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Jovens Mães Ocuparam Apartamentos Vazios em Londres para Protestar Contra a Falta de Moradia

No final de semana passado, quatro apartamentos fechados foram “reocupados” pelo grupo Focus E15 Mothers e se transformaram em centros improvisados de bem-estar social e abrigo para os sem-teto.

Com o déficit habitacional em Londres atingindo um nível crítico, um grupo de jovens mães está tentando resolver a questão por conta própria ocupando prédios populares abandonados no Distrito Olímpico de Newham. No final de semana passado, quatro apartamentos fechados foram “reocupados” pelo grupo Focus E15 Mothers e se transformaram em centros improvisados de bem-estar social e abrigo para os sem-teto.

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“As pessoas precisam de casas, e essas casas precisam de pessoas. Eles disseram que não havia casas disponíveis nesse distrito para nós, e, bom, achamos essas casas abandonadas”, disse Sam Middleton, 20 anos, uma das fundadoras do grupo ativista iniciado por ela e 29 outras jovens mães, mulheres que seriam despejadas do hostel próximo a Focus E15 há um ano.

“Simples assim. Há pessoas dormindo nas ruas de Newham e casas vazias em todo lugar por aqui. Eles dizem que não há moradia e que a área está passando por uma renovação, mas por que essas casas precisam ficar vazias enquanto eles fazem isso? Os lugares foram fechados há anos. Estamos fazendo o que as autoridades locais não vão [fazer].”

Sam Middleton. 

No ano passado, Sam, então com 19 anos e grávida, vivia no hostel à sombra da vila olímpica de Londres. Então o conselho municipal afirmou que ela e as outras precisavam sair, que o hostel ia fechar devido a cortes no orçamento. As autoridades ofereceram realojá-las, o que seria ótimo se eles não pretendessem mandá-las para fora de Londres. O distrito encareceu graças às “renovações” da área ao redor da vila olímpica, então tirar as pessoas de sua própria cidade parecia a opção mais econômica, para não dizer insensível, em relação ao problema habitacional.

A maioria das mães, que morou aqui a vida inteira, ficou sabendo que poderia ser mandada a lugares tão distantes quanto Manchester, Birmingham e Hastings, longe das famílias e redes de apoio. Sam estava com o parto marcado para um dia antes do despejo, mas, em vez de aceitar a oferta do conselho, ela e as outras mulheres formaram o Focus E15 Mothers, que fez uma campanha de sucesso para permanecer em Londres.

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Domingo foi o aniversário de um ano da batalha delas, e elas organizaram uma festa familiar com pintura facial e música ao vivo para comemorar. O evento culminou num pequeno contingente desse grupo entrando e ocupando prédios vazios próximos – uma surpresa para muitos dos presentes.

Todas as mães originais do Focus E15 e seus filhos estão alojados agora em acomodações particulares numa área próxima, mas, segundo elas, essa é uma situação muito insegura. A maioria das unidades custa cerca de £ 1.000 (quase R$ 4 mil) por mês, o que mal é coberto pelos benefícios que elas recebem; os contratos de aluguel são curtos e ninguém sabe dizer se serão renovados. Por isso, elas ocuparam os apartamentos, para protestar contra essa insegurança.

Quando visitei o local, duas das mães estavam no prédio mais cerca de 20 simpatizantes que vêm e vão em turnos. Elas estavam limpando o lugar e organizando atividades para as crianças do bairro. O prédio tem eletricidade, água quente e cozinhas relativamente novas. Muitos dos manifestantes dormiram ali na noite de domingo.

“Queremos que este seja um lugar onde as pessoas possam encontrar aconselhamento sobre moradia, usar os telefones e falar sobre seus problemas com o conselho”, explicou Jasmine Stone; com 20 anos, também é moradora original do hostel e hoje ocupa um apartamento com a filha de dois anos, Safia. Pude ver o plano para o prédio pendurado na parede: o lugar deve abrigar atividades como “aulas de encanamento”, “reuniões sobre moradia” e “aconselhamento sobre abordagem e revista policial”.

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As autoridades locais estão conscientes da ocupação, mas até agora não tomaram nenhuma ação. O vereador Andrew Baikie, assessor municipal de habitação para o distrito, descreveu a situação num comunicado à imprensa como “um pequeno e caro golpe publicitário” e insinuou que uma ação será tomada em breve para “tirar os manifestantes da propriedade”. Na segunda-feira, dois policiais e um oficial local apareceram no prédio, mas foram embora depois de terem o acesso negado. Seguranças de uma firma privada e uma companhia de limpeza chamada Clearway também estiveram nas proximidades do prédio verificando as propriedades vazias próximas. Eles reclamaram para quem quisesse ouvir que os manifestantes tinham “desfeito” o trabalho deles para manter os prédios seguros.

Questionados sobre a ocupação, oficiais locais liberaram a seguinte declaração de Baikie: “É decepcionante ver casas vazias de Carpenters Estate serem ocupadas por agitadores e aproveitadores”. Um jeito meio estranho de chamar um grupo de jovens mães precariamente abrigadas. “É igualmente decepcionante ver essas pessoas tentando deturpar a verdade para seus próprios fins”, acrescentou Baikie.

“Não sei sobre o que eles acham que estamos mentindo. Já estivemos em situação de despejo antes”, frisou Sam, parecendo tão decepcionada quanto os oficiais. “Vivemos nessa área a vida inteira, e fico revoltada em ver esses lugares vazios enquanto tantas pessoas vulneráveis não têm aonde ir.” Durante a terça-feira, vi Sam e as outras manifestantes cumprimentando conhecidos e outros moradores da rua que pareciam apoiar o movimento.

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Jasmine Stone. 

O distrito está destinado a renovações desde 2010. No entanto, muitos apartamentos estão vazios há mais de dez anos, o que Sam considera “injusto” dada a necessidade de moradias na área. Oficiais afirmam que a lista de espera por casas populares está em 14 mil “lares”. O que me parece muita gente esperando por um lugar para morar. No entanto, críticos dessa administração estimam que o número está mais perto de 24 mil indivíduos esperando por uma casa.

As autoridades garantem estar respondendo à demanda construindo novas unidades habitacionais populares, mas Jasmine apontou que a situação é grave. “Eles dizem que estão fazendo todas essas renovações, mas tudo isso é voltado só para os ricos. Precisamos de moradias acessíveis, não de casas novas. Ninguém aqui pode pagar para morar num imóvel novo. Esses apartamentos são limpos e acessíveis, mas estão vazios. Já existem lugares prontos para serem ocupados aqui.”

Sobre os imóveis vazios, as autoridades locais disseram: “O Carpenters Estate não é um local viável. Os dois blocos de prédios são simplesmente muito caros para reformar e precisam ser demolidos”.

“Eles dizem que os prédios não são seguros e que não se pode morar aqui, mas alguns deles são tão bons quanto o meu apartamento”, comparou Sam, rindo e me mostrando uma foto de um esqueleto de rato que encontrou quando se mudou para sua casa atual. “Chamo ele de meu amiguinho.”

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Jasmine mostra estar constantemente preocupada com o futuro da filha – e o seu. Como Sam, ela foi realojada nas proximidades, mas diz que fica constantemente ansiosa com o que pode acontecer com ela e Safia.

“Nunca encontrei meu senhorio e não sei se poderei ficar quando nosso contrato de aluguel acabar no começo do ano que vem. Eu queria voltar a trabalhar agora, mas não podemos criar raízes. Não quero colocar a Safia numa creche ou numa escola e depois ter que tirá-la de lá.”

Como muitas pessoas, ela não aceita que tanta gente continue sem ter onde dormir enquanto existem, segundo documentos do próprio governo local, 400 casas vazias no distrito. Essa é a mesma área sobre a qual o prefeito, Robin Wales, falou, numa coluna num jornal local, que é necessário reprimir os sem-teto com “ordens de comportamento antissocial” – ordens estas usadas cerca de 30 vezes no ano passado. As mulheres já se encontraram com Wales, mas ficou claro que não são fãs dele. No último encontro, ele teria dito a elas: “Vocês simplesmente não podem pagar para morar em Londres!”

No momento, não está claro quanto tempo a ocupação vai durar, mas Sam diz que espera permanecer no prédio “o máximo possível” e consertar os apartamentos do andar de baixo, que estão em pior condição. “Espero mesmo que possamos ficar. Espero que a gente possa reocupar o distrito”, planejou Jasmine. A situação das moradias em Londres atingiu um ponto crítico, e as mães do Focus E15 estão mostrando que se as autoridades não podem ou não querem agir, o povo vai.

Siga o Focus E15 Mothers no Twitter: @FocusE15

@fransingh / @owebb

Tradução: Marina Schnoor