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Tecnologia

Cientistas Finalmente Conseguiram Amostras do Material Mais Abundante na Terra

O nome é bridgmanita, e o material fica entre 660 e 2.890 quilômetros abaixo da superfície.
​Crédito: Shutterstock

O material mais abundante em nosso planeta não tinha um nome, e, na verdade, não havia sequer sido visto – até agora. Pela primeira vez na história, cientistas conseguiram por suas mãos em uma amostra de bridgmanita, um mineral que, acredita-se, compõe mais de um terço do volume da Terra.

Como era de se esperar em um aparente paradoxo como esse, a bridgmanita existe nas profundezas terrestres – é o material que acredita-se compor grande parte do manto inferior, a camada mais ampla da Terra, cuja extensão está entre 660 e 2.890 quilômetros abaixo da superfície. No total, ela representa 36% do volume do planeta.

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Mas, assim como muitos dos minerais das profundezas, os cientistas nunca haviam o visto. Em uma nova pesquisa publicada na Science semana passada, Oliver Tschauner da Universidade de Nevada, Las Vegas, e sua equipe, descrevem a bridgmanita pela primeira vez.

"Apesar de aparecer há décadas em diversos estudos experimentais e teóricos, as caracterizações de possíveis amostras naturais não haviam sido suficientes para atender os critérios da Associação Mineralógica Internacional para a titulação de novos minerais", escreve Tschauner. "Consequentemente qualquer análise química, estrutural e petrográfica detalhada do mineral [bridgmanita] seguia impossibilitada."

Mas não descobrimos de repente como perfurar centenas de quilômetros abaixo da superfície terrestre sem destruir as amostras de bridgmanita (voláteis a não que sejam extremamente pressurizadas por algo), muito menos uma amostra do mineral foi lançado do manto inferior por meio de uma explosão vulcânica ou qualquer outro fenômeno. Ao invés disso, Tschauner e sua equipe encontraram a bridgmanita dentro de um meteorito – um que havia passado por um curto e intenso período de pressurização.

"Impactos de hipervelocidade em meteoritos causam pulsos curtos de pressões extremamente e temperaturas locais altíssimas que derretem e transformam o material levando ao mesmo estado de alta pressão que compõe a Terra profunda", escreveu Thomas Sharp, pesquisador da Escola de Exploração Espacial e Terrestre da Universidade Estadual do Arizona em um artigo sobre a descoberta.

Ao observar o interior de meteoritos que se chocaram, os cientistas foram capazes de observar e categorizar alguns tipos diferentes de minerais das profundezas terrestres. Mas algo de dentro da própria Terra tem precedência. No começo deste ano, por exemplo, cientistas encontraram a primeira amostra natural de ringwoodite, dentro de um diamante encontrado no Brasil.

O ringwoodite é um mineral comum na "zona de transição" entre os mantos superior e inferior. Dentro da amostra, os cientistas encontraram água, uma descoberta que sugere a existência de um oceano subterrâneo que pode ter mais água do que todos os oceanos combinados.

A descrição da bridgmanita feita por Tschauner não nos revela tanto sobre o interior terrestre, mas confirma o que cientistas já tem como verdade há muito tempo: o mineral existe e pode surgir naturalmente sobre condições altamente pressurizadas.

Tradução: Thiago "Índio" Silva