FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

Um Vírus Algal Recém-Encontrado em Humanos Pode Estar Afetando Nossos Cérebros

Os pesquisadores descobriram uma ligação em potencial entre a infecção pelo vírus e uma mudança sutil nas funções cognitivas dos infectados.

Recentemente, uma equipe de pesquisadores surpreendeu-se ao descobrir a presença de um vírus algal (que normalmente atinge algas) na garganta de seres humanos. Além disso, eles descobriram uma ligação em potencial entre a infecção pelo vírus e uma mudança sutil nas funções cognitivas dos infectados.

O vírus, conhecido como ATCV-1, começou a dar as caras recentemente. Alguns anos atrás, o vírus foi encontrado em amostras de tecido cerebral humano, de acordo com a revista Science, mas na época os pesquisadores não tinham certeza se ele havia infectado a amostra antes ou depois da morte do paciente. Mais recentemente, um grupo de pesquisadores da Universidade Johns Hopkins encontrou traços do vírus em culturas de garganta realizadas em pacientes psiquiátricos. No início, eles não faziam ideia do que era o microorganismo.

Publicidade

Após consultar um banco de dados viral o grupo descobriu que estava lidando com o ATCV-1 — uma descoberta peculiar, dado que o ATCV-1 é um clorovírus. Os clorovírus são um tipo incomum de vírus de plantas, tipicamente ligado à algas. Na verdade, eles fazem parte do grupo de maiores vírus botânicos conhecidos pela humanidade, com mais de 600 genes protéicos (vs. menos de uma dúzia de genes da maioria dos vírus de plantas). Dessa forma, eles tendem a agir mais como bactérias do que como vírus normais, formando grandes placas ao redor de alvos algais unicelulares.

infcycle.jpg

Então o que diabo eles estão fazendo em gargantas humanas? Os pesquisadores da Universidade de Hopkins, liderados pelo virologista Robert Yolken (famoso por causa da história do parasita que controla as mentes de gatos), se agilizaram para chegar ao fundo desse surpreendente mistério viral. Eles se uniram a outro trabalho em andamento, um estudo sobre as funções cognitivas de um grupo de 92 pacientes saudáveis.

Durante o estudo, descobriu-se que 43% do grupo estava infectado pelo vírus. Além disso, o grupo infectado exibiu uma queda de 10% no êxito em testes de processamento visual. A descoberta, descrita na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, não é surpreendente por si só, mas o time de Hopkins investigou-a mais a fundo.

Em seguida, eles injetaram o vírus na boca de ratos de laboratório, e ambos os ratos infectados e não infectados (diferença determinada pela presença de anticorpos) foram submetidos a uma variedade de testes.

Publicidade

Assim como no grupo de humanos, os ratos infectados apresentaram um déficit cognitivo, tendo resultados fracos em testes de habilidade espaciais e visuais e apresentando comportamentos associados à extrema distração e déficit de atenção. O grupo havia criado ratos estúpidos, ou pelo menos ratos que tinham mais dificuldade em concluir algumas tarefas.

"A semelhança entre os resultados observados em ratos e humanos revela os mecanismos utilizados por vários micróbios para afetar as funções cognitivas de animais e humanos", acrescentou o pesquisador Mikhail Pletnikov em um comunicado divulgado pela Universidade Johns Hopkins. "Essas características comuns são precisamente o que nos permitem estudar as patologias geradas por esses microorganismos de uma forma controlada e sistemática."

Por fim, o time estudou o tecido cerebral dos ratos. Eles descobriram danos em vários genes do hipocampo, especialmente naqueles responsáveis pela memória e pela orientação espacial. Algumas mudanças ocorreram em genes responsáveis pela regulação do sistema imune e em genes ligados à produção da dopamina. No total, 1.300 genes foram afetados.

Não se sabe se o vírus realmente atinge humanos (ou ratos), ou se ele só age de forma parasítica. Se a segunda teoria for correta, o vírus poderia estar mais próximo do notório parasita de gatos, o Toxoplasma gondii, do que de outros invasores virais. Também não se sabe se essa infecção (ou semi-infecção) existe fora da zona de pesquisa do grupo, localizada em Baltimore.

Enquanto isso, existem inúmeros vírus com os quais devemos nos preocupar. Apesar de um vírus com um efeito tão específico infectando humanos ser algo assustador, a situação não parece muito perigosa — nas pior das hipóteses, perderemos algumas faculdades neurais, algo muito irrelevante em um mundo com forças tão destrutivas.

Tradução: Ananda Pieratti