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Como falar com muçulmanos durante o Ramadã

Você pode evitar gafes com seus colegas muçulmanos durante o mês mais importante do ano deles.
Imagem via AFP/Arif Ali.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Canadá .

Nesta sexta-feira (26) começa o mês do Ramadã para os muçulmanos do mundo todo. Se você nunca conheceu um muçulmano (o que seria bem estranho, há bilhões de nós por aí) o Ramadã é o nono mês do calendário lunar islâmico. O mês é considerado o período em que o Corão foi revelado ao Profeta Maomé, e quando os muçulmanos participam de um mês de jejum e caridade. De antes do sol nascer até o sol se pôr, os muçulmanos se abstêm de comer e beber, ter relações sexuais e praticamente todos os desejos mundanos, e se focam no lado espiritual e no autoaperfeiçoamento.

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Também é um mês no qual a maioria das pessoas não muçulmanas com quem interajo diariamente ficam meio confusas sobre como me tratar. Só quando o Ramadã chega é que percebo quantas das minhas interações sociais envolvem alimentos e bebidas. Encontrar amigos no almoço ou jantar é quase impossível, e fazer uma pausa no trabalho pro cafezinho não vai rolar pelos próximos trinta dias.

Sim, se abster de comida e bebida é considerado um dos aspectos mais importantes (um dos cinco pilares do Islã), mas muita gente não entende que você não está se abstendo apenas da comida em si. O Ramadã pode ser visto como um reset, um jeito de se tornar uma pessoa melhor no resto do ano. Aumentamos nossos esforços de caridade, passamos mais tempo com a família e nossas comunidades, e tentamos não falar mal dos outros ou mentir. Também é uma época de reflexão pessoal profunda — para mim, vejo isso como um jeito de criar hábitos melhores para o resto do meu ano.

Se aprendi alguma coisa em todos esses anos jejuando é que não muçulmanos (geralmente pessoas que nunca conviveram com muçulmanos num nível mais próximo) não fazem ideia de como agir comigo durante o Ramadã. Eles sabem o que está acontecendo, mas geralmente ficam inseguros sobre os detalhes além de "não comer", o que deixa espaço para muita confusão e conversas repetidas. Não é tão difícil assim jogar "Ramadã" no Google ou ler o verbete bastante completo na Wikipédia. Felizmente, criei esse guia prático do que você deve e não deve dizer ou fazer para um muçulmano durante o Ramadã.

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Não pergunte por que alguém não está jejuando

Há muitos motivos pessoais para um muçulmano praticante não jejuar. Doença, gravidez, velhice, menstruação — coisas muito pessoais para falar dependendo da pessoa. Mais importante, não é problema seu se a pessoa está jejuando ou não. Essa é uma das coisas mais bonitas sobre o ato de jejuar, não tem como provar se alguém está jejuando ou não, deixando o ato em si ser algo profundamente pessoal. Além disso, perguntar por que alguém não está jejuando não leva em consideração outros aspectos importantes do Ramadã, como autorreflexão e orações. Só porque alguém não está jejuando não quer dizer que a pessoa não está participando.

Não haja estranho com comida

Faz sentido não querer esfregar sua refeição na cara do amigo que não vai comer por mais 15 horas, mas também não precisa ficar se desculpando por causa disso (isso só piora as coisas e é muito chato). É o seguinte: a gente sabe o que está fazendo quando começa a jejuar. Sabemos o que isso vai fazer conosco. É por isso que antes de começarmos o jejum, a maioria dos muçulmanos acorda uma hora mais cedo e come o máximo possível para se manter pelo resto do dia. Uma parte importante de jejuar é saber que o mundo não para por você, ninguém está esperando tratamento especial (apesar de que ter alguma consideração pelos outros é sempre legal), vamos trabalhar e continuamos nossa vida diária normalmente. O Ramadã não é para ser fácil, esse é o objetivo. Se você não tem certeza de como acomodar um convidado muçulmano de jejum, há várias maneiras de deixar alguém confortável sem oferecer comida. Num verão passado, minha melhor amiga colocou uma toalha molhada no freezer para me refrescar em vez de oferecer um copo d'água na casa dela. Foi uma das coisas mais gentis e carinhosas que alguém já fez por mim.

Pense bem no que vai perguntar

Todo Ramadã, geralmente no começo, um não muçulmano vem me perguntar (ou melhor, exclamar) "Nem água?!" A pergunta até virou uma piada interna entre os muçulmanos. Não faça isso! Pode parecer antipático, como se eu estivesse dizendo para não fazer perguntas no Ramadã, mas esse não é o ponto. Não faça perguntas que exigem a pesquisa mais rápida do mundo para descobrir. Imagine como é passar os dias cercado por pessoas que não estão jejuando, ouvir a mesma pergunta dezenas de vezes e ter que explicar de novo e de novo, "Não, nem água". Você quer ter uma conversa significativa sobre o Ramadã e nossas crenças, então algum conhecimento básico faz sentido, né?

O Ramadã é uma boa oportunidade para aprender sobre um grupo mal compreendido, aproveite

Não posso falar por todos os muçulmanos, mas adoro falar sobre o Ramadã. Adoro dar às pessoas a oportunidade de aprender mais sobre algo que é muito importante para mim — especialmente considerando como o Islã pode ser apresentado a tantas pessoas. Muitos centros ou grupos comunitários gostam de ter não muçulmanos envolvidos nas festividades do Ramadã. Se você é estudante, sua Associação de Estudantes Muçulmanos local provavelmente realiza noites de informação ou jantares comunais. Apesar de o jejum ser claramente baseado em fé, jejuar é um ótimo exercício de autocontrole, por isso sempre encorajo não muçulmanos a se juntar a mim — mesmo que por um dia, para experimentar como é jejuar.

Não explique o Ramadã para muçulmanos, independentemente do que você sabe

Muitas vezes, as pessoas tentam usar o que sabem sobre os muçulmanos e o Islã para explicar o Ramadã para mim. Um exemplo é um ex-colega de trabalho dizendo "Não, tenho certeza que é do nascer ao pôr do sol que você não pode comer". (Não, como nossas orações da manhã acontecem antes do sol nascer, nós comemos antes disso.) Tem um jeito melhor de mostrar que você fez um curso de Religiões Orientais no primeiro ano de faculdade do que querer ensinar alguém sobre a própria religião. Acredite, a gente sabe o que está falando.

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Tradução: Marina Schnoor

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