Em Yucca Valley, Califórnia, uma estátua de cimento de três metros de Jesus fica no topo de uma colina. Com as mãos juntas numa prece, ele olha com reverência para o céu. Seu reino de armazéns, bares, estandes de tiro e estacionamentos de trailers se espalha pela paisagem árida abaixo. Seu criador foi um homem, não Deus; e, como um homem, Jesus também foi se desgastando nesse mundo. O tempo reduziu seu nariz a um toco. Tinta branca descasca dos seus cabelos moldados. E essa é a estátua mais bem cuidada do Desert Christ Park.
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O resto das estátuas do parque não tem seguidores as puxando, como o barco a vapor de Fitzcarraldo, para cima da colina de 30 metros. Ninguém sabe se é por isso que elas decaíram mais do que seu colega enorme. Apesar de tudo, elas continuam de pé, mesmo com o concreto corroído pelo vento e pela poeira, revelando ossos de metal enferrujado ladeando uma réplica de três andares da Santa Ceia. Estátuas de crianças, com os rostos erodidos apocalipticamente, encaram as visões estoicas e sem vida de personagens bíblicos igualmente decadentes. Antone Martin, seu criador, esperava que elas resistissem à ameaça atômica que coloriu a vida dos EUA no meio do século passado. Agora, parece que esse não seria o caso, mesmo que a bomba nunca tenha caído.
Martin tinha medo de bombas porque seu trabalho era fabricá-las para os militares. Em 1951, ele moldou sua primeira estátua de Cristo com cinco toneladas de cimento: sua intenção era colocá-la na beira do Grand Canyon como um "símbolo de paz para a humanidade". Depois que o governo dos EUA rejeitou gentilmente sua oferta, explicando a ele o conceito de separação entre Estado e igreja no país, ele batizou a estátua de "O Cristo Indesejado" – isso até a Igreja de Yucca Valley, que prometeu a colocar no topo da colina para todos verem, a querer. Assim, ele se mudou para lá e passou os dez anos seguintes (ele morreu em 1961) construindo as outras figuras do parque.
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Na última vez que visitei o parque, nuvens escuras e agourentas cobriam o céu, acrescentando um elemento ainda mais sinistro à sua decadência. Um carro cheio de adolescentes bebendo cerveja e fumando maconha estava parado no estacionamento: no som, tocava a rádio Top 40. Eles eram os únicos outros visitantes do parque. Apesar de ter sido pensado para contar a história da Bíblia, o Desert Christ Park agora serve apenas como uma previsão sombria do ocaso da humanidade.Siga a Megan Koester no Twitter.Tradução: Marina Schnoor