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Opinião

Seis razões para o PS não merecer a maioria absoluta em 2019

Na semana em que os socialistas celebram 45 anos, apontam-se alguns motivos pelos quais o Partido não deveria reinar sozinho nas próximas Legislativas.
Abril 2018. A ano e meio de ser escolhido o próximo Governo, muitos apontam para que haja um segundo mandato rosa. (Foto por Adarsh Ik no Unsplash)

Desde o 25 de Abril de 1974, a política portuguesa tem sido dominada por PS e PSD. Os dois têm estado no poder invariavelmente com o apoio, aqui e acolá, de grupos partidários menos expressivos no eleitorado. Esta semana - a 19 de Abril -, os históricos do Largo do Rato completam 45 anos de existência.

Os sinais de estabilidade dados pela “geringonça” parecem já ter sido mais sólidos, mas não é visível que haja um grande desgaste que provoque eleições antecipadas. Sabendo que o PSD está longe de navegar de vento em popa, há quem sonhe com uma maioria absoluta rosa em 2019. Ao fim de quarenta e quatro anos da era democrática (quer se goste ou não da forma como tem funcionado), será que beneficiamos em ter um partido com poder total no Parlamento? Não me parece. A começar por socialistas e sociais-democratas, ambos normalmente com maior número de votos.

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A seguir, apontam-se seis razões para que o favorito PS não mereça chegar ao êxtase do absolutismo nas próximas legislativas.

1. O perigo de um mandato prepotente e megalómano versus consensos (à esquerda ou à direita)

Os defensores de maiorias absolutas gostam de relevar a importância de se governar sozinho, de pôr em marcha planos para o desenvolvimento do País sem ter que dar justificações a terceiros (só o Tribunal Constitucional pode impedir a implementação de alguma lei se, na sua óptica, ferir o bem comum).

O problema é que isso desencadeia habitualmente uma prepotência cruel para o bolso dos contribuintes, dando espaço para megalomanias de políticos que julgam estar ao comando de economias robustas. Como se tem visto, juntos, socialistas, bloquistas e comunistas/verdes têm levado a água ao moinho. Os danos colaterais ou, se preferires, cinismos do jogo de ancas a três - como aconteceu quando o governo atraiçoou o BE nas rendas das eléctricas – tem perturbado mas não ferido mortalmente esta plataforma de entendimento.

Nisto, podem os dois partidos mais encostados à Esquerda, com tiques bipolares (pela manhã são a favor do Executivo, ao final da tarde chutam para canto decisões com as quais não concordam), repetir um novo pacto? Ao que parece - e com o PSD de Rui Rio à espreita -, o Bloco está aberto à continuação de consensos (podendo até aceitar alguma pasta ministerial) e o PCP/PEV diz “nim” depois da perda de importantes bandeiras autárquicas há seis meses. Seja como for, ter o PS sem um contra-poder junto de si é dar azo ao aparecimento de arrivistas com o lema “isto é tudo nosso!”. A evitar, portanto.

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2. Fogo que ardeu, que se viu e matou a valer

O que se passou em 2017 em matéria de incêndios e do que deles resultaram - mais de cem mortos e uma vastíssima área ardida -, é doloroso, inqualificável e (não é de todo descabido dizer-se) imperdoável.

Por mais que se culpem as condições atmosféricas, como é que se explica o facto de o SIRESP ter falhado totalmente às populações?; de as autoridades terem negado meios antes do previsível perigo nos fogos de Outubro?; e que o Ministério da Administração Interna (então chefiado por Constança Urbano de Sousa) ter mudado trinta chefias da Protecção Civil a dois meses e meio do horror de Pedrogão Grande? É triste e abjecto.

3. As famílias dos “apelidos fofinhos”

É o que temos e mais não podemos pedir? Olhar para a lista de nomes que compõe o Governo e os deputados no Parlamento, é confirmar o quão pequeno Portugal deve ser (em termos do tamanho geográfico)… Já reparaste nas ligações íntimas entre muitos deles? A famosa “família socialista” não é única neste capítulo.

Pergunto. Será que no resto do País (afinal ainda somos os clássicos dez milhões) não há gente com valor para tomar conta da coisa pública fora do “clube dos apelidos fofinhos” - e que rima com “tachinhos”? Há quem pense que não. É o “fabuloso” quotidiano político que contempla cunhas, abuso dos privilégios de ser deputado, e a promiscuidade entre ser representante do povo e, ao mesmo tempo, beneficiar enquanto advogado.

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4. Joana voa voa, que não te queremos (na Justiça) em Lisboa

A polémica do início deste ano promete arrastar-se até ao próximo Outono. Nessa altura, saber-se-á quem sucede a Joana Marques Vidal como Procuradora Geral da República. As informações que vamos lendo na imprensa têm sido contraditórias. Mesmo com a possibilidade de continuar, há quem diga que a própria não o pretende fazer e que já está em andamento um futuro cargo fora de Portugal. Do outro lado, há quem acredite que Marques Vidal está aberta a prolongar o seu mandato.

No meio desta incerteza, o PS e o PSD vão mostrando que a mudança pode (e deve) acontecer. Sabendo que o Ministério Público (MP) não trabalha de vendas postas - como aparentemente o fazia num passado recente -, espero que Marcelo Rebelo de Sousa consiga demover o Executivo de uma futura troca - caso Joana assim o pretenda. Numa função com alta responsabilidade, é preciso capital humano idóneo e destemido.

Para quem vive com a “cabala na testa” e defenda que o MP tem uma queda para perseguir os homens da estrutura rosa, aponto dois exemplos: Miguel Macedo, antigo homem de confiança de Passos Coelho e ex-ministro da Administração Interna, está em vias de ser condenado no julgamento relativo à Operação Vistos Gold; e Sérgio Monteiro, secretário de Estado dos Transportes no Governo PSD/CDS, está alegadamente envolvido numa certidão retirada do Processo Marquês.

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5. Por um não devem pagar os outros, mas…

Os supostos esquemas para sacar milhões do erário público, são panos para mangas na imaginação de quem acompanha a Operação Marquês e o eventual passado nebuloso de José Sócrates (que por esta altura deve sentir-se abandonado pelo seu Partido, ao contrário do condenado Lula).

A juntar ao processo que envolve o antigo primeiro-ministro, não deixa de ser preocupante constatar o óbvio. Muitos membros da equipa de António Costa – com distribuição em vários ministérios - fizeram parte do elenco governativo do único socialista que alcançou uma maioria absoluta. Nesses dias, a ser verdade o que se tem lido sobre as aparentes trafulhices de Sócrates, esses mesmos governantes foram incautos, olharam para o lado em alguns momentos de maior dúvida ou houve real cumplicidade? Cada português terá a sua resposta.

6. Uma das prioridades do actual Governo e de outros anteriores é…salvar “os amiguinhos” da banca! (E pouco fazer para que os autores das imparidades paguem o que devem)

Ler o artigo publicado na VICE, “Os 'elefantes brancos' que sustentam os saloios da Nação”, e escutar Os Vampiros de Zeca Afonso (ver vídeo abaixo). Já em 1963 se cantava “Eles comem tudo e não deixam nada”…


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