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Tecnologia

De Que Cores Eram as Penas dos Dinossauros?

Será que o Tyrannosaurus rex era coberto de tons brilhantes, extravagantes, ou algo mais modesto?
Representação de um dinossauro com penas. Crédito: Shutterstock

Um dos mistérios mais fascinantes dos dinossauros — e da fauna extinta em geral — é a coloração deles. Será que o Tyrannosaurus rex era coberto de tons brilhantes, extravagantes, ou algo mais modesto? Que matizes o primeiro dinossauro voador exibia nas penas? Reconstruir não apenas a morfologia desses animais majestosos, mas também seus padrões de cores, é um dos objetivos da paleontologia há séculos.

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O paleontólogo Ryan Carney, da Universidade Brown, está na vanguarda desse campo, particularmente no que diz respeito à espécie de transição Archaeopteryx. Carney chama o animal afetuosamente de "Mona Lisa da paleontologia", por conta de sua rica história cultural e posição consagrada como marco na evolução das aves.

Em 2011, Carney e seus colegas publicaram uma análise aprofundada dos "melanossomos" presentes numa pena de Archaeopteryx fossilizado. Melanossomos são organelas que produzem e transportam melanina, o pigmento mais abundante do reino animal, e são a chave para decodificar as cores de espécies mortas há muito tempo.

"O tamanho e formato dos melanossomos estão muito ligados ao tipo de cor que produzem", Carney me contou ao telefone. "Melanossomos redondos como almôndegas são responsáveis pelos tons de vermelho e às vezes amarelo. Melanossomos mais longos, semelhantes a cachorros-quentes, produzem os tons de cinza, preto e iridescência."

"Com base nas penas dos fósseis, comparando-as com melanossomos de pássaros vivos, conseguimos distinguir as cores [dos dinossauros] com um grau quantitativo de certeza", acrescentou. No caso do Archaeopteryx, determinaram que as penas eram pretas.

O estudo de Carney gerou controvérsias — alguns paleontólogos argumentaram que os melanossomos, na verdade, eram microrganismos, enquanto outros questionaram as descobertas das cores, alegando que o Archaeopteryx era preto e branco. Na última quarta-feira, no 74o Encontro da Sociedade da Paleontologia de Vertebrados, Carney apresentou novas provas, refutando as polêmicas.

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As evidências foram coletadas com uma nova técnica, conhecida como ToF-SIMS (sigla inglesa para Espectrômetro de Massa por Íons Secundários — por Tempo de Vôo). "É um método muito interessante, e recorremos a ele porque houve controvérsias, alegações de que melanossomos têm o mesmo tamanho e formato que bactérias", disse ele.

A ideia é bombardear fósseis com átomos que desalojam e dispersam partículas, moléculas e íons da superfície fossilizada. "O que a máquina faz é calcular a duração do vôo", explicou Carney. "Basicamente, as partículas mais pesadas não voam como as mais leves, então dá para inferir a massa dessas partículas com base no tempo de vôo. Examinando todas essas informações, é possível reconstruir a estrutura molecular do que estava naquela superfície."

Analisar as penas do Archaeopteryx com o ToF-SIMS corroborou com as descobertas originais de Carney. "Temos provas claras de que [a pena] era toda preta, e não preta e branca", ele me contou, e de que as estruturas definitivamente são melanossomos portadores de pigmentos, não micróbios.

Carney apresentou as novas descobertas apenas uma semana após outro artigo intrigante sobre cores de dinossauros, intitulado "Beyond the rainbow" ("Além do arco-íris"), ser publicado na revista Science. A principal autora do artigo, a paleontóloga Marie-Claire Koschowitz, da Universidade de Bonn, argumentou que dinossauros podem ter desenvolvido penas para chamar atenção para o cortejo com cor e brilho, sendo o vôo uma adaptação posterior.

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"Até agora, a evolução das penas foi considerada uma adaptação relacionada ao voo ou ao sangue quente, com poucas especulações sobre a potencialidade do cortejo", Koschowitz contou numa declaração.

"Nenhuma dessas teorias me convenceu de todo", ela prosseguiu. "As penas devem ter um atributo importante atrelado a elas, pois são únicas e espalharam-se rapidamente entre os antepassados das aves que conhecemos hoje."

Koschowitz acredita que esse atributo era a percepção sagaz de cores por parte dos dinossauros, que pode ter sido muito mais sofisticada que a nossa. As penas exibem uma diversidade de cores e iridescência que pele e pêlo não têm. Talvez os dinossauros tenham desenvolvido a plumagem porque eram capazes de captar um leque muito mais amplo de cores, em oposição a outras classes — incluindo mamíferos.

Seguindo essa linha de raciocínio, Carney está ansioso para isolar a assinatura de diversas cores presentes em fósseis de dinossauros, além do Archaeopteryx de asas negras.

"Agora, estamos utilizando o método ToF-SIMS para buscar outros tipos de pigmentos, outros compostos orgânicos, e tentar expandir a paleta de cores para reconstruir vidas antigas", disse ele. Carney não perde tempo mesmo — o paleontólogo já isolou um melanossomo que produz iridescência de um Microraptor fossilizado, sugerindo que o pequeno raptor tinha um brilho lustroso na plumagem.

Identificar outras matizes e padrões levará tempo, e provavelmente será um empredimento tão controverso quanto as descobertas de Carney em 2011. Mas se nos providenciarem um livro de colorir de dinossauros certinho, valerá a pena. A próxima geração de crianças obcecadas por dinossauros merece saber exatamente como era um T-Rex, com penas de arco-íris e tudo mais.

Tradução: Stephanie Fernandes