​Estudo confirma em laboratório que zika pode ser transmitido por pernilongo
Próxima etapa é verificar se a transmissão do vírus via inseto doméstico pode ocorrer na natureza. Crédito: Alex Wild

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​Estudo confirma em laboratório que zika pode ser transmitido por pernilongo

Próxima etapa é verificar se a transmissão do vírus via inseto doméstico pode ocorrer na natureza.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirmou, na tarde desta quinta-feira, a presença e a capacidade de transmissão do vírus zika em mosquitos Culex quinquefasciatus, o pernilongo doméstico. O dado é preocupante devido ao possível aumento de contágio, já que o número de Culex é cerca de 20 vezes maior do que o do Aedes aegypti.

No estudo realizado pela pesquisadora Constância Ayres, do Departamento de Entomologia da Fiocruz, foram analisados mosquitos das duas espécies e o comportamento do vírus dentro de seus organismos. Os focos eram os tecidos do intestino e as glândulas salivares dos animais. No experimento, o mosquito ingeria o sanque infectado que ia direto para seu intestino. Caso o sangue saísse da barreira do órgão e caísse para a circulação, infectaria outras partes do corpo. A parte mais preocupante eram as glândulas salivares, já que é por lá que os insetos poderiam transmitir os vírus para nós.

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E foi o que aconteceu: a pesquisa constatou que as salivas de ambas espécies de mosquitos estavam infectadas. Segundo o estudo, os tecidos foram infectados e as populações do vírus encontrada nas glândulas salivares eram bastante semelhantes. Outro dado verificado foi o tempo que o vírus leva para chegar nas glândulas salivares. Foi averiguado que, três dias depois de consumir sangue infectado, os mosquitos já apresentavam partículas virais ativas nas glândulas salivares. Após sete dias, diz o estudo, a população viral atinge seu pico dentro do organismo do mosquito. Muito mais rápido do que os 10 a 15 dias que o vírus da dengue leva para ser potencialmente transmissível.

Fêmea do mosquito Culex. Próximas etapas da pesquisa da Fiocruz devem confirmar se ela infecta a prole na reprodução. Crédito: Alan R Walker

Embora a pesquisa seja conclusiva em relação ao potencial transmissor do Culex, isto não significa que ele é de fato um vetor da doença. "Mostramos que o Culex se infecta e transmite a doença em ambiente laboratorial. O que ainda precisa ser averiguado é se a espécie é de fato um vetor fora deste ambiente. Verificar se esta realidade se confirma na natureza", diz a pesquisadora. Ela ressalta que a condição é diretamente afetada por fatores como tempo de vida, hábitos alimentares e de reprodução do inseto.

Para analisar se o Culex pode ser vetor do zika, foram coletados mais de 5 mil mosquitos nas áreas urbanas de Recife. Destes, cerca de 80% são da espécie Culex. Em alguns dos grupos de espécimes separados para o estudo foram encontradas partículas virais ativas. Outra hipótese que será averiguada na continuidade da pesquisa é se as "femeas transmitem o vírus para a prole".

Caso seja comprovado que o Culex quinquefasciatus é vetor da doença, será necessário conscientizar a população de seus hábitos. Diferentemente do mosquito transmissor da dengue, o pernilongo consegue se reproduzir em águas poluídas, então a principal medida de prevenção atualmente utilizada, de não deixar água limpa parada, não seria efetiva.