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Os Anonymous querem pôr os violadores da Rehtaeh Parsons na prisão

E dizem que têm pistas suficientes.

Nos dias seguintes ao suicídio da Rehtaeh Parsons — a adolescente canadiana que se suicidou depois de ter sido violada e perseguida —, o grupo de hacktivistas Anonymous começou a brincar ao gato e ao rato com as autoridades da Nova Escócia. Os Anonymous dizem ter os nomes de quatro suspeitos e ameaçam revelar a informação se não se fizer justiça. Os nomes já estão a circular online em pequena escala, mas não são propriamente públicos. Tudo isto causou uma tempestade de respostas negativas por parte de quem vê os Anonymous como justiceiros destruidores enquanto o grupo se defende, dizendo que só tomou uma posição por causa do elevado número de crimes na Nova Escócia. “Uma rapariga de 17 anos suicidou-se porque a polícia não conseguiu fazer o seu trabalho”, atiram.

O comissário Bob Paulson, por seu lado, já levantou a hipótese de uma hipotética aliança com os Anonymous: “Se querem trabalhar connosco, têm de tirar as máscaras. Infelizmente, acho que não estão preparados para isso, mas estamos abertos para trabalhar com toda a sociedade”, afirmou. acrescentando que, com base em “novas informações”, o caso Rehtaeh Parsons será reaberto. Falei com um membro dos Anonymous que está directamente envolvido na operação de denunciar os violadores da Rehtaeh, com o intuito de perceber melhor as motivações do grupo. VICE: Como é que chegaram aos nomes dos quatro suspeitos?
Gajos dos Anonymous: Os dados que reunimos vieram da combinação de pesquisas na internet e de informadores. Tem mais que ver com a profissão de jornalista do que com a de detective. Usamos técnicas de pesquisa avançadas para passar a pente fino as declarações, fotos, vídeos, tudo. Conseguimos localizar declarações que os suspeitos fizeram há anos, em contas que eles nem sabem que ainda existem. Também desenvolvemos um nível de confiança com a nossa comunidade online: as pessoas sentem-se confortáveis para falar connosco porque sabem que vamos proteger as suas identidades. Validamos a informação dessas pessoas como a polícia o faria, através do cruzamento de referências e verificando os indivíduos que fornecem as informações. Também há um factor psicológico. É importante reconhecer a motivação que existe por trás das pessoas que fornecem informação. Algumas só querem envolver-se para valorizar as suas contas ou talvez só estejam à procura de vingança. Também não é possível contar totalmente com a memória das pessoas, é importante testá-las para descobrir se a história que contam foi corrompida pelo tempo ou pelo seu estado emocional. Neste caso foram as fontes que vos abordaram?
A maioria das fontes veio até nós, sim, mas investigámos algumas ao examinar as interacções online entre a vítima e os suspeitos. O que é que descobriram até agora sobre o caso que aches que as pessoas no geral devam saber?
Só metade deste caso é que diz respeito a esses quatro adolescentes e ao alegado violador. As partes verdadeiramente culpadas são os adultos que violaram a Rehtaeh. Esses miúdos deveriam ser castigados porque são um exemplo terrível para os outros jovens da Nova Escócia, mas também quero ver a polícia e o sistema escolar a pagar pelo que fizeram a esta rapariga. Eles eram responsáveis por protegê-la e por aliviar o seu sofrimento. Mas falharam completamente. Agora estão demasiado ocupados a culparem-se uns aos outros. A escola não sabia de nada, a polícia não conseguiu encontrar nenhuma prova. São ambas culpadas de incompetência. O que acontece se vocês estiverem com as pessoas erradas?
Envolvi-me nesta operação exactamente para evitar isso. Não me envolvi no caso de Steubenville, não gostei da forma como foi tratado. As pessoas foram chamadas e, em alguns casos, forçadas a provar a sua inocência antes de serem libertadas. Pareceu-me muito do género “és culpado até que se prove o contrário”. Tenho experiência em investigar pessoas online. Nunca tornaríamos os dados públicso se não tivéssemos 100 por cento de certeza. Felizmente, isso não é um problema. Estes miúdos que cometeram o crime foram muito descarados no que fizeram. A foto que tiraram da violação andava a circular pela escola, possivelmente por centenas de pessoas — voltamos, assim, à parte em que a escola foi incompetente. As pessoas usam a hipótese de podermos implicar com as pessoas erradas para desviar a atenção das verdadeiras questões que estão em jogo. Todos sabemos quem são os polícias e os agentes escolares que têm culpas no cartório. Acho que também é importante dizer que o sistema judicial considera, frequentemente, inocentes os culpados, e condena-os à prisão ou, como nos EUA, à morte. Por isso, é ridículo comparar o sistema de justiça com os Anonymous, mas duvido que ficássemos envergonhados se os nossos documentos fossem comparados, lado a lado, com os deles. Como respondes a opiniões como a do Chris Selley, no National Post, que diz que os vossos esforços não são necessários?
Bem, sem ofensa ao Chris Selley ou ao National Post, mas ele parece querer insinuar que, caso a polícia falhe e alguns violadores escapem, "que se lixe”, passamos logo ao próximo caso. Por isso, acho-o um idiota. Vamos acalmar um bocado e partir do princípio que vamos denunciar, de facto, o nome dos violadores verdadeiros… Que lei vou estar a violar? Podiam processar-me por difamação, claro, mas antes teriam de provar que estamos a mentir. Isto ainda piora mais quando ele diz que devíamos ignorar o modo como a fotografia se espalhou pela escola por isso estar sempre a acontecer. Não podemos ficar à espera de que o sistema legal castigue toda a gente que divulga fotografias de mulheres a serem violadas, pois não? É “um comportamento adolescente bastante comum”. O artigo do Chris Selley resume a cultura da violação: ele iguala o trauma da violação a uma foto que uma miúda qualquer tira nua em frente ao espelho para mandar ao namorado. Que semelhanças vês entre este caso e o da Amanda Todd?
Acho que em ambos os casos a morte poderia ter sido evitada. E penso que a morte da Rehtaeh vai ser igualmente explorada. Os políticos vão aparecer na televisão, como já fizeram, e dizer que agora é que é altura de prestar atenção ao problema. Vão dizer também que é preciso fazer mais e vão provavelmente anunciar o financiamento para algum estudo sobre bullying, explicar como se vão dedicar pessoalmente neste problema. Se o bullying acabasse só por eles falarem no telejornal, já teria acabado. O que pode fazer um ministro da justiça para impedir o bullying? Está a quilómetros de distância do problema. Precisamos de acções na escola, directamente, em que as crianças possam sentir-se protegidas. O que vão fazer se a polícia canadiana não puder fazer justiça no caso de Rehtaeh?
Acho que é preciso alertar as mulheres das universidades que estes miúdos frequentam. Que o rapaz sentado ao lado delas não respeita os seus direitos e que pode violá-la à primeira oportunidade. Muitas pessoas disseram que devíamos ter apenas em conta os desejos de Leah Parsons, a mãe, mas penso que temos uma responsabilidade para com todas as mulheres que podem ser arrastadas para uma sala ou canto escuro por um destes imbecis. No entanto, não me parece justo tomar a decisão de revelar a identidade deles assim, sozinho. Estou a trabalhar com um grupo de pessoas e vamos discutir isso entre nós, considerando todas as possíveis repercussões. E eesperamos tomar uma decisão acertada. Considerando a tua posição, como responderias se a mãe da Rehtaeh te pedisse para não haver mais justiceiros ou bullying em retaliação à morte da filha?
A senhora Parsons disse que não quer que as pessoas façam justiça com as próprias mãos. E cito: “Acho que eles têm de ser responsabilizados pelo que fizeram. Não quero que eles sejam fisicamente agredidos.” Não acho que isso entre em conflito com nenhuma das nossas intenções aqui. Os Anonymous não defendem que estes indivíduos devam ser agredidos. Estamos em contacto com a senhora Parsons, partilhámos com ela as informações que temos e garantimos-lhe que, por enquanto, não as tornaremos públicas. Não estamos a fazer isto só porque estamos à espera do momento certo para largar a bomba. Temos partilhado muitas novas pistas com a polícia e esperamos que eles as sigam.