Politică

Volta, Sócrates. Estás “perdoado”

O Caso Tancos e a nova directiva da Procuradora-Geral da República parecem levar-nos aos tempos do antigo PM.
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Há bodes expiatórios que servem para levar porrada de todo lado, como se fossem os únicos que se imiscuíram nos assuntos sensíveis entre a política e a justiça. (Imagem de Ryan Gosling no filme Blade Runner 2049/2017. Cortesia Sony Pictures Releasing)

Na semana passada, a conduta da Procuradora-Geral da República criou celeuma no Ministério Público. Ao invés de defender a independência dos magistrados, Lucília Gago aprova uma polémica directiva que põe em causa a sua autonomia. Imediatamente choveram críticas dentro da classe e, da esquerda à direita, alguns partidos acham a decisão perniciosa.

Sinceramente, não fico surpreso com esta medida opaca em que um procurador pode ver um superior interferir no processo, sem que esse acto seja registado obrigatoriamente..

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Não de propósito considerei o Processo de Tancos - e quem realmente estava ao corrente do suposto plano fraudulento da recuperação das armas em 2017 - como o Acontecimento Nacional do ano passado. Com o ex-ministro da Defesa constituído arguido, é natural que se questione qual o nível de envolvência de António Costa na trapaça. E é aqui que a investigação choca com a possível politização da justiça (por estes dias, na qualidade de testemunha de Azeredo Lopes, o chefe do Executivo anda picado com o juiz Carlos Alexandre).

Em Outubro último, na fase de inquirição de Tancos, a revista Sábado noticiou que os procuradores foram proibidos de incomodar o primeiro-ministro e o presidente. Motivo? A dignidade dos cargos. Como!? Então e os outros empregos honrados na sociedade? Devem os mesmos não ser interpelados se houver questões pertinentes sobre eventuais delitos?

A justificação tomada pelo director do DCIAP, Albano Pinto, teve o respaldo de Lucília Gago. Seguindo a mesma desculpa esfarrapada, Costa e Marcelo - se assim o desejarem - podem infringir com livre arbítrio e serem a versão portuguesa de Trump.

Vendo que Joana Marques Vidal era persona non grata do PS com o caso “Marquês” e meteu o nariz na resolução da Polícia Judiciária Militar (que teve, alegadamente, a cobertura de Azeredo na falsidade do “achamento”), começa a ser nítido o porquê da saída da antiga PGR. Nem todos estão preparados para interpretar docilmente o papel de "Bela Adormecida”. O PM e o PR sentem-se descansados? Bem, foram eles que trocaram a Joana pela Lucília…

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A “relação frutuosa” entre Pinto Monteiro e José Sócrates parece ter pontos de contacto assustadores com a actualidade.

Nunca 2020 foi tão 2009.


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