parte desta série. Se você estiver em Nova York, se junte a nós.
Meryl Meisler é uma artista que mora em Nova York. Ela é autora dos clamados livros de foto A Tale of Two Cities: Disco Era Bushwick e Purgatory & Paradise SASSY ‘70s Suburbia & The City. As fotos de Meryl estão na exposição Letting Loose and Fighting Back: LGBTQ Nightlife Before and After Stonewall na New-York Historical Society, que vai até 22 de setembro de 2019.Matéria originalmente publicada na VICE EUA.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.