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Tecnologia

A Máquina que Imprime Histórias de Amor em 3D

Um projeto que dá forma às memórias afetivas usa a impressão 3D para criar objetos únicos.

Esses são Maria Cecília e Rubens. Eles estão casados há 37 anos. Ele foi o primeiro namorado dela. Ela diz que as duas filhas deles se orgulham da relação dos dois. E eles farão uma tatuagem por causa desse amor. Não vão escrever o nome de um no outro. Eles vão desenhar a própria história transformada numa mandala, essa da foto, criada com o Love Project.

Eles deram forma à memória deles numa sala branca de uma galeria de arte da Barra Funda, onde uma série de traquitanas se conectava a programas de modelagem e uma impressora 3D. A dureza ficava só no maquinário. Eles, assim como outros participantes do projeto, amoleceram o coração assim que entraram na experiência.

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O Pavoni e o Guto em frente a algumas das mandalas. Crédito: Felipe Maia

"As coisas mais lindas que ele já me disse foram ali dentro", me disse Maria Cecília, logo que saiu da sala. Do lado de fora esperavam Edson Pavoni, da D3, e Guto Requena. Eles assinam o projeto que fez parte da Design Weekend, em São Paulo. "Gosto da ideia de esculpir memória e essa coisa do amor me persegue nos meus trabalhos", contou Guto.

Se teve quem gastasse lágrimas, não dá pra dizer que o Love Project surgiu voltado ao desperdício. Segundo os criadores, o conceito é sustentabilidade afetiva. "É o máximo de impacto sensorial com o mínimo de impacto ambiental", explicou Pavoni. A ideia vai em paralelo aos caminhos já tomados por Guto, que em 2012 criou uma cadeira, a Nóize, nesses moldes.

"Quero ser mais codesigner do produto, incluir o usuário nele. Vem a questão da autoria, porque também há uma equipe envolvida, e do remix, porque na era digital tudo é zero e um", me disse o Guto. Ele contou que o embrião do Love Project também surgiu no ano passado, mas demorou um ano e meio entre o primeiro rascunho, muitos erros, e o acerto final.

Conectada a sensores que medem atividade cerebral, níveis de suor, batimentos cardíacos e frequências de voz, uma pessoa conta sua história de amor. As informações capturadas no momento viram uma ilustração baseada no molde de uma mandala que, posteriormente, ganha um modelo 3D impresso em plástico ABS. Segundo eles, um material reciclável.

Os dois me explicaram que as linhas de cada desenho variam segundo as reações de cada pessoa. Uma frequência vocal maior expande o círculo, enquanto batimentos mais acelerados aumentam sua espessura. Cada história uma forma. "Se você comprar algo, talvez saia de moda. Se alguém te dá isso, há um vínculo. Se você faz, tem sentimento", concluiu Pavoni.

Eles pretendem expandir o projeto. Pensam em fazer um aplicativo, levando a produção para além da sala branca em um dia marcado. Também planejam passar com o Love Project em escolas do país. "Quando você dá capacidade de criação, a pessoa se envolve mais", fechou Guto. Maria Cecília e Rubens tanto se envolveram que, além da mandala, levaram uma tatuagem. E mais um pouco de história.