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Ilustração: Cassio Tisseo

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A BANCA DE BOLSONARO

Luiz Mandetta: a enrolada escolha de Bolsonaro para cuidar da saúde

Na série que apresenta os ministros do presidente eleito do Brasil, a VICE conta a história do dono da pasta de Saúde.

Jair Bolsonaro prometeu renovar a política, acabar com a corrupção no Brasil. Eleito, escolheu, para ministro da Saúde, um político tradicional, filho de político, que é acusado de corrupção em seu período como secretário municipal – na época em que o prefeito era seu primo. Foi em Campo Grande, quando ele trabalhou como secretário de Saúde no mandato de Nelson Trad Filho.

Ele foi acusado de fraude em licitação, tráfico de influência e desvio de verba para caixa dois numa licitação de um sistema de prontuário eletrônico. Mandetta teria agido em favor de um dos participantes da licitação, de acordo com investigação que chegou ao Supremo Tribunal Federal, mas voltou à primeira instância na Justiça do Mato Grosso do Sul. O buraco é um pouco mais embaixo: em 2010, durante sua campanha, ele fez voos em táxi aéreo bancados pela Telemídia, empresa que teria sido favorecida na licitação; no mês passado, o jornal O Globo revelou que Mandetta usou R$ 184 mil de sua cota parlamentar de viagens com a mesma companhia que o atendeu em 2010. O futuro ministro, como de praxe, nega irregularidades.

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A gestão de secretário foi a primeira experiência de gestão pública do médico Luiz Henrique, formado no Rio e com especialização em ortopedia. Antes, ele havia sido presidente da Unimed em Campo Grande, e depois da passagem pela secretaria resolveu se candidatar à Câmara dos Deputados, conseguindo se eleger duas vezes, em 2010 e 2014. Neste ano, não tentou a reeleição.

Seus dois mandatos se destacaram pela postura crítica aos governos petistas. Em 2013, no início do Mais Médicos, ele chamou o programa de “muito eleitoreiro” e comparou aos aviões que traziam médicos cubanos a “navios negreiros do século 21”. Para salvar o programa, esvaziado pelo governo de Cuba com a retirada da maioria dos profissionais, após as diatribes de Bolsonaro, Mandetta chegou a propor que a participação no programa seja aplicada de forma obrigatória aos médicos recém-formados, que se alistariam no Exército para cumprir um ano de serviço à população. A ideia obviamente não foi em frente, e o programa reabriu inscrições, mas a ampla maioria dos inscritos não apareceram para assumir seus postos. O comando do Mais Médicos ficará com uma notória crítica do programa, a pediatra Mayra Pinheiro, presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará e que, após a saída dos cubanos, pediu a presença de “médicos por amor” em lugares do estado afetados pela decisão.

Indicado por “entidades médicas”, segundo o presidente eleito, Mandetta já teve seu ruído inicial com Bolsonaro ao sugerir a realização de exames periódicos de avaliação para os médicos – não apenas no fim do curso, como acontece com advogados, mas depois de formados. “O que a maioria dos países faz atualmente é a avaliação seriada. Tem países em que ela é feita a cada 10 anos, outros a cada 5 anos e outros a cada 15. Nós vamos ter que discutir qual seria a nossa, para que possamos justamente acompanhar como vai ser o exercício profissional do médico brasileiro”, defendeu o futuro ministro em entrevista à afiliada da Globo em Mato Grosso do Sul.

Mandetta ainda não se pronunciou sobre outros problemas da saúde pública no Brasil, como médicos que acumulam funções em diversas cidades, mas não cumprem o horário com regularidade, denúncia recorrente no país. Tampouco se colocou pronto para discutir questões referentes ao SUS e à infraestrutura de atendimento nas cidades — os médicos cubanos cobriam parte do problema, focando especialmente em atendimentos preventivos, mas em muitos lugares há carência de equipamentos e de remédios.

A gestão de saúde no Brasil hoje é municipal, mas boa parte das verbas é federal, cedida por meio de convênios — tanto que o Ministério da Saúde tem um dos maiores orçamentos do governo, com mais de R$ 128 bilhões à disposição. Como será o uso desse dinheiro, começaremos a descobrir nos próximos dias.

Nome: Luiz Henrique Mandetta
Idade: 54 anos
Ministério: Saúde
Formação: Bacharel em Medicina pela Universidade Gama Filho, no Rio, com especialização em ortopedia
Partidos: DEM

Acompanhe os perfis de todos os ministros do Brasil na série A Banca de Bolsonaro. Novos textos às terças e sextas-feiras.
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