Andy Serkis fala sobre ‘Planeta dos Macacos: A Guerra’
Matt Grubb.

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Entrevista

Andy Serkis fala sobre ‘Planeta dos Macacos: A Guerra’

O ator conta sobre seu interesse por primatas e explica por que prêmios não importam.

A mais recente trilogia da franquia Planeta dos Macacos tem sido o blockbuster mais forte dos últimos tempos, e culmina agora em Planeta dos Macacos: A Guerra de Matt Reeves (já nos cinemas). A "guerra" em questão se refere à luta pós-apocalíptica entre primatas e humanos capaz de ditar o futuro do planeta — um conceito sombrio, e filmes hollywoodianos de grande orçamento adoram isso.

Mas o apocalipse não é necessariamente a principal atração de Planeta dos Macacos: A Guerra. Os filmes de Reeves — em particular Guerra e Planeta dos Macacos: A Origem — combinam fotografia espetacular com cenas cativantes de primatas de CG se comunicando, principalmente não verbalmente. Os efeitos especiais para criar um espetáculo tão hipnótico são impressionantes em si, mas é impossível esquecer que há um humano de carne e osso atrás do nosso protagonista macaco, Caesar: o ator veterano Andy Serkis, que anteriormente (e iconicamente) interpretou Sméagol/Gollum da Franquia Senhor dos Anéis.

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Além de ser um ator talentoso e expressivo quando se trata de tecnologia de captura de movimentos, Serkis é também um ator de teatro premiado e comanda seu próprio estúdio de captura de movimento, o Imaginarium, junto com o produtor Jonathan Cavendish. Ele também está estendendo seu alcance para a direção: foi o diretor de segunda unidade dos filmes Hobbit de Peter Jackson, dirigiu uma adaptação de Jungle Book que deve chegar aos cinemas ano que vem, e este ano lança seu filme de estreia, Breathe, focado no próprio pai de Cavendish, Robin, que foi um dos sobreviventes de pólio a viver mais tempo no Reino Unido.

Leia nossa conversa sobre as ideias equivocadas das pessoas sobre captura de movimento, trazer Caesar à vida, e a vez em que um primata de verdade ficou puto com ele.

VICE: Sua performance como Caesar exigiu muita emoção durante a série. Como você abordou o papel para esse filme?
Andy Serkis: Muita gente acha que eu tenho que observar macacos em zoológicos — e, claro, isso faz parte. Mas também estamos vendo uma metáfora sobre a condição humana. Não estamos apenas interpretando primatas, estamos interpretando "primatas-plus", e isso se resume a um personagem. Você precisa copiar movimentos genéricos de primatas e estudar o comportamento de uma espécie em particular — é como aprender uma coreografia —, mas você também pergunta "Quem é esse primata? Quem é Caesar?" Essa é uma jornada diferente. Eu queria ver o que está no cerne de Caesar. O que o impulsiona? O que corre em sua conexão emocional com os seres humanos? Sempre o abordei como um humano em pele de macaco.

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Tem alguma coisa no Caesar com que você se identifica pessoalmente?
A sensação de ser um forasteiro. Amor define sua jornada porque ele é empático com a humanidade, e é capaz de ser empático com os macacos. Ele tem essa sensação de não estar em nenhum dos mundos, que é o cerne do personagem. Baseei ele num chimpanzé real chamado Oliver, que era bem conhecido nos anos 70 por ser um "humanzé". Ele era muito humano no jeito como se comportava, e seus tratadores acreditavam que tinha algo especial nele, porque ele respondia de uma maneira muito humana aos comportamentos deles.

Meu interesse em primatas começou muito tempo atrás, quando eu estava trabalhando em King King. Fui estudar macacos e gorilas em cativeiro. Passei muito tempo trabalhando com uma gorila fêmea no Zoológico de Londres, e também havia um gorila macho trazido como parte de um programa de procriação. As três gorilas do zoológico não gostaram dele, e ele não gostava nem um pouquinho de mim.

Matt Grubb.

Quando você estava na universidade, atuar foi sua primeira paixão?
Eu queria pintar. Quando eu tinha 16 anos, achei que poderia ser um artista comercial, então estudei artes plásticas sem saber que a escola que eu tinha escolhido exigia um curso subsidiário no primeiro ano. Eu não tinha pensado em nada, e eles tinham um departamento de teatro incrível, então pensei "Talvez eu deva me envolver nisso". Comecei a atuar na produção de outros estudantes, e no final do ano percebi que era aquilo que eu queria fazer.

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Teve algum momento em que você teve dúvidas sobre escolher atuar como profissão?
Sempre tive interesse em coisas variadas — pintura, fotografia e até saxofone. Teve momentos em que pensei "Sabe de uma coisa? Vou estudar jazz e me tornar saxofonista". Mas nos primeiros anos, atuar foi minha força guia. Sou muito metódico na minha abordagem de papéis. Conforme fui envelhecendo, comecei a entender a função dos meus personagens – ser objetivo e emocionalmente confiante, não apenas acreditar que eu era o personagem.

Trabalhar no teatro geralmente envolve mais esforço físico que cinema e televisão. O que você tirou do seu trabalho no teatro?
Sempre construo os personagens em torno da fisicalidade. Onde um personagem carrega sua dor? Como você se carrega? Uma coisa interessante: as pessoas tendem a achar que captura de movimento é uma coisa muito física — e em certas circunstâncias isso é verdade, mas performance de captura também te ensina a ficar bem parado. É sobre aprender como criar uma energia interna que expressa as emoções do personagem, enquanto você precisa ficar incrivelmente estático. Você tem que criar uma energia interna que apareça, e isso veio do teatro.

Tem algo que você precisa fazer para preparar seu corpo fisicamente para esses papéis?
Você precisa estar em forma para interpretar um papel como Caesar. O interpretei como um jovem chimpanzé e enquanto ele evoluía para uma forma quase primata-humano na guerra — tudo isso exigiu um grau de preparação física. Na verdade, é mais uma questão de construir inteligência muscular. Além disso, nesse filme, Caesar passa por muita coisa — ele é atacado e torturado, e estávamos filmando em condições de menos zero nos cenários externos. Você tem que se certificar de que seu corpo aguenta.

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Matt Grubb,

O que te levou a investir mais na direção?
Eu estava caminhando para a direção nos últimos 15 anos. Trabalhar n'O Hobbit foi um grande processo educativo – um teste de fogo em muitos sentidos, e certamente não o jeito como eu achava que começaria minha carreira de diretor, mas foi uma experiência incrível. Quando Jonathan Cavendish e eu montamos a Imaginarium, Breathe era um dos filmes live-action que queríamos fazer. Depois apareceu Jungle Book, que na verdade veio primeiro, depois Breathe. A história é sobre o pai de Jonathan, um pioneiro que viveu a vida ao máximo. Ele estava vivendo ao máximo até dois minutos antes de sua morte.

Você foi convidado a entrar para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em 2012 — quase uma década depois dos filmes do Senhor dos Anéis, e você ainda não foi indicado para nenhum Oscar até agora. Prêmios realmente importam para você neste ponto?
O que importa para mim, acima de tudo, é que as pessoas entendam exatamente o que é captura de performance. É atuação e é uma tecnologia que permite que os atores interpretem qualquer coisa. Alguns atores acham que isso representa uma ameaça para a profissão — não entendo o porquê —, mas para mim, filosoficamente, é a ferramenta mais libertadora que um ator do século 21 pode ter. Você pode ser um hobbit de 1,10 metro, um gorila de 8 metros ou um macaco evoluído. Não importa o seu tamanho, a sua forma, a cor da sua pele, seu sexo. Você pode encarnar qualquer coisa, e acho isso muito emocionante.

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Só quero esclarecer o que é captura de performance. É atuar — não há diferença no processo. Vamos para o cenário, trabalhamos com diretores e outros atores, criamos cenas, e essas cenas são editadas no filme, e essa tomada é renderizada. O processo é exatamente o mesmo de que se eu passasse por maquiagem antes. Tenho que ser muito firme sobre isso. As pessoas me dizem "Essas cenas são incríveis, você estava realmente lá?" E eu digo "Estamos em 2017 e você ainda me faz essa pergunta?" É isso que me deixa puto — e não importa quanto a gente tente explicar, tem essa vontade de não acreditar ou meio que uma desconexão. Se eu estivesse usando maquiagem elaborada e fazendo o mesmo papel, as pessoas entenderiam isso. Mas como fazemos através da captura de movimentos, há essa ideia de que de alguma jeito não estou realmente lá.

Você também trabalhou em videogames. Qual você acha que é o futuro da narrativa?
Fico muito empolgado com o potencial da narrativa da próxima geração. Realidade virtual e mundos de realidades mistas estão prestes a decolar. Podemos colocar captura de performance em grandes filmes e assistir em 2D. Você já ouviu falar em Secret Cinema? É um fenômeno inglês. Eles passam Moulin Rouge em um lugar secreto e vendem ingressos, mas criam um espetáculo teatral com performances e atores ao vivo. Há empresas como a Punch Drunk, uma empresa de teatro que toma uma casa e faz uma peça que pode ser quebrada e assistida de maneiras diferentes. É uma experiência de teatro realmente imersiva. Estamos trabalhando com novas plataformas, e em 20 anos estaremos vendo formas muito mais imersivas de narrativa com experiências compartilhadas — versus realidade virtual que, claro, é uma experiência individual. As experiências compartilhadas de narrativa serão uma combinação de teatro, cinema e realidades mistas.

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Tradução: Marina Schnoor

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