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Uma visita profunda à Deep Space Network, da NASA

Neste ano, a NASA/JPL comemora 50 anos da sua coleção global de antenas gigantescas que controlam sondas espaciais não tripuladas na órbita da Terra e além.
Antena de Goldstone, de 70 metros sob a lua cheia. Crédito: NASA/JPL-Caltech

O excêntrico engenheiro químico e co-fundador do Jet Propulsion Lab – JPL (Laboratório de Jato-Propulsão), Marvel "John" Whiteside Parsons, faria cem anos esse ano, já o JPL mesmo foi nomeado há setenta anos atrás. Em 2014, o primeiro pouso da Lua comemora seu 45º aniversário, o que, não é preciso dizer, permanece como um dos mais importantes feitos da humanidade até hoje. Mas façanhas à parte, nesse mês a NASA/JPL destacou um marco bem menos divulgado da sua história.

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Esse é o ano do 50º aniversário da Deep Space Network – DSN (Rede de Espaço Profundo) da NASA/JPL, uma rede de antenas internacionais gigantes do governo norte-americano, que controlam sondas não-tripuladas dentro e fora da órbita da Terra. Se você já se perguntou como a NASA mantém o contato com a nave Voyager através de bilhões de milhas no espaço, é graças à DSN.

E já que a DSN não recebe tanta atenção quanto provavelmente deveria, a NASA/JPL recentemente promoveu um evento semi-público chamado "NASA Social", com visitas às instalações de Pasadena e ao Complexo de Comunicação da DSN em Goldstone (GDSCC), no Deserto de Mojave, na Califórnia. O objetivo era ajudar a viralizar a DSN nas redes sociais através de 50 sortudos com contas no Twitter, escolhidos aleatoriamente em uma loteria com outras 500 pessoas, que se inscreveram para o evento no website da NASA/JPL. A eles se juntaram a alguns representantes da mídia tradicional, incluindo essa que vos escreve.

Centro do Controle de Missão da NASA/JPL. Crédito: Tanja M. Laden

A DSN é uma coleção de três avançadas plataformas de comunicação, com antenas enormes e sofisticadas, que trocam dados com as missões da NASA no espaço. As três redes de espaço profundo da NASA estão localizadas na Espanha, Austrália e Califórnia, e estão estrategicamente separadas, longitudinalmente a 120 graus, umas das outras, a fim de permitir o contato constante com sondas espaciais no período em que o sol nasce e se põe em partes equidistantes da Terra.

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As três sedes são administradas pelo Laboratório de Jato-Propulsão em Pasadena. As antenas do solo norte-americano estão localizadas no GDSCC, que fica cerca de 241 km a nordeste do JPL, na área militar do Centro de Treinamento Nacional Fort Irwin. Considerando a distância entre o JPL e o complexo de Goldstone, faz sentido que a NASA/JPL tenha espalhado a tour comemorativa dos 50 anos ao longo de dois dias.

No primeiro dia, o grupo visitou o Laboratório de Jato-Propulsão em Pasadena. Para quem mora no sul da Califórnia, não é exatamente difícil de se chegar lá. O laboratório não só promove open houses regularmente, mas também oferece, a cada semana, visitas públicas de duas horas a pequenos grupos, além de excursões especiais para escolas e outras organizações. E se você tem a barbada de conhecer alguém que trabalha no JPL, é só apresentar a identidade, como em qualquer escritório com segurança na entrada – com a diferença de que neste estão engenheiros de foguetes, e não planilhas. E uma outra amostra da relação relativamente aberta do JPL com a comunidade da região é que ele também possui um museu e duas lojinhas de souvenirs lotadas com bugigangas da marca NASA/JPL, tais como canecos, camisetas, e fantasias de astronauta para crianças.

Campo de Marte III. Crédito: Tanja M. Laden

Assim que o grupo entrou no JPL, foi visitar o Campo de Marte, onde protótipos de modelos de engenharia robótica da NASA são testados em um terreno desolado, que imita o solo do planeta vermelho. Desenvolvido pelo Laboratório de Ciência de Marte, esse já é o terceiro Campo de Marte construído pelo JPL. O Campo de Marte III mede cerca de 65,5 x 35 m, parecendo um grande canteiro de obras em fase inicial, apesar de que, neste caso, o terreno arruinado é o projeto em si. O solo irregular, com formações rochosas e um sítio acidentado, foi inspirado em imagens enviadas à Terra por sondas de Marte através da Deep Space Network, criando caminhos simulados, com obstáculos, para futuras sondas. Mesmo que as áreas pavimentadas obviamente não se pareçam em nada com Marte, elas têm por objetivo testar a agilidade e a durabilidade das sondas antes de serem lançadas no espaço. Há também uma garagem que armazena modelos robóticos, ao lado de computadores, instrumentos de medição, e outras traquitanas necessárias para o teste de campo de mecanismos.

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Unidade de montagem de veículos espaciais. Crédito: Tanja M. Laden

Os visitantes também fizeram uma parada na área de observação, acima da sala esterilizada da Unidade de Montagem de Veículos Espaciais, dentro do prédio 179, onde especialistas vestidos com capas de plástico desinfetado, botas e sobretudos brancos inflados fabricam veículos espaciais e instrumentos para futuras missões.

A sala foi construída em 1961 para o programa Ranger de missões espaciais não-tripuladas, que obteve imagens da Lua, e para o programa Mariner, de missões interplanetárias a Mercúrio, Vênus e Marte. Na parede, há uma insígnia diferente para cada veículo construído na sala, que atualmente é descontaminada – antigamente, cientistas e engenheiros podiam até fumar lá dentro.

Por incrível que pareça, a NASA/JPL recentemente descobriu uma nova espécie de micróbio, que foi encontrado somente em duas salas esterilizadas, uma na Flórida e outra na América do Sul. No entanto, tudo parece funcionar como o planejado na sala desinfetada do JPL, sem a possível interferência de novos microrganismos estranhos.

No momento, o JPL utiliza a área para finalizar a montagem do radar espacial Umidade do Solo Ativo Passivo (SMAP), que visa a fornecer um melhor gerenciamento dos recursos hídricos da Terra através de análises dos estados de gelo e degelo da água. A Sala de Montagem de Veículos Espaciais também está sendo preparada para a finalização da montagem do instrumento ISS-RapidScat, que será enviado à Estação Espacial Internacional no fim do ano, para coletar previsões do tempo mais detalhadas, medindo a direção e a velocidade do vento de superfícies oceânicas.

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Centro de Controle de Missão da NASA/JPL. Crédito: Tanja M. Laden

Depois de conferir a sala esterilizada, todo mundo teve a chance de entrar de fato na área de apoio da missão, no prédio 230, também conhecido como Unidade de Operações de Vôo Espacial (SFOF), onde os engenheiros do JPL trabalharam na famosa aterrissagem, em 2012, da sonda Curiosity, a que o mundo assistiu pela TV.

A área está ligada ao imponente Centro de Controle de Missão, onde engenheiros se comunicam com veículos espaciais no sistema solar utilizando a DSN. É aqui que a NASA administra quase todas as suas missões exploratórias do espaço profundo, incluindo as missões a outros planetas no nosso sistema solar. Em 1985, a SFOF foi declarada um Marco Histórico Nacional dos Estados Unidos e está no Registro Nacional de Lugares Históricos do país. Tem até uma placa no chão, no meio do Centro de Controle de Missão que diz "O Centro do Universo: 'Ouse coisas poderosas.'"

Grupo de transmissores de ondas de 34 metros. Crédito: Tanja M. Laden

No dia seguinte, nós visitamos o GDSCC, localizado em uma área remota, a 64 km oeste de Barstow, quase no meio do caminho entre Los Angeles e Las Vegas. Comparado ao JPL, uma visita a Goldstone é um baita trampo, mesmo que eles também ofereçam tours ocasionais.

Por medidas de segurança, a parte californiana da DSN é localizada no Centro de Treinamento Nacional Fort Irwin do exército norte-americano. Os visitantes precisam de aprovação prévia para entrar de carro no local e, se conseguem atravessar o portão, seus veículos são frequentemente revistados. Todos são incentivados a participar de uma orientação de segurança antes de explorar Goldstone, e, obviamente, é obrigatório estar acompanhado de um funcionário o tempo todo. E cada uma das antenas gigantescas de Goldstone, posicionadas entre 16 e 24 km umas das outras, tem um checkpoint com seus próprios guardas.

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Antena Apolo X-Y de 26 metros. Foto: Tanja M. Laden

Diferentemente do JPL, não há muito o que ver em Goldstone além das dez antenas parabólicas enormes e sofisticadas. Mas o poder e importância desses instrumentos é um grande contraponto às atrações do JPL, especialmente porque os pratos são responsáveis por trocar dados com as missões da NASA/JPL no espaço. Junto com a as outras unidades da DSN na Espanha e na Austrália, Goldstone é parte do sistema de comunicação de exploração do espaço mais poderoso do mundo, supervisionando mais de 30 missões de veículos espaciais. E a DSN não só mantém viagens de robôs a planetas distantes e de telescópios que procuram por outros mundos, mas também é responsável pela navegação de veículos espaciais e monitoramento de asteroides.

Antena DSS 14 "Marte" de 70 metros. Crédito: Tanja M. Laden

Depois de termos visitado as antenas da DSN, paramos no Vale Apolo de Goldstone, local da antena Apolo, de 24 metros de diâmetro. A antena foi construída exclusivamente para o programa Apolo, e recebeu a primeira transmissão de áudio da Lua. Se a antena Apolo parecia grande, foi ofuscada pela antena Marte, de 24 andares de altura e 70 metros de diâmetro, que no passado foi a base de apoio da nave Voyager 2, durante sua missão a Netuno. No fim, a viagem exaustiva de dois dias culminou com a inauguração da Mostra do Túnel Goldstone, uma exposição de ciência espacial localizada em uma passagem exígua, que lembra uma catacumba, embaixo da antena Marte.

Outra imagem da antena de Goldstone de 70 metros. Crédito: NASA/JPL-Caltech

Sem o GDSCC e a DSN, o JPL não seria capaz de acessar as informações essenciais que precisa para controlar os veículos espaciais e instrumentos que envia ao sistema solar para estudar planetas e suas luas esquisitas. O JPL não seria capaz de acessar imagens e outros tipos de informação sobre cometas, meteoritos, asteroides e tudo o mais que há lá fora.

Entretanto, sem os esforços do JPL, a DSN não teria motivo para existir, já que, pra começo de conversa, não haveria com o que se comunicar. As duas entidades são, de fato, parte de um sistema simbiótico que dificilmente seria produtivo se funcionassem independentemente uma da outra. Então, sempre que alguém se empolga com as atividades secretas e super sexy que acontecem no JPL, vale lembrar que elas não iriam a lugar algum sem um sistema de antenas parabólicas gigantes colocadas no meio do nada.

Tradução: Francine Kath