FYI.

This story is over 5 years old.

cenas

Fui a uma aula para aprender a dominar os homens e as suas carteiras

Aprendendo a extorquir banqueiros idiotas.

Na semana passada fiz uma aula de "Como controlar as suas Finanças" no centro de Los Angeles, na esperança de aprender preciosas lições para me tornar numa pessoa mais eficaz. Depois de ser lixada durante anos pelo sistema, era a minha vez de o lixar a ele. Por isso fui a um sítio chamado Den of Inequity, um clube de BDSM que também faz workshop especializados. A dominação financeira, para os experientes, é um fetiche em que a pessoa (geralmente homens submissos) oferece dinheiro ou presentes a gaja dominante, sem nenhuma esperança de sexo. A simples sensação de ter alguém a aproveitar-se dele já é suficiente para excitar um gajo submisso. Grande parte das aulas da Den of Inequity são sobre coisas como “tortura de pilas e do escroto” ou “como usar um chicote”. Mas como sou uma gaja pobre com um interesse amador em abusar verbalmente das pessoas, achei que seria fixe aprender algo sobre dominação financeira. Quando estou bêbeda tenho sempre essas pancas de insultar gajos. Numa noite dessas, eu estava bêbeda e mandei uma mensagem de texto ao meu ex a dizer que provavelmente ainda estaríamos juntos se a pila dele fosse do tamanho do seu ego. Posto isto, se é possível ganhar uns trocos a fazer o que curto, porque não fazê-lo? A aula estava quase a começar e só havia oito alunas. Embora o grupo fosse pequeno, o pessoal variava muito em idade e nível de experiência. A nossa professora, uma gaja chamada Seva, pediu para que nos apresentássemos rapidamente. A gaja mais velha da sala parecia ser a mais experiente. Era uma loira de meia-idade, bem-humorada, e contou-me que a sua especialidade actual era “ser mãe para gajos que curtiam infantilismo”. No entanto, houve um gajo que recentemente lhe tinha comprado um Mercedes e isso despertou-lhe interesse pela dominação financeira (o meu interesse despertou por bem menos). Outra gaja disse que era dominatrix, mas que também era estudante de design de videojogos. Éramos um verdadeiro amontoado de sadomasoquistas. A aula durou três horas. Como provavelmente não terias coragem de meter lá os pés, aqui vão as principais lições que aprendi durante esse tempo: ESCRAVOS FINANCEIROS NÃO SÃO AMANTES RICOS
A nossa instrutora, Seva (a tipa da foto acima!), é, segundo ela, considerada uma das principais dominatrizes financeiras do mundo. Está no ramo há 20 anos. Quando entrou na sala começou a escrever o significado de escravo financeiro num pequeno quadro preto. “Homens submissos que têm fetiche em gastar dinheiro com mulheres dominantes, ou com mulheres no geral, ou dar dinheiro e presentes sem receber qualquer contacto sexual em troca”. Continuou a explicar que isso é diferente de ter um “amante rico”, porque não há troca nem esperança de troca em retorno. Normalmente, não há nenhum tipo de contacto físico entre a fin-domme (termo usado para definir uma financial dominatrix) e o seu escravo. Segundo a Seva: “Gastar dinheiro com uma dominatrix é a motivação do escravo… Esse fetiche vem de um sentimento de inadaptação,  como se, de certa maneira, não fosse do mesmo nível que tu.” Geralmente, esses gajos aceitam a escravidão financeira por causa de outros fetiches anteriores. Como quando compras uma bebida energética nas bombas da gasolina e o empregado te diz: “Se levares outro fica por metade do preço”. A relação de uma fin-domme com o seu escravo não passa apenas por lhe sacar dinheiro, também inclui gozar com ele por telefone ou por e-mail. Tens de fazer tudo para o humilhar: dizer que tem uma pila pequena, que é cornudo ou garantir que ele não fica teso. Tudo isto são partes do jogo entre a dominadora e o seu escravo. ESCRAVOS FINANCEIROS SÃO PESSOAS COM PROBLEMAS REAIS
Durante a aula, perguntei à Seva se ela podia falar melhor sobre o sentimento de inadaptação do escravo. A professora deu como exemplo homens gordos ou socialmente incompetentes. Talvez homens vindos de famílias poderosas que se sentem incapazes de corresponder às expectativas da família ou então recém-divorciados. A Seva resumiu que, no subconsciente deles, ser um escravo financeiro é uma solução. Estes homens não querem fazer sexo porque se sentem inferiores. Frequentemente isso torna-se num vício. Querem-se arruinar e estar sempre perto da falência só para satisfazer gajas que não lhes dão nada. Fiquei chocada ao ouvi-la falar sobre isso de maneira tão crua e directa. Este não era o tipo de homem que eu queria destruir. Eu tinha imaginado que os escravos financeiros eram todos gajos de negócios bem sucedidos. Gajos muito feios com altos cargos de chefia. Tinha imaginado banqueiros com o cabelo penteado para trás, com vários pares de sapatos de pele de cobra e que riam quando despediam pessoas pobres. Gajos que podiam cagar em dez mil euros, como se não fosse nada, e que gostavam de ser mal tratados. Assim eu podia tornar-me numa espécie de Robin dos Bosques, tirar aos ricos para dar aos pobres. Mais tarde, na aula, a professora fez com que eu me sentisse um pouco mais descansada. Lembrou-me que, seja lá qual for a razão para esses homens se sentirem fúteis, no final de contas, é exactamente isso o que eles querem. Eles sentem prazer — explicou ela — ao exporem o seu maior medo: serem dominados por gajas que lhes vão sacar o dinheiro todo. É por isso que, como fin-domme (ou princesa, princesa paga, dominatrix monetária… os fetiches têm sempre montes de termos), precisas de deixar claro ao teu escravo (ou porco, otário, falhado, etc.) que não precisas do dinheiro dele. Nunca implores pelo dinheiro dele. Exige, mas deixa claro que se ele não te der o dinheiro, isso não te vai afectar em nada, basicamente mente-lhe na cara.

NA VERDADE, ESTAMOS A FALAR DE UM TRABALHO DIFÍCIL
A Seva passou um bom bocado a falar de todas as prendas que já tinha recebido. Disse que a sua casa estava cheia de caixas ainda por abrir e que a sua carreira chegou a um ponto em que ela pode viver só dos seus escravos. Também nos deu uma lista com os melhores sites onde podemos anunciar os nossos serviços e as várias formas de aceitar o pagamento. Ela não recomendava o PayPal, mas disse que havia outros sites de pagamento electrónico, como o giftRocket.com, eram óptimos.  Como boa tutora que é, também nos chamou à atenção que este ofício parece fácil mas não é. Esquecendo toda a competição entre as dominatrixes, tu também precisas de ter consciência de que não podes infringir a lei. É preciso saber quais são os limites — basicamente, até onde podes ir — quando se trata de coisas como chantagem, acesso a informações do cartão de crédito, etc. Além disso, tens de te certificar que o teu nome verdadeiro e o teu número de telemóvel ficam no segredo dos deus — por vezes os dominados tornam-se perigosos. OS ESCRAVOS TAMBÉM SE PODEM APROVEITAR DE TI
Na última parte da aula, a Seva trouxe um dos seus escravos para conversar connosco, isto é, observar e examinar. A instrutora deu-lhe a palavra para ficarmos com uma ideia daquilo que lhe passava pela cabeça. Logo, de forma directa, começou por citar Nietzsche: “O homem de verdade quer duas coisas: perigo e jogo. É por essa razão que ele quer uma mulher, o brinquedo mais perigoso de todos.” Percebi logo que não ia gostar de mais nada daquilo que ele viesse a dizer. Ele explicou a sua perspectiva de como era ser um escravo e da tesão que sentia quando uma mulher lhe mandava fazer alguma coisa. Disse que a sua maior fantasia era que uma gaja o usasse como um moço de recados, ou até assinar um contrato para dar o seu apartamento a uma mulher. Depois disse que nós, mulheres, éramos óptimas a manipular e humilhar. Ser um escravo de uma mulher “apelava ao seu ego”, disse ele. Destacou também que a manipulação era uma jogada de duplo sentido, isto é, os homens fazem-se de ingénuos tanto quanto as mulheres que se fazem de difíceis. Saí da aula a saber que nunca vou conseguir dedicar-me a esse estilo de vida. Isto apesar da Seva ter sido uma instrutora maravilhosa, honesta, clara e que tenha feito com que a dominação financeira parecesse algo atraente. Quando se trata de partir para a prática, tem de ser uma coisa que tu realmente queres. Esse jogo tem de te excitar a ti tanto quanto excita os gajos. Basicamente, não é possível ser-se uma fin-domme pela metade, que é como eu costumo fazer sempre as coisas. Acho que, por enquanto, vou ficar só pelos ataques de ódio por sms a meio da noite, sem benefícios materiais. Para mim, parece um plano melhor.