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Quando a Polícia Sul-Africana Vai Parar de Arrastar Pessoas com Suas Viaturas?

Policiais uniformizados algemaram um taxista na traseira de uma de suas viaturas e saíram dirigindo na frente de uma multidão.

No começo deste mês, policiais sul-africanos amarraram um homem atrás de sua van e o arrastaram por quase meio quilômetro. Esse caso terrível de brutalidade policial foi filmado no distrito de Daveyton, próximo de Joanesburgo. Policiais uniformizados algemaram um taxista na traseira de uma de suas viaturas e saíram dirigindo na frente de uma multidão.

O homem, identificado como Mido Macia, foi encontrado morto algumas horas depois numa cela policial com ferimentos na cabeça e no abdômen, além de hemorragia interna. A autópsia revelou que ele morreu por causa desses ferimentos que, segundo outros detentos de Daveyton, foram feitos enquanto ele era espancado até a morte. Um dos policiais em questão afirma que Macia tomou sua arma e o atacou, como se legítima defesa fosse desculpa para arrastar um homem atrás de um carro e espancá-lo até a morte.

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Apesar de ser uma história atroz e chocante, a violência policial se tornou criminalmente fora de controle no que supostamente seria o país mais desenvolvido da África. Desde 2009, uma média de 860 sul-africanos morrem todo ano sob custódia da polícia ou como resultado de ação policial. Os policiais frequentemente são acusados de brutalidade e corrupção, e eventualmente até de estupro e assassinato, o que obviamente não é o tipo de coisa que você espera das pessoas pagas para te proteger.

Se eles cometem os crimes que supostamente deveriam estar prevenindo, então como é possível que os civis tenham alguma confiança neles? Lembra no ano passado quando a polícia atirou em 34 pessoas durante a greve nas minas Marikana? Ou, na outra semana, quando o principal detetive incumbido do caso do assassinato da namorada de Oscar Pistorius foi tirado do caso por ser acusado de tentar matar um taxista em 2009? Apesar de tudo isso, a gravidade desse último linchamento conseguiu chocar uma nação que se formou acostumada com esse tipo de comportamento.

De acordo com Jacob Van Garderen, diretor nacional da Lawyers For Human Rights de Joanesburgo, a violência policial não vai parar tão cedo. “Incidentes de brutalidade policial estão aumentando na África do Sul, e organizações de direitos humanos e grupos sociais estão muito preocupados com essa tendência”, diz Jacob. “A polícia sul-africana precisa reconsiderar sua abordagem, se distanciar do policiamento agressivo do passado e tentar uma abordagem mais profissional na prevenção do crime.”

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Riah Phiyega.

A comissária de polícia Riah Phiyega pediu que os sul-africanos “continuem vigilantes e informem todos os atos criminosos, independente de quem esteja envolvido”. Ela também disse a um grupo de policiais que a reputação deles “tornou-se severamente, mas não irremediavelmente, manchada nos últimos anos”. Você provavelmente sabe que essa é a mesma mulher que disse “não se sintam mal pelo que aconteceu” para os policiais que atiraram nos mineradores de Marikana quando eles foram levados a julgamento por 70 acusações, incluindo assassinato. E o comissário de polícia anterior, Bheki Cele, era o homem que queria mudar a lei para que a polícia pudesse “atirar para matar” quando estivesse perseguindo um suspeito, sem ter que “se preocupar com o que acontecer depois”. Com pessoas assim no comando, não é de surpreender que a polícia tenha reescrito a definição de seu trabalho.

Macia, um taxista de 27 anos, era de Moçambique, então esse não é apenas outro caso de violência policial no país, e sim outro ataque xenófobo para adicionar à lista. A xenofobia atingiu seu pico na África do Sul em 2008, resultando em 50 mortes e forçando milhares a fugir. Pessoas de Zimbábue, Moçambique e outros povos africanos inundaram a África do Sul para escapar das condições de vida violentas em seus próprios países, mas acabaram encarando coisa muito pior quando chegaram aqui. Esses ataques acontecem em ondas, os imigrantes vivem com medo de outro surto de violência nacional e, com a polícia dando esse tipo de exemplo, esse medo é totalmente justificado.

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Esse medo também é exacerbado quando os próprios policiais são acusados de ataques xenofóbicos, explica Jacob: “Os ataques cometidos por policiais contra estrangeiros são um grande problema. Temos visto muitos incidentes de ataques racistas desse tipo, mas ainda não ficou claro se essa foi a causa do ataque ao taxista moçambicano”.

Enquanto os moradores filmavam Macia lutando pela vida, alguns gritavam em zulu avisando os policiais sobre a gravação, mas isso pareceu não ter importância para eles. Macia aparentemente tinha entrado numa pequena discussão com um policial sobre onde tinha estacionado seu minicarro. O policial insistiu que ele estava obstruindo o trânsito e obviamente imaginou que arrastar o taxista atrás de um carro em público seria uma punição justa. Jacob concorda que esse nível de punição foi totalmente desnecessário: “Isso fica bastante evidente no vídeo. O taxista já está contido, não há necessidade de arrastá-lo atrás da van nem da violência que aparentemente ele sofreu depois”.

O fato de ter uma multidão assistindo todas as ações dos policiais parece não incomodá-los. “É essa impunidade que é o problema – o fato de que eles se acham acima de reprovação e das consequências de seus atos”, explica Jacob.

Quando um dos espectadores na filmagem grita perguntando o que o homem tinha feito, um policial responde: “Foi ele quem começou!”. Lembro de usar essa mesma desculpa quando tinha uns seis anos e chutei meu irmão no saco depois que ele me chamou de um nome feio. É claro que minha mãe não aceitou essa desculpa, então vamos esperar que o governo da África do Sul faça o mesmo e que a justiça seja feita o mais rápido possível. Ou os policiais vão ter licença garantida para continuar governando os cidadãos da África do Sul com os métodos injustos e bárbaros que eles acham correto aplicar.

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