Como um programador viciado em beisebol lançou o jogo dos sonhos dos americanos​

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Como um programador viciado em beisebol lançou o jogo dos sonhos dos americanos​

O alemão Markus Heinsohn lançou o que parecia impossível: um simulador tipo Football Manager para o esporte com mais estatísticas avançadas do mundo.

O alemão Markus Heinsohn criou o que parecia impossível: um simulador tipo Football Manager para o esporte com mais estatísticas avançadas do mundo

Heinsohn. Crédito: Markus Heinsohn/Twitter

A próxima temporada da Major League Baseball está para começar, e ela vem acompanhada por um dos principais passatempos nerds americanos: prever as estatísticas de desempenho dos 30 times e 750 jogadores da liga. A tarefa, embora inexata, deu fama a pessoas como Bill James, pioneiro na análise de dados de partidas de beisebol, e Nate Silver, fundador do site de estatísticas FiveThirtyEight. Enquanto isso, com a recém-lançada 17ª edição do simulador de beisebol Out of the Park Baseball, o programador alemão Markus Heinsohn continua trabalhando para criar um jogo de computador que reproduza o esporte da maneira mais realista e confiável possível.

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A própria existência do OOTP pode ser considerada um pequeno milagre: ele passou de um projeto individual apaixonado a um jogo que ganhou elogios de todos, do ex-arremessador do Diamondbacks Curt Schilling, ao atual proprietário do Boston Red Sox, John Henry. Nesse meio tempo, o jogo se tornou um grande negócio, licenciado pela MLB e com equipes dedicadas em tempo integral à sua divulgação e desenvolvimento.

"Comecei a jogar beisebol, que é uma atividade rara na Alemanha, quando eu tinha 14 anos", Heinsohn me contou. "Meus amigos e eu fundamos nosso próprio clube e organizamos nossas partidas de beisebol, e foi assim que minha obsessão pelo esporte começou. Eu lia tudo o que podia encontrar sobre o esporte, estudava suas regras, sua história, e assistia ao maior número possível de partidas na televisão."

Aos dezesseis anos, Heinsohn já tinha criado um programa de gerenciamento de arquivos para DOS que vendeu bem, mas depois de 1997, o desenvolvimento do OOTP tomava quase todo o seu tempo. Embora a popularidade do jogo tenha crescido desde sua estreia, o caminho não foi fácil.

"Programadores que escolhem trabalhar em jogos, mesmo os jogos de sucesso, têm um caminho difícil pela frente", disse Nathan Zimmerman, um desenvolvedor de software e professor da Universidade da Pensilvânia. "O pagamento dificilmente é tão bom quanto o de produtos mais abertamente comerciais. É o que acontece quando você faz algo por amor e não por dinheiro."

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Para alguns fãs de longa data, esse futuro imaginário é melhor que a MLB da vida real

OOTP, no entanto, é um jogo que basicamente tem a ver com dinheiro: você é o administrador de um time de beisebol e tem que usar seus recursos financeiros com sabedoria. Como o premiado Football Manager, um simulador de futebol que Heinsohn fez questão de elogiar, OOTP permite que você compre e venda jogadores para ganhar dinheiro e partidas.

"Esses jogos de simulação colocam o jogador numa posição de administrador, e não de trabalhador, e essa é a mentalidade que você começa a internalizar quando joga esse tipo de jogo", diz Ben Labe, doutorando em economia na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. "Você está sempre se perguntando: 'se eu tivesse uma quantidade X de dinheiro e esses determinados jogadores, eu poderia fazer melhor?'"

O mérito de Heinsohn é ter trabalhado para melhorar o processo de buscar uma resposta para essa pergunta hipotética, incorporando estatísticas avançadas desenvolvidas por Bill James, Nate Silver e outros especialistas. "Acompanhando o desenvolvimento de novas técnicas, como o monitoramento de dados sobre arremessos e movimentação dos jogadores, e usando o sistema de projeções ZiPS como base para as notas dos jogadores, melhoramos muito as nossas simulações. Por exemplo, no OOTP 6 adotamos a teoria DIPS , a ideia de que os arremessadores normalmente não têm influência sobre o que acontece com bolas rebatidas, e estamos muito à frente da concorrência em termos de precisão e realismo desde então."

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Embora seja importante prever o desempenho dos times e jogadores como um todo, a parte principal da experiência é o aspecto financeiro do jogo e o comportamento de outros administradores controlados pelo computador, que competem com o jogador. Estatísticas avançadas ajudaram Heinsohn a desenvolver uma inteligência artificial que entende muito melhor o valor de um jogador.

"Esses recursos são tão complexos que precisamos de anos para que eles sejam refinados e atinjam seu potencial", Heinsohn explicou. Novos programadores contratados para trabalhar no projeto permitiram que o jogo processasse várias tarefas simultaneamente, o que reduziu o tempo necessário para pesquisar preços de jogadores – um problema realmente incômodo em versões anteriores. As travadas, mais comuns em versões anteriores do jogo e na versão beta do OOTP 17, foram resolvidas.

Prever o futuro não é uma tarefa fácil, mas o OOTP faz isso bem, particularmente no que diz respeito aos resultados da temporada em que é lançado. "Isso faz sentido", diz Labe. "Economistas e estatísticos são bons para fazer previsões de tempo, mas projeções de longo prazo são mais difíceis."

O futuro distante, ao menos em OOTP, está muito sujeito ao acaso: lesões que acabam com a carreira de jogadores, e variáveis de comportamento, como "dedicação" e "liderança", podem ter um efeito imprevisível na simulação de longo prazo. Para alguns fãs de longa data, esse futuro imaginário é melhor que a MLB da vida real.

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Leia também: A vida de quem avalia jogadores de futebol para os games

"Eu não vejo uma partida de beisebol há anos", disse Chris Flora, uma contadora da Flórida que joga OOTP desde 2004. "Mas eu leio a Baseball Prospectus antes de cada início de temporada, e então me perco no universo de Out of the Park por trinta, quarenta temporadas, que sempre são melhores que o beisebol da vida real – não importa o que 'real' significa."

Flora compara sua experiência à de J. Henry Waugh no romance The Universal Baseball Association, cujo protagonista, que tem uma vida monótona, se deixa envolver totalmente pela associação imaginária de beisebol que ele administra, baseada em jogos de dados. "Eu acho que para algumas pessoas o que importa é o dinheiro, eles se identificam com os administradores ou capitalistas ou o que quer que seja, mas para mim, quando os jogadores da atual temporada se aposentam, o importante é me perder na narrativa que a minha mente inventa durante o jogo. Essa é a realidade para mim."

Heinsohn, que monitora de perto os fóruns em que um grupo dedicado de jogadores avalia o jogo em tempo real, entende os desafios que acompanham cada lançamento de uma nova edição. "Eu trabalho nesse jogo há quase duas décadas, e a não ser que alguém me ofereça US$ 25 milhões pela empresa, eu não vou deixar de fazê-lo. Apesar disso, nossos maiores fãs são exigentes, e embora eu ache que fazemos um belo trabalho todo ano, com certeza não é fácil."

Definitivamente não é fácil: afinal, inúmeras temporadas imaginárias estão em jogo, assim como as carreiras de muitos jogadores simulados.

Tradução: Danilo Venticinque

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