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Quanto a Indústria de Defesa Vai Lucrar Com um Ataque a Mísseis na Síria?

Neste momento, seis navios de guerra norte-americanos estão em espera no Mediterrâneo, carregados com centenas de mísseis prontos para atacar a Síria assim que receberem a ordem.

Um navio norte-americano dispara uma rajada (caríssima) de mísseis. Foto via,USSCarney(DDG64)andUSSTheSullivans(DDG68)launchacoordinatedvolleyofmissilesd.jpg)_

Mesmo com diplomatas trabalhando num último esforço para fazer a Síria entregar suas armas químicas para as autoridades internacionais, os Estados Unidos já estão se preparado para fazer aquilo que fazem de melhor: bombardear um país distante. Neste momento, seis navios de guerra norte-americanos estão em espera no Mediterrâneo, carregados com centenas de mísseis prontos para atacar a Síria assim que receberem a ordem. Se os esforços para fazer Bashar al-Assad entregar suas armas químicas falharem e Barack Obama der seu aval para um ataque “limitado” ao regime, esses navios vão disparar centenas de mísseis – o que significa que o Pentágono vai ter que repor seu estoque comprando mais armas com seus fornecedores de defesa como a Raytheon, a Boing e a Northrop Grumman. E quanto isso vai custar?

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Para começar, o exército norte-americano vai provavelmente querer atacar a força aérea síria. Para isso, de acordo com um relatório de Christopher Harmer, analista sênior do grupo pesquisa do Institute for the Study of War, três tipos de mísseis estarão envolvidos: Mísseis Tomahawk de Ataque Terrestre, Mísseis Conjuntos Terra-ar (JASSM em inglês) e Armas de Lançamento à Distância Conjuntas (JSOW em inglês).

Esses tipos de mísseis são, em grande parte, o que torna o orçamentos de defesa norte-americano tão gigantesco. De acordo com o DefenseNews, as primeiras semanas de intervenção norte-americana na Líbia custaram cerca de US$600 milhões e mais da metade disso (US$340 milhões) foram gastos substituindo munição, particularmente, as centenas de mísseis Tomahawk disparados no norte da África a US$1,4 milhões cada. Os JASSMs e as JSOWs são menos caros, cerca de US$900 mil e US$285 mil cada, o que também não é nenhuma pechincha.

O número de mísseis gastos no ataque a Síria vai depender de quantos alvos o exército americano decidir bombardear – e isso pode sair mais caro do que os ataques aéreos a Líbia. Um relatórios sobre os custos e riscos potenciais do ataque na Síria da RAND Corporation, um grupo de pesquisa do governo norte-americano, afirma que “centenas de mísseis lançados do mar e do ar” seriam necessários num ataque com o objetivo de destruir a força aérea de Assad. O general Martin Dempsey, presidente dos Chefes Conjuntos de Pessoal, escreveu que os militares podem “atacar centenas de alvos em um ritmo à nossa escolha".

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Um ataque na escala do que Dempsey descreveu poderia significar centenas de milhões em novos rendimentos para os fornecedores de defesa.

Duas companhias são as principais responsáveis pela fabricação dos mísseis a serem usados – a Raytheon faz os Tomahawks e as JSOWs, enquanto a Lockheed Martin faz os JASSMs. Ano passado, as duas companhias fecharam vários contratos com o governo dos Estados Unidos.

Em dezembro, o Pentágono pagou US$254,6 milhões a Raytheon por Tomahawks novos. Apenas seis meses depois, a companhia recebeu um contrato de US$33,7 milhões por mais mísseis. Isso dá aproximadamente US$600 milhões de grana do governo somente nos últimos 15 meses, e se os Tomahawks forem mesmo a arma da vez na Síria, a Raytheon pode lucrar ainda mais.

Na verdade, de acordo com o site Politico, deve haver um aumento permanente no pedido de Tomahawks, o que pode significar um pagamento ainda mais substancial para o maior produtor de mísseis do mundo.

E depois ainda temos os JASSMs. O site da Raytheon descreve os JASSMs como “uma arma terra-ar de baixo custo que emprega um sistema de navegação integrado de GPS inercial e um terminal de busca de imagens por infravermelho". Por “baixo custo” a companhia quer dizer US$285 mil por míssil. Em julho, o Pentágono assinou um cheque de $80 milhões para a Raytheon por mais alguns desses carinhas; dependendo da eficiência deles, é provável que a  Raytheon receba mais um pedido para o ano que vem.

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Em junho de 2012, Lockheed Martin, a orgulhosa fabricante dos JASSMs, recebeu US$241 milhões por 221 de seus mísseis de longa distância, que são “desenvolvidos para destruir alvos de alto valor, altamente protegidos, fixos ou móveis". Um ano depois, um pouco antes de as pessoas começarem a falar seriamente sobre uma intervenção na Síria, a força aérea americana disse que precisava de mais, pagando cerca de US$10 milhões a Lockheed Martin por mais JASSMs.

No entanto, os mísseis custam mais do que a etiqueta de preço sugere. Além de transporte e custo da equipe de manutenção e implantação dos mísseis, o exército tem que investir em tecnologia extensiva e cara de suporte para as armas que adquire. O que poderia ser parte da razão pela qual, em 28 de agosto, uma semana depois da inteligência norte-americana afirmar que o regime de Assad usou gás sarin contra civis, o Pentágono fechou um contrato de um ano de US$24,8 milhões de dólares com a Northrop Grumman para fornecer serviços de suporte técnico, incluindo a manipulação de “sistemas de ponte integradas para mísseis guiados de encouraçados".

Falei com James Jay Carafano, o vice-presidente de Estudos de Defesa do Heritage Foudation, um grupo de pesquisa de direita, sobre quais outros tipos de armas podem ser usadas num conflito na Síria, e ele disse que espera por muitos armamentos cibernéticos e bombas também.

“Acho que poderemos ver alguns exemplos das bombas mais exóticas, como as de micro-ondas que usam impulsos eletromagnéticos para derrubar redes elétricas e sistemas de computação”, ele afirmou.

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Bombas de micro-ondas, criadas para serem não letais, estão em desenvolvimento há anos; em outubro, depois de três anos e US$40 milhões de investimento em testes, a Boeing anunciou que testou com sucesso o Projeto Míssil Contra-Eletrônico Avançado de Alto Poder (CHAMP em inglês), e que a arma estava pronta para uso. Num comunicado à imprensa, Keith Coleman, o gerente de programação do CHAMP para a Boeing Phantom Works, disse: “Num futuro próximo, essa tecnologia talvez possa ser usada para render os sistemas eletrônicos e de dados do inimigo antes mesmo das primeiras tropas ou aeronaves chegarem".

Com as chances que as armas sejam usadas aumentando, o futuro pode estar realmente próximo. E se essas novas armas funcionarem como se espera, o resultado será, sem dúvida, outros contratos lucrativos para a Boeing.

Você deve estar se perguntando sobre os sequestros, a série de cortes no orçamento que começaram a ser aplicados no começo do ano – isso não deveria ter reduzido o orçamento do Pentágono e, por extensão, as fontes de renda dos fornecedores de defesa? Sim, mas Christopher Preble do Instituto Cato, um centro de pesquisas libertário, me disse que a guerra na Síria foi uma maneira de contornar essas limitações financeiras.

“Uma guerra se qualificaria como uma 'emergência', o que permite ao Pentágono pedir por fundos suplementares se preciso”, ele afirmou.

Atualmente, com cortes ou sem cortes, a indústria de defesa tem experimentado um trimestre "arrasador" em termos financeiros, de acordo com Todd Harrison, pesquisador sênior do Centro de Avaliação Estratégica e Orçamentária. Numa entrevista para o Bloomberg, ele disse que demissões combinadas a um fluxo constante de contratos permitiram às companhias de defesa lucrar o mesmo, entretanto, pagando menos aos funcionários.

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Então, mesmo que os Estados Unidos não bombardeiem a Síria – até o momento, ainda não está claro se um acordo para entregar as armas químicas do regime será realmente fechado – não se preocupe com os fornecedores de defesa americanos. Eles vão se sair bem e, muito provavelmente, continuarão fazendo grandes doações para candidatos dos dois partidos. E sempre vai haver outra guerra.

Siga o Ray no Twitter: @RayDowns

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