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A intenção é ruim? O futuro governo Temer por ele mesmo

Áudio de “ensaio” chama atenção pela ausência do combate à corrupção e manutenção da Lava Jato no discurso do se pá presidente.

Crédito: Agência Brasil.

"Venho aqui neste momento me dirigir ao povo brasileiro para dizer algumas das matérias que, penso, devam ser por mim agora enfrentadas." Provavelmente à frente do espelho, carregando uma imaginária faixa verde-e-amarela, Michel Temer inicia seu primeiro pré-discurso presidencial, distribuído via ZapZap, com sua costumeira empolgação e capacidade de levantar as massas.

O claudicante discurso de quase catorze minutos do futuro ex-vice presidente foi alegadamente enviado sem querer querendo para um grupo do PMDB e mostra um Temer já esparramado confortavelmente no pufe do poder. A certeza é tão grande que ele mal se preocupou em desmentir o conteúdo, muito pelo contrário – a fala das suas "desculpas" aos jornalistas mantém o mesmo tom usado no discurso-demo vazado nesta segunda-feira (11).

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Nele, Temer se diz "cauteloso" e afirma ter se "recolhido" para não dar pinta de que estaria tramando pelo impeachment (como se ele não tivesse nada a ver com a saída do PMDB do governo). Se o pré-lançado papo abre cheio de cautelas, dizendo que foi "conclamado por muitos" a dar seu parecer antes de sentar na cadeira presidencial a partir do afastamento da presidente e passa quase três minutos falando que a decisão da Câmara ainda precisa ser ratificada pelo Senado, Temer passa a falar do seu plano de "unificação nacional".

Com um discurso com mais cara de promessa de campanha do que posse definitiva, o vice diz procurar a "pacificação" do país através de um governo de "salvação nacional", em busca de uma unidade para afastar o país da crise, alertando para a necessidade de "sacrifícios". O principal aliado para ele, que parece falar com as mãos atadas, seria a iniciativa privada nacional e internacional, que deveria retomar a confiança em investir no Brasil.

Na única passagem que faz uma menção mais clara aos problemas econômicos, Temer se mostra um tanto atabalhoado ao afirmar que "a ausência de crescimento faz retomar a inflação" (uma frase ousada que deve levar muxoxo de economistas em geral, de Hayek a Keynes).

A principal parte do papo é exatamente sobre o fantasma que ameaça o pescoço de Dilma – o aumento do desemprego no país. Temer não deixa claro seus caminhos, diz apenas que vai procurar "parcerias público-privadas" e fala que deve criar "reformas" (incluindo algumas que já tramitam no Congresso) para "garantir o futuro do país", além de prometer não mexer nos projetos sociais existentes. Se essas reformas incluem a flexibilização de leis trabalhistas e outras medidas impopulares, não fica claro, mas Temer promete criar um "grande diálogo nacional" em torno das questões.

No fim, evocando a reforma tributária e política, fala de se costurar um novo "pacto federativo", emulando o discurso do candidato à presidência em 2014 pelo PSB Eduardo Campos, e falando que o peso e autonomia dos municípios e estados em relação à União precisa mudar.

Mas o que mais chama a atenção no discurso de Temer não são os temas presentes, mas aquilo que ele deixou, com medida ponderação, de fora. E o que grita na cara do ouvinte é a ausência completa de menções a respeito do combate à corrupção – a Lava Jato, então, parece que não existe. É como se uma das principais bandeiras utilizadas pelas manifestações de rua fosse uma questão menor para o pseudo-novo presidente. Isso faz reforçar a desconfiança de que o grande acordo de Temer com o Congresso é apenas um: sumir com a Lava Jato e livrar o rabo do máximo de parlamentares possíveis.

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