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Vida

Nunca é demasiado tarde para se ser um estrondo

Deixemos para trás o pânico de cada aniversário.
Fotografia por Ronald Stoops.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE UK.

No filme de Wes Anderson, Grand Hotel Budapest, Monsieur Gustave, o mordomo, diz: "Quando és jovem só compras 'entrecôte', mas, com os anos, vais passando para carnes mais baratas. Por mim não há problema, não gosto assim tanto de 'entrecôte'". O ideal de beleza de Gustave é uma mulher de 84 anos, com os lábios inchados, a pele enrugada e manchas por todo o corpo.

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Já nós, vivemos na era do sexo fácil, da comida rápida e de uma moda ainda mais veloz: a indústria bebe da fonte da eterna juventude. Na verdade, nesta sociedade obcecada com a idade, consideramos feio tudo o que é velho e temos a juventude como o nosso bem mais valioso. Mas, não há razão para nos resignarmos a este estado de coisas. Outras formas de beleza são possíveis.


Vê: "Fumar umas com a terceira idade em Seattle"


Quando as mulheres vivem uma série de mudanças no seu corpo, devido ao passar do tempo, os meios de comunicação transformam-nas em seres assexuais e desumanizam-nas como se fossem bruxas da Disney. Em termos linguisticos a palavra "velho" está normalmente associada a algo negativo, sobretudo quando relacionada com mulheres. Por acaso têm alguma outra função aparte de preservar a espécie? Bem, existem as MILFS, que vivem na mente dos adolescentes que conhecem o Redtube como a palma da sua mão.

A indústria capitalista, que dita os cânones de beleza, move cerca de 400 mil milhões de euros por ano (a metade em produtos anti-envelhecimento) e vende uns cremes que "te protegem e defendem" da idade, como se se tratasse de algum tipo de doença. Em consequência, as mulheres são capazes de chegar a limites nunca antes vistos, com o objectivo de conservar a sua juventude. São realmente felizes?

Fotografia por Ronald Stoops

Pagar 120 euros por 15 ml. de um creme anti-idade La Prairie é um gasto que impõe respeito, embora nunca se tenha demonstrado a verdadeira eficácia deste tipo de produtos. Será esta a razão pela qual uma miríade de mulheres se rendeu aos "encantos" do bisturi e do Botox? O ano passado, só no Reino Unido, realizaram-se cerca de 50 mil operações e não foram retoques sem importância, mas sim cirurgias que te esticam a cara, te sobem as maçãs do rosto e acabam com toda a réstia de humanidade que te sobrava. Uma série de procedimentos que faz com que todas as mulheres pareçam clones e susceptíveis de derreter quando se aproximam do fogo.

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Todos estes métodos são incrivelmente caros. Dependendo da reputação do cirurgião e da localização da clínica, um lifting facial pode custar entre 4.500 e 25.000 euros. Mas a gravidade é incontornável e, mais cedo ou mais tarde, sabes que terás de voltar ao teu dealer de Botox para mais uma dose. Será a cirurgia o novo Anti-cristo? O problema dos produtos anti-envelhecimento e da cirurgia aparece no momento em que as mulheres recorrem a eles, porque se renderam à publicidade e ao ideal institucional de que "velho" significa "feio".

Portanto, que conclusão podemos tirar? A jornalista Anne Karpf mostra-nos uma alternativa à batalha contra o envelhecimento e convida-nos a pensar em coisas mais importantes, como a saúde, a reforma e os nomes dos nossos netos. As mulheres deveriam preocupar-se realmente com a sua saúde, em vez da imagem. Não é melhor sentir-se bem, que estar gira?

As mulheres jovens precisam que alguém lhes ensine que envelhecer é algo maravilhoso e um processo muito bonito. Devem saber apreciar as suas rugas, em vez de temê-las (porque cada ruga é um símbolo de vida vivida) e não duvidar de que "ser velha" traz sabedoria, confiança e te torna numa pessoa melhor. O cabelo branco não tem de ser curto, aborrecido, ou simplesmente cinzento (olha para a Jean Woods, Kristen McMenamy ou Zandra Rhoades).

Os meios de comunicação devem começar a tratar melhor as mulheres de certa idade. Fazem falta mais fotógrafos como Ari Seth Cohen, que se lança pelas ruas de Nova Iorque em busca do savoir faire da terceira idade. Mais marcas como a Louis Vuitton, que confia em mulheres como a Catherine Deneuve para protagonizar a sua campanha Outono/Inverno de 2014 e mais modelos como Jacky O' Shaughnessy (62), Pam Lucas (66), Daphne Selfe (85) e Carmen Dell'Orefice (82), que rompem o mito de que a beleza está ligada à idade.

Graças a todas elas, à sua vitalidade e à confiança que têm em si mesmas as coisas vão mudando. Devemos ajudar a redefinir as normas da beleza e deixar para trás o pânico de cada aniversário.


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