O Laboratório Dessa Cientista é uma Casa Mal-Assombrada

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O Laboratório Dessa Cientista é uma Casa Mal-Assombrada

Margee Kerr é uma socióloga que estuda a ciência do medo. E, como você pode notar pelo seu local de trampo, ela leva isso bem a sério.

Nos fundos do porão da Scarehouse, uma casa mal-assombrada localizada em Pittsburgh, no estado de Kansas, nos Estados Unidos, a Morte nos espera.

Em pé ao lado de um caixão, de ceifa em mãos e vestida com um longo manto preto, ela explica que você deve encarar seu destino — você ou seu companheiro morrerão.

De súbito, você é empurrado para dentro da caixa forrada de cetim. O tampo fecha sobre sua cabeça. Seu companheiro é levado para longe. Você não consegue mais ouví-lo. Não há escapatória. Dentro do caixão, o breu.

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Um minuto depois, o tampo se abre de novo. Tudo não passava de um susto ensaiado.

Mas não pense que é uma casa mal-assombrada comum. A Scarehouse é o laboratório secreto da socióloga Margee Kerr.

Kerr sempre se interessou em estudar a ciência e a cultura do medo. Ela usou essa paixão para se tornar a socióloga-chefe da Scarehouse, onde pode observar e coletar informações sobre os visitantes que se submetem aos sustos da casa mal-assombrada. (Ao assinar o termo de compromisso da atração, os clientes se voluntariam para integrar a pesquisa.) Ela também ajudou a criar algumas dessas experiências aterrorizantes – incluindo a referida cena com a Morte.

A cena descrita acima foi criada para testar como as pessoas encaram a morte e lidam com a claustrofobia. Kerr diz que o caixão a demora de 60 segundos para abrir o tampo é crucial; por volta dos vinte segundos, as pessoas começam a questionar por quanto tempo ficarão presas. E aí o pânico começa.

Kerr passou por experiências tão assustadoras quanto esta durante o processo de pesquisa de seu novo livro, Scream: Chilling Adventures in the Science of Fear (Scream: Aventuras Arrepiantes na Ciência do Medo, em tradução livre). Ela caminha no topo da Torre CN, em Toronto; passa uma noite na "floresta dos suicidas", um bosque no Japão onde muitos tiraram suas próprias vidas; e explora as celas de punição de uma prisão abandonada. Tudo para entender as implicações psicológicas e fisiológicas do medo – e porque gostamos dessa sensação.

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Crédito: Margee Kerr

Hoje Kerr usa o material de sua pesquisa para ajudar a criar as atrações da Scarehouse.

Um exemplo do método: durante uma busca por fantasmas na Penintenciária de Eastern State, na Filadélfia, Kerr descobriu que o infrassom — ondas sonoras inaudíveis de 20 hertz ou menos — podem causar sensações de desconforto e arrepios. Acredita-se que pessoas que afirmam ter tido experiências sobrenaturais tenham, na verdade, sido expostas ao infrassom. Kerr então usa o infrassom durante um dos momentos horripilantes da Scarehouse. "O som deixa os clientes completamente arrepiados", diz.

Esses calafrios, conhecidos como piloereções, ainda não possuem uma explicação científica. "Há uma teoria de que o arrepio seria apenas um resquício evolutivo de outras espécies, que se ouriçam para tentar parecer maiores", diz Kerr. "O arrepio seria nossa tentativa de parecer maiores, mas é claro que não funciona, porque nossos pêlos são minúsculos. Nada disso foi comprovado, mas essa é uma das teorias."

Embora Kerr admita que sua carreira não tenha a deixado imune a sustos — "eu me assusto bem fácil" — ela tem algumas dicas para evitar o medo. "Muita gente faz isso antes de entrar em uma casa mal-assombrada ou numa montanha-russa; elas dizem 'eu não vou ficar com medo'", afirma. "Isso pode funcionar: você pode controlar o medo já se colocando no estado em que você se assusta com tudo, o que impede que isso lhe incomode. Algumas pessoas conseguem fazer isso melhor do que outras."

A socióloga confessa que o que mais a assusta é saber que seu cérebro e corpo podem manipular suas sensações sem que ela tenha qualquer controle. "Aprender como o cérebro funciona e como ele pode mudar e manipular o que sentimos e vivemos me deixa muito assustada — me faz ter uma crise existencial, no sentido mais puro do termo. Se não conseguimos controlar nossos próprios sentimentos e memórias, quem somos nós?"

Tradução: Ananda Pieratti