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Como se vive a febre de "La Casa de Papel" pelo Mundo

A série espanhola da Netflix já deu a volta ao Planeta. Jovens de vários países, incluíndo Portugal, explicam-nos o porquê do sucesso.
Imagen via Antena 3.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

A bolha das séries parece não ter fim. Com uma fome voraz, vamos engolindo e engolindo séries de todos os cantos do Mundo, como a alemã Dark, a finlandesa Trapped, ou a belga Tábua Rasa, já para não falar das produções norte-americanas e inglesas que todos conhecemos. Recentemente, com La Casa de Papel, aconteceu aquele momento em que os espanhóis deram o passo de consumidores a produtores de um fenómeno global.

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Há uns dias saiu uma grande notícia sobre a série - que, para quem ainda não viu, gira em torno de um assalto à Casa da Moeda e Timbre - e a sua conquista de audiências em cada vez mais países, até se ter convertido na série de lingua não inglesa mais vista na história da Netflix.

Apesar de não ser a única série espanhola a ter conquistado outros países [em Portugal, por exemplo houve adaptações de formatos como Médico de Família, Conta-me como Foi, ou Os Serranos, umas com mais sucesso que outras -, foi a que teve até hoje maior impacto mediático, porque a sua difusão na Netflix aumentou esse impacto e porque quase tudo o que está relacionado com a marca da plataforma de streaming é, inevitavelmente, notícia.

Para perceber o fenómeno mundial de La Casa de Papel, pus-me em contacto com jovens de várias partes do Mundo, que me explicaram como é que se vive o fenómeno fora das fronteiras espanholas. Prepara-te que, tal como na base da série, ainda se planeia aqui um assalto organizado ao FMI.

Imagen de una representación de La casa de papel en Yeda, Arabia Saudí

Amina, 22 anos, Arábia Saudita

VICE: A série chegou à Arábia Saudita. Porque é que a começaste a ver? A que achas que se deve o sucesso?

Amina: Comecei a ver quando apareceu pela primeira vez na página principal da Netflix, não me lembro exactamente quando, mas acho que há mais de um mês.

Quanto ao sucesso, acho que o idioma não tem que ser um obstáculo só por ser diferente do inglês. Narcos também teve imenso êxito e falavam muito em espanhol. De qualquer forma, acho que a história é muito original e isso explica o grande êxito.

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O que achas que aconteceria se alguém assaltasse a Casa da Moeda da Arábia Saudita?

Sinceramente, acho que isso aqui nunca poderia acontecer.

Se alguma vez vieste a Espanha, que elementos da cultura espanhola é que reconheces na série? Não há toureiros, nem Gaudí, nem flamenco.

Acho que são as próprias pessoas, o carácter e a forma de ser dos personagens. Os meus amigos que foram a Espanha disseram-me que sentiam que os espanhóis tinham muitas coisas em comum com os árabes, mas isso quero descobrir por mim própria.

Edouard, 31 anos, França

VICE: Como é que se vive a série no país vizinho [vizinho dos espanhóis, claro!]?

Edouard: La Casa de Papel está por todo o lado em França! É super popular, principalmente entre as pessoas mais novas. No Instagram, muitos se riem do viciados que estão e de como isso é preocupante em época de exames.

Aqui em França, parece que a série funcionou muito na base do boca-a-boca entre os jovens adolescentes. Eu, por exemplo, comecei há uns dias, mas vejo episódios de seguida, já vi seis. Adoro!

É curioso, porque há uma supremacia anglo-saxónica no mundo das séries e vemos poucas de idioma não inglês.

Acho que o público costuma interessar-se mais pelas séries americanas, porque lhes dá uma sensação de qualidade: é um valor seguro. Contudo, a onda, a intriga e o carisma dos personagens de La Casa De Papel fazem com que tenha tudo o que o público espera de uma boa série. Não é a série do ano, mas é claramente o outsider do momento e isso torna-a muito invulgar,

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Podemos dizer que é um sucesso inesperado?

Pelo menos aqui em França não era algo de que se estivesse à espera, porque (e com muita pena nossa) não nos chegam boas séries espanholas. Ignoramos totalmente o vosso potencial. Uma pena, a unica outra série espanhola que vi foi Un paso Adelante.

Uma coisa engraçada é que o actor francês Gerard Jugnot veste-se de forma muito parecida no filme Le Beauf (1986). E o mais surpreendente é que, nesse filme, ele planeia assaltar o Banque de France. Poderíamos dizer que Le Beauf é um pouco o antepassado de La Casa de Papel. Conta isso a um milleniall!

E encontras elementos da cultura espanhola em La Casa de Papel?

Já fiz várias viagens a Espanha e até agora não acho que a série seja muito representativa da cultura espanhola. Para já, há algumas referências, por exemplo a Salvador Dalí. Mas, tirando isso, pouco mais. Como francês que sou, poderia até pensar que a série foi filmada noutro país, talvez porque há uma vontade de a tornar mais "americanizada" e atrair muito público.

Pessoalmente, a série relembra-me a época maravilhosa de Prison Break ou 24. Também se notam muito as influências cinematográficas e a muitas pessoas lembra-lhes Soderbergh. No meu caso, vejo um pouco de Michael Man. Por outro lado, o assalto, a planificação do mesmo, a relação entre o cérebro do plano e a polícia relembram-me muito o Heat, com Robert de Niro e Al Pacino.

Manuel e a namorada mascararam-se de personagens de La Casa de Papel no Carnaval, ainda antes do grande fenómeno mundial

Manuel, 27 anos, Portugal

VICE: La Casa de Papel é a série de língua não inglesa mais vista na Netflix. Porquê tanto sucesso?

Manuel: Acho que o segredo está no facto de ser muito dinâmica. Ficas agarrado ao ecrã à espera do que vai acontecer a seguir. Tudo muito intenso. Comecei a ver em Dezembro e ainda não acabei a segunda parte, porque estou a ver com a minha namorada. Está a ser um processo mais longo, mas talvez assim estejamos a apreciá-la mais. Já só nos faltam dois episódios para acabar.

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Vi muitas fotografias de gente mascarada com o macacão encarnado e a máscara de Dalí em vários países. Tu mascaraste-te?

Sim, fui um deles. Eu e a minha namorada fomos a uma festa de Carnaval cujo tema era séries, por isso foi a desculpa perfeita. Nessa altura ainda não vendiam nas lojas os produtos de La Casa de Papel, por isso improvisámos. Comprámos uns macacões que pintámos de encarnado e umas máscaras nas quais desenhámos as feições de Salvador Dalí.

O que esperas da terceira temporada?

Como disse antes, ainda não acabei a segunda, mas suponho que se safem. Nesse caso, a terceira deve ser a fuga e a decisão de roubar o banco central dos EUA.

Patricia, 26 anos, México

VICE: No México são especialistas em séries e telenovelas. Porque é que La Casa de Papel fez sucesso?

Patricia: A série tem muitíssima fama. A maioria dos meus amigos já viram e adoraram. Eu vi a primeira temporada em duas semanas e a segunda em três ou quatro dias. Adorei a trama e, como mexicana, o sotaque espanhol deixa-me apaixonada. Também a apresentação que fazem de cada actor, tipo a do Berlin, que é o meu preferido pelo seu sarcasmo e porque está muito bem feito. Tanto o amas como o odeias em cada episódio.

O que farias se tivesses 2.400 milhões de euros?

(Risos) Nem saberia por onde começar. Sem dúvida que comprava um avião para conseguir chegar à minha mansão num sítio qualquer especial que, claro, também compraria com esse dinheiro

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Pode dizer-se que a série vai contra o sistema e defende a revolução. Assaltavas a casa da moeda do teu país?

Não o faria. É preciso ter um plano muito bem feito. Seria difícil melhorar o plano perfeito desenhado pelo Professor, mas começaria por reunir uma grande equipa, como a da série.


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