Crédito: YouTube
Na última semana, o Monte Otake, o segundo vulcão mais alto do Japão, entrou em erupção, encurralando mais de 250 andarilhos e matando pelo menos 30. O vulcão continua a exalar fumaça, e a emissão de gases tóxicos deteve esforços de resgate na área. Ninguém previu isso, nem mesmo a Agência Meteorológica do Japão (AMJ), cuja rede de monitoramento é considerada a mais avançada do mundo."Não houve outros sinais de erupção iminente, como movimentos da terra ou mudanças na superfície da montanha", um representante da AMJ contou ao Guardian. Ainda assim, dado o tipo de erupção desencadeada pelo Monte Ontake (uma erupção freática), deveria haver um grande terremoto antes, que engatilharia o sistema de alerta.Uma erupção freática carrega esse título porque o magma embaixo do solo esquenta tanto a água, que ela rapidamente evapora, causando uma explosão e um terremoto correspondente. A explosão é uma nuvem cinzenta de água evaporada, pedras, cinzas e grande bolas de lava, conhecidas como "bombas vulcânicas". As bombas recebem esse nome por conta da distância que percorrem no ar e do formato aerodinâmico que adquirem.Segundo a AMJ, o Monte Ontake não passou por um grande terremoto. Não estamos falando de ladainhas, de uma agência que costuma errar; o sistema de monitoramento de vulcões e terremotos da AMJ é considerado o mais amplo e sofisticado do mundo. O Japão tem mais vulcões que qualquer outro país, ostentando 109 vulcões só no continente e um número total de 118, se contarmos as ilhas vulcânicas por perto. De acordo com a AMJ, 110 estão ativos.O Japão tem muitos vulcões porque está localizado bem numa "zona de subducção, entre três placas". Em termos mais simples, significa que a ilha está perto do encontro de três placas tectônicas — no caso, placas tectônicas são peças sólidas da camada externa da Terra, cientificamente conhecida como litosfera.Existem sete (ou oito, dependendo da definição que usarmos) grandes placas cobrindo a Terra, e diversas placas menores. Quando elas se movem (a camada abaixo é mais viscosa, então as placas se movimentam com frequência), geram terremotos e erupções vulcânicas na superfície terrestre. E quando colidem, também podem gerar montanhas, como o Himalaia.O Japão está bem onde duas grandes placas e uma das maiores pequenas placas se roçam. O movimento e a fricção entre elas são responsáveis por terremotos (e tsunamis), vulcões, montanhas e ilhas do país. São responsáveis até pelo próprio Japão.Para lidar com toda essa atividade tectônica, a AMJ tem a maior rede de observação do mundo para observar ondas sísmicas, isto é, vibrações na Terra causadas pelos movimentos das profundezas. A AMJ opera 187 sismógrafos e 627 medidores de intensidade sísmica próprios, enquanto coleta dados de mais de 3.600 medidores, administrados pelo Instituto Nacional de Observação da Terra e Prevenção de Desastres (NIED), um conglomerado multinacional sediado no Japão.Segundo a AMJ, cerca de 15 erupções vulcânicas e mais de 1.500 terremotos ocorrem por ano, isso só nas redondezas do país. A agência sempre está com a mão na massa.Além da atividade do Monte Ontake no sábado, dois terremotos atingiram a província de Fukushima quarta passada. No começo de setembro, o vulcão Suwanose-jima, na ilha de Ryukyu, emitiu uma pluma de cinzas, assim como o vulcão de Sakurajima, na ilha de Kyushu, cujo nível de alerta também aumentou, pois estava explodindo várias vezes por dia.Além de toda essa atividade, a pequena ilha de Nishinoshima foi tomada pela lava de um vulcão recém-formado ano passado, e continua a crescer, diariamente, à medida que o vulcão continua cuspindo lava. Se a lava da ilha recém-formada cair no oceano, autoridades temem que cause um tsunami.Dos cento e tantos sismógrafos do país, 47 estão próximos aos vulcões mais ativos, vários deles no Monte Ontake. Os sismômetros localizados ao redor do Monte Ontake chegaram a registrar pequenos rumores sob o solo a partir do dia 10 de setembro, mas a AMJ não achou nada demais. Pareciam ocorrências pequenas, comuns, em comparação à história do vulcão (quando o Monte Ontake entrou em erupção em 1991, por exemplo) e em comparação a outros rumores que ocorrem no país com frequência.A erupção do Monte Ontake sem um grande terremoto para engatilhá-la é um alerta para algo novo. Com milhares de equipamentos de monitoramento espalhados pelo Japão, ontem tivemos uma demonstração ameaçadora de como a Terra ainda pode ser aleatória.Tradução: Stephanie Fernandes
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