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Motherboard

​O que a ciência diz sobre as experiências de quase morte?

​Esquecidas na década de 70, pesquisas sobre os mistérios das EQMs enfim começaram a ser levadas a sério. Quebrar o preconceito da academia, porém, não é tarefa fácil.​

Quando tinha 22 anos, Letícia Cristina Moreira de Barros passou por uma crise epiléptica que nunca vai esquecer. No período de uma hora e meia, a garota sofreu uma série de convulsões e teve que ser socorrida por uma equipe médica que a induziu ao coma. Para o procedimento dar certo, ela precisou de dez ampolas de um tranquilizante forte. Por rebote da medicação, seu coração não aguentou. Letícia teve duas paradas cardiorrespiratórias seguidas e morreu.

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Mesmo assim, sem que seu cérebro apresentasse atividade, ela se recorda dos gritos dos médicos — "afasta, afasta!" — e da dor que sentiu quando o desfibrilador a trouxe de volta à vida. Depois disso, encarou uma infecção geral grave do organismo causado por germes patogênicos e entrou em coma. Desacordada, ouviu dos seus falecidos avós uma súplica para aguentar os problemas e não deixar sua mãe sozinha. Letícia, naquele momento, estava passando por uma experiência quase-morte (EQM).

"O que mais me assustou foi a aparição dos meus avós", conta a designer gráfica, hoje com 24 anos. "Isso me deixou meio maluca depois que tudo aconteceu."

Além da experiência que teve durante as paradas cardiorrespiratórias, a jovem conta que também se sentia consciente no coma. Ao se recuperar, Letícia chegou a reconhecer médicos que só estiveram com ela durante o estado vegetativo. "O tempo todo foi como se eu tivesse ali mesmo, no hospital, só que acordada. Lembro com clareza de passar o dia olhando o relógio da parede para ver se davam 15 horas, que era a hora da visita", conta.

O evento fez Letícia mudar muito. Chegou a emagrecer 2,5 kg por semana. "Meu paladar mudou. Passei a odiar coisas que amava comer e comer alimentos que nunca gostei", diz. Assim como muitas pessoas que passaram por experiência de quase-morte, ela acredita que se tornou uma pessoa melhor e diz não temer a morte. "Não pela experiência em si, mas porque busco ser o melhor no meio que vivo. Em momento nenhum senti medo da morte e até hoje não sinto."

Casos como o de Letícia intrigam médicos e cientistas há muitos anos. São muitos os relatos similares, inclusive de gente famosa como o ex-esportista brasileiro Lars Grael e a atriz americana Sharon Stone. A maioria das pessoas que passa por uma EQM, independentemente de nacionalidade, gênero, credo ou idade, descreve os eventos de forma parecida. Luz no fim do túnel, sensação de paz, diálogo com entes mortos e desprendimento do corpo físico. Não por acaso, o debate sobre vida após a morte — e sobre a própria morte — costuma acompanhar os relatos. "Muitos desses relatos apresentam uma perspectiva diferente da morte, como uma situação de calma e iluminação. No momento, relatam ter perdido o medo de morrer", diz Maria Julia Kovacs, professora livre docente do Instituto de Psicologia e coordenadora do Laboratório de Estudos Sobre a Morte da USP.

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