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Música

A História Oral do Sick Of It All, Parte 1: Início, Recomeços e Suásticas

Esse é um relato barulhento sobre longevidade e tradição no hardcore.

Foto cedida por Sick Of It All No fugaz mundo do hardcore punk, o Sick Of It All se destaca por si só. A banda está na sua terceira década entre turnês e gravações, tendo lançado 10 sólidos discos com quase nenhuma mudança em sua formação. Com o lançamento de Scratch the Surface, em 1994, eles levaram o hardcore nova-iorquino pro resto do mundo e, desde então, raramente pararam pra respirar. A banda é o mais próximo que a cena hardcore tem de uma prata da casa. Resumindo: são verdadeiras lendas.

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A banda foi formada em 1986 com os irmãos Lou e Pete Koller (vocais e guitarra, respectivamente), Rich Cipriano no baixo e Armand Majidi na bateria, no Queens, em Nova York, durante o boom do hardcore da cidade. No decorrer da carreira, a banda só teve duas mudanças na formação, com a entrada temporária de Max Capshaw na bateria em 1989 e a substituição de Cipriano por Craig Setari em 1992. Junto de um punhado de outras bandas, o Sick Of It All ajudou a criar um estilo de música e comunidade que existe até hoje.

O Noisey parou pra bater um papo com os caras sobre sua duradoura e imprevisível história como titãs da cena NYHC.

Lou Koller: A gente costumava dar rolê juntos. Tinha o Rest in Pieces, Straight Ahead… O começo da cena hardcore. A gente queria fazer o nosso lance. Na época, nossos pais costumavam viajar e passar duas semanas fora durante o verão, então a gente ficava tocando no porão. Armand e Craig chegavam lá e a gente ficava tocando um monte de música besta que inventávamos. Tocávamos alto pra cacete; era dia e os vizinhos ficavam lá do lado de fora olhando pra casa. Eventualmente, Pete e eu decidimos que queríamos ter uma banda de verdade.

Pete Koller: Armand estudava na mesma escola que a gente; o Rich era um dos amigos da vizinhança. Naqueles tempos, se você curtia determinado tipo de música, acabava conhecendo todo mundo que curtia porque simplesmente não tinha tanta gente assim. Se você via alguém calçando Doc Martens, sabia que essa pessoa curtia hardcore ou punk. Armand tinha um talento natural, então era fácil acompanhá-lo. A formação era eu, Lou, um mano chamado Mark McNeilly no baixo e David Lam na bateria. Mark e Dave tocaram um show com a gente. Armand entrou como nosso baterista depois disso. Armand Majidi: Minha história é esquisita: nasci no Irã e morei lá até os 12 anos, então mudei para o Queens após a Revolução. Morei na casa de meus avós por uns anos em Jamaica, no Queens, e estudei em Flushing, onde conheci Lou e Pete. Nos conhecemos por volta de 1982, uns quatro anos antes da banda começar.

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De primeira, éramos todos uns metaleiros. Um dia eu estava caminhando de volta pra casa, e naqueles tempos era bem óbvio quando alguém curtia metal ou hardcore. Era o visual, tínhamos um tipo de afinidade. Logo começamos a conversar e nos esbarramos de novo na escola, a Francis Lewis High School, em Flushing, Queens. Bem naquela época eu ouvia muito metal, mas estava descobrindo o hardcore. Tinha um programa na rádio chamado Noise, que meio que apresentava pra gente tudo que rolava de novo no hardcore de Nova York, bem como o que rolava na Califórnia, tudo que vinha da Inglaterra. Aquilo tudo se misturou com metal que a gente já gostava; acabamos curtindo tudo.

Todo mundo naquele momento estava começando uma banda. A minha primeira foi o Rest in Pieces, de Westchester. Entrei e comecei na guitarra, mas acabei como vocalista. Craig então me convidou para entrar na banda dele, que eventualmente se tornaria o Straight Ahead. Enquanto aquelas duas bandas rolavam, Lou e Pete montaram uma também. No começo era esse cara Mark no baixo e o Little Dave na bateria. Era interessante porque o Dave era chinês: um chinês metido a White Power. Para que isso fizesse algum sentido, você teria que viver em meados dos anos 80 pra entender como certas pessoas funcionavam, porque ao mesmo tempo você tinha esses manos porto-riquenhos com tatuagens nazi na cena hardcore de Nova York. Era uma época bem confusa em termos de política. Ele era o baterista original, mas não durou muito tempo na banda; talvez ele não curtisse o lance ou sua visão de mundo era tão diferente da do resto do pessoal que ele meio que acabou ficando do lado de fora.

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O lance nazi todo era meio que um esquema Sid Vicious: aquele negócio punk rock de ofender todo mundo ao redor. Era um jeito muito fácil de emputecer as pessoas. Nos anos 80 as pessoas associavam a suástica tanto com o punk quanto com a Alemanha nazista. Não tinha lá o mesmo significado; era só um “foda-se” bem grandão pro mundo. Não é como se rolasse alguma ideologia política mesmo. Mas o engraçado com o Dave é que ele começou a se interessar pela política; um chinês entrando em contato com um monte de grupos White Power por todo os EUA. Era bizarro… muito bizarro, porque se descobrissem que ele era chinês, não ficariam nada felizes.

Lou: Ele já tinha todo aquele visual skinhead e depois se envolveu com isso de White Power. Acho que ele percebeu que precisava ser assim para ser skinhead.

Armand: Quando eu cantava no Rest in Pieces, estava nessa de mandar tudo pro caralho. Usei até uma camisa do Skrewdriver em uma das matinês – emprestei do Dave, na real –, só pra irritar geral. Acabou virando sensação na internet. Era uma puta roupa ridícula. Se você procurar vídeos do Rest in Pieces no YouTube, esse aparece na frente de todos os outros.

O primeiro show

Armand: Foi o Craig quem conseguiu o primeiro show do Sick Of It All. A cena hardcore de Long Island estava com tudo; o Youth of Today ia tocar lá e foi o primeiro show que ele conseguiu. Na noite anterior o Rest in Pieces tinha tocado com o Youth of Today na Filadélfia, e acabou que fiquei por lá com os caras do Youth of Today e peguei a carona de volta pro próximo show com o Sick Of It All.

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Pete: Craig marcou nosso primeiro show na Right Tracks Inn, em Long Island.

Craig Setari: Eu marquei o primeiro show deles. Na época eu tocava no Youth of Today e marquei um show. Era com Youth of Today e Straight Ahead; eu ia tocar nas duas bandas. O Crippled Youth e SOIA iam abrir. Eu perguntava direto se estavam ensaiando e eles diziam “Não temos certeza”, então coloquei no flyer os dizeres “Convidado especial”. Quando confirmaram, acabaram tocando no show. Acho que isso foi no verão de 1986.

Lou: Craig disse: “Vocês têm que tocar nesse show”. A gente achava que não estava pronto, só estávamos ensaiando há um mês e ele falou “se vocês não estão prontos agora, nunca estarão”. Ele jogou a gente lá e estávamos cagados de medo. Nosso primeiro show e o Craig meio que forçou a gente lá. Fomos bem – um monte de amigos apareceu: Anthony e Ernie do Token Entry estavam lá. Fomos espertos, tocamos todas as nossas músicas primeiro e fechamos com um cover do Cause for Alarm. A banda tinha acabado faz pouco tempo e a galera surtou quando mandamos o cover.

A essa altura já usávamos o nome Sick Of It All. Antes disso passamos por outros como General Chaos. Pete quem apareceu com o nome, mas Dave queria mudar para “Sick of All”. Eu zoei que parecia coisa de chinês querendo falar inglês.

Dave virou fuzileiro naval. Um tempo depois ele apareceu num show nosso com mais um monte de fuzileiros. Foi engraçado porque quase todos eles eram negões.

Mike Hill toca no Tombs, ama café, e se destaca em um monte de outros ramos criativos; siga-o no Twitter.

Tradução: Thiago “Índio” Silva