Time argentino quis implantar chips nos torcedores para acabar com a violência

FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

Time argentino quis implantar chips nos torcedores para acabar com a violência

Parece que muitos deles não curtiram muito a ideia.

Qual é a melhor forma de lidar com torcidas organizadas violentas? Segundo a diretoria de um time de Buenos Aires, na Argentina, a solução é implantar microchips nos braços dos torcedores e manter os arruaceiros longe dos estádios.

Em abril, o CA Tigre, um time da primeira divisão argentina, propôs implantar microchips — chamados por seus criadores de "tickets pasión" — nos torcedores para agilizar a entrada no estádio e diminuir a violência durante os jogos. A proposta foi rejeitada após um breve período de testes, informou o clube à Motherboard, e embora seu porta-voz não tenha especificado o porquê, suspeitamos que a indignação do público seja um dos motivos.

Publicidade

"Além de permitir que os torcedores entrem no estádio sem nada nas mãos além de sua paixão pelo time, o ticket pasión garante ao clube um certo nível de controle sobre seus fãs", tuitou o clube na época.

Ahora, podés llevar a tu club adentro…De verdad ! Club Atlético TigreApril 25, 2016

O público, preocupado, respondeu da seguinte forma:

Matias ReynosoApril 25, 2016

E assim:

*AstonApril 25, 2016

…o que pode ser traduzido como "Somos o primeiro time de futebol ciborgue".

Para minha surpresa, a maior parte dos torcedores argentinos com quem conversei não estava horrorizado com a dimensão orwelliana dessa iniciativa; na verdade, eles viam a proposta como uma forma pragmática de diminuir a violência dentro dos estádios.

Para assistir a um jogo na Argentina, os moradores locais devem associar-se ao time de sua escolha, tornando-se torcedores oficiais, ou socios, do clube em questão. Além disso, os torcedores devem pagar uma taxa mensal de cerca de 200 pesos e apresentar um comprovante de ingresso, ou carnet, na entrada do estádio. O chamado sócio-torcedor.

Mas como Sebi, um fã de longa data do CA Tigre, me contou, socios oficiais muitas vezes emprestam seus carnets para torcedores não-registrados que querem assistir a um jogo, o que significa que os torcedores punidos por comportamento violento muitas vezes ainda conseguem entrar nos estádios.

Ele acredita que, no futuro próximo, os microchips podem ser uma boa solução. "Assim como há 20 anos ter um celular não era algo comum, hoje não é normal implantar microchips em seu próprio corpo", disse.

Publicidade

No entanto, Sebi acha que a tecnologia deveria ser testada em outros países antes de ser utilizada na Argentina porque "um time pequeno como o Tigre não tem a tecnologia necessária para conduzir uma iniciativa tão grandiosa".

Paco, torcedor registrado do CA Tigre há nove anos, disse que achou a ideia do microchip "estranha, inovadora e original", e que, apesar de não estar disposto a testá-la — a agulha enorme o intimida —, ele acredita que a proposta pode resolver o problema das barras.

Grande parte da violência entre torcedores é instigada pelas barra bravas, torcidas violentas tipicamente formadas por moradores de favelas que costumam acirrar os ânimos das arquibancadas durante os jogos. Graças ao comportamento violento das barras, torcedores de times visitantes foram proibidos de assitir aos jogos disputados em estádios de times rivais em 2013.

Embora Damiàn, torcedor do Boca Juniors, reconheça as semelhanças entre a ideias dos microchips e o livro 1984, ele ainda apoia a iniciativa. "Acredito que, se o papel do chip for garantir a segurança dentro dos estádios (deixando de lado teorias da conspiração sobre como eles querem nos controlar etc. etc.), então ele é uma boa ideia", disse.

Vamos Salvar o Futebol (Salvemos al Fútbol), uma organização local que luta contra a violência no futebol, afirma que o esporte já causou 312 mortes desde 1922. As causas vão desde troca de tiros, brigas de faca e crânios esmagados por pedras, a dezenas de pessoas caindo das arquibancadas.

Publicidade

Juan Baez, que torce para o San Lorenzo (assim como o Papa e Viggo Mortensen), me disse que a violência tem aumentado.

"Para ser sincero, os últimos 25 anos foram cheios de violência. Já vi policiais correndo atrás de socios a cavalo ou atirando balas de borracha nas torcidas, já vi brigas entre torcedores de times rivais e entre membros do mesmo clube", conta.

"A polícia já sofreu bastante violência. Mas eles também já foram a causa dela", acrescentou.

No começo do ano, o novo governo argentino inaugurou um banco de dados nacional de torcedores de futebol, criado em grande parte para afastar figuras indesejadas dos estádios. Essa não foi a primeira vez que uma medida do tipo foi proposta: em 2015, uma proposta semelhante conhecida como AFA Plus foi sugerida, mas nunca saiu do papel.

Entre as novas regras impostas pelo banco de dados nacional, está a exigência de que os torcedores apresentem suas identidades junto de seus carnets.

Tradução: Ananda Pieratti