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Tecnologia

​Uma Cidade de ‘SimCity’ com 107 Milhões de Pessoas É um Retrato do Nosso Futuro

Peter Richie passou oito meses planejando e construindo uma megacidade em uma versão comum de SimCity 4, e o resultado é de arrepiar.

As megacidades são nosso futuro. É uma conta simples: se você tem um Planeta Terra e uma expansão sem limites no crescimento populacional, a força gravitacional dos centros econômicos e populacionais do mundo continuaram a absorver moradores da zona rural – isso se a expansão desenfreada do eixo metropolitano Boston-Atlanta não o fizer primeiro.

Um relatório das Nações Unidas de julho deste ano põe as cartas na mesa: este ano, 54% do mundo já residia em centros urbanos, um número que deve chegar em 66% no ano de 2050. Este crescimento "pode adicionar mais 2,5 bilhões de pessoas à população urbana até 2050, com cerca de 90% do aumento concentrado na Ásia e África".

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Este mesmo relatório menciona que em 1990, existiam dez megacidades com mais de 10 milhões de habitantes ou mais no mundo; agora são 28, 16 delas na Ásia. Manter uma cidade desse tamanho funcionando já é difícil o bastante, mas o que acontece quando elas se transformam em regiões em expansão com populações dez vezes maiores?

O vídeo acima nos dá uma ideia, mesmo que baseado em um jogo de 11 anos de idade (ainda assim, um jogo bem realista). Peter Richie passou oito meses planejando e construindo uma megacidade em uma versão comum de SimCity 4, e o resultado é de arrepiar (especialmente se levar em conta que também já fui prefeito em uma das cidades do jogo): 107,7 milhões de pessoas vivendo em uma região gigantesca e crescente. Deixarei os números de Richie falarem por si:

81 peças de cidade grande para criar uma Mega-Região

26,542 km de estradas
8,626 km de linhas de metrô

324 usinas de hidrogênio (6.000.000 megawatts de energia)
486 usinas transformadoras de lixo em energia

512 bombas d'água grandes

Mais de 2000 escolas de ensino fundamental e ensino médio
81 universidades, 162 faculdades

Richie me contou que inicialmente ele criou, em dezembro de 2013, para si este objetivo de montar uma região com 100 milhões de habitantes "sem usar mods ou códigos", e passou então alguns meses planejando tudo antes de começar a construção em março deste ano.

Isso sim é um trajeto brutal até o trabalho. Crédito: Peter Richie

A vantagem de se construir uma cidade virtual é a habilidade de começar do zero. Mesmo assim, a vida não é fácil.

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"O trânsito é um pesadelo, tanto na superfície quanto no subterrâneo", disse Richie. "A enorme quantidade de linhas de metrô e estações seguem congestionadas o dia inteiro em todas as vizinhas de cada uma das megacidades na região. As estradas vivem engarrafadas, mas as pessoas insistem em usá-las."

"A poluição é controlada", adiciona. "Estruturas altamente poluentes estão distribuídas entre grupos de quatro megacidades, assim como aeroportos e a infraestrutura energética. Isto reduz o impacto para os moradores."

Agora tente imaginar acompanhar o crescimento em cidades de verdade, em que os prefeitos tem bem menos poderes ditatoriais – e nenhum botão pra pausar. Mesmo que fazendeiros robôs acabem nos alimentando, o crescimento que podemos esperar para o futuro apresenta demandas estruturais inacreditáveis.

Visite qualquer megacidade no planeta – Xangai, São Paulo, Mumbai, Nova York – e os problemas estão na cara: populações cada vez maiores adicionam pressão constante em questões de energia, saneamento e transporte. E quando as coisas dão errado, dão muito errado mesmo.

Planejar para receber mais pessoas, junto de preocupações ambientais como o aumento no nível do mar e condições climáticas extremas é, certamente possível, mas levar adiante investimentos de larga escala é outro desafio. Como um pesquisador de planejamento urbano me contou no início do ano, mesmo quando os problemas são reconhecidos e as soluções encontradas, "a grande pergunta é: quem vai pagar por isso?"

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Me lembra de quando morei em São Paulo, só que pior. Crédito: Peter Richie

E enquanto isso, mais gente engrossa as fileiras urbanas. De acordo com projeções das Nações Unidades, Tóquio, atualmente a maior cidade do mundo com cerca de 38 milhões de habitantes, recuará um pouco em 2030, mas cidades na China e Índia continuarão a crescer.

A população de Nova Déli, agora na casa dos 25 milhões, deve crescer em mais 11 milhões nos próximos 16 anos – um problema quando a estrutura básica já é um problema para muitos na cidade, bem como residentes de locais similares.

"A densidade é a principal questão, já que praticamente não espaço para mais crescimento, então as megacidades crescem para cima ao invés de para os lados ", declarou Richie sobre sua própria megalópole. "Ao passo que espaços abertos geralmente são encontrados em torno das dezenas de milhares de estações de metrô aqui, resta um desejo por áreas verdes."

Apesar disso, Richie, que afirma jogar SimCity 4 há uma década, declara ter uma visão otimista sobre as cidades do futuro.

"Na verdade estou bem otimista com nossas cidades do futuro", afirmou. "Acho que estamos prestes a construir cidades muito grandes, mas ainda assim sustentáveis, onde provavelmente a poluição de hoje será quase inexistente".

Quando cidades instalam redomas para controlar a poluição no ar, é difícil ter muita fé. Ao mesmo tempo, já vimos várias vezes que esforços para a melhoria de nossos ambientes urbanos podem ter efeitos rápidos. E se a lenta caminhada do mundo rumo à sustentabilidade continuar a ganhar força, há a esperança de que não acabaremos morando em uma versão 2.0 da Cidade Murada de Kowloon. Mesmo assim, talvez esperança seja a última coisa da qual precisamos.

Tradução: Thiago "Índio" Silva