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análise

Por enquanto, o Sarahah não tem se mostrado tão ruim assim

Entre mensagens safadinhas e de admiração, o app permite que você deixe recados anônimos para outras pessoas.
Mutual Admiration. John George Brown. Foto via: Wikimedia Commons.

Quando o "app do momento" começou a se popularizar entre meus amigos e conhecidos tremi um pouco na base, admito. O que esperar de um aplicativo que garante anonimato e incentiva os usuários a escreverem coisas sobre você além de um pesadelo sem fim? A lembrança do Secret, o outro aplicativo infame que deu tão ruim que foi proibido no Brasil ainda estava fresca na minha memória, porém, mesmo assim abri uma conta no Sarahah. Afinal de contas, atire a primeira pedra quem não quer saber o que os outros acham de você. Desde a criação do aplicativo, já são 8 milhões de usuários no mundo.

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O nome da plataforma, de origem árabe, significa "franqueza" e incentiva os outros a deixarem "mensagens construtivas" para alguém. A premissa no site chega até ser meio ruim porque serve para você "descobrir seus pontos fortes". Uma grande senha para a merda, considerando que ser troll hoje em dia é quase um status.

Não faltam críticas ao aplicativo. Uns dizem que fazer um cadastro nesse lugar é sinal de extrema insegurança e narcisismo já que estamos pedindo a aprovação alheia. Outros, mais sabidos, pediram para todo mundo tomar cuidado, já que isso pode desencadear mensagens de ódio blindadas pelo anonimato.

Print da tela principal do perfil no Sarahah.

Não sou nenhuma webcelebridade, mas até agora está indo tudo bem. Recebi mensagens muito fofas de amigos próximos e desconhecidos falando sobre coisas legais que acham de mim. As mais carinhosas até chegaram a me emocionar. Nós estamos tão acostumados com o ódio gratuito e agressões nos Facebook e Twitters da vida que até nos esquecemos que sim, as pessoas podem ser legais de vez em quando. E a gente pode ser legal com o próximo também e revelar uma admiração ou até um crush escondido.

Outra coisa engraçada que percebi no meu perfil do Sarahah e no dos meus amigos é que muita gente usou aquilo como um xaveco mesmo. Que nem meu namorado disse: "parece um Tinder sem foto". Muita gente me mandou putaria (pasmem, putaria respeitosa) e meus amigos já me falaram que os amores platônicos começaram a se revelar aos poucos. Não me admira se alguém já descolou uma transa por meio desse aplicativo.

Talvez o que iniba um pouco as mensagens de ódio seja o fato de que tudo que mandam para você não é compartilhado ao público, a menos que você dê um print na mensagem e compartilhe nas redes. Como não existe aquela infeliz busca por validação do público e aquilo que você escreveu só será visto pelo destinatário, talvez as pessoas estejam dando uma pausa nessa obrigação de parecer descolado com uma língua ferina nas redes e apenas expressar admiração e afetividade pelo próximo. O fato de você não conseguir responder também ajuda, já que não fica aquela thread enorme de treta onde todo mundo lê.

Óbvio que sempre existirão as maçãs podres no cesto e já vi um pessoal recebendo hate mail. No entanto, parece que o ódio foi ofuscado pelo carinho e ele simplesmente não cumpre seu ciclo porque ninguém verá que você é um troll publicamente. Ainda é um pouco cedo para dizer que é um aplicativo fofo e inofensivo, já que amanhã o app sempre pode virar a própria gênese de um novo tipo de recalque nas redes e vazar as identidades de quem mandou mensagem pra você e vice-versa.

Ainda assim, se o Sarahah está servindo para transas e mensagens fofas, por que não o usar e escrever coisas legais para quem você admira?

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