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Tecnologia

'The Life of Pablo' e a morte do streaming de música como conhecemos

A fragmentação dos serviços de música sob demanda é um convite para voltarmos à pirataria.
Crédito: thepablo.life

Ame ou odeie, o lançamento do novo disco de Kanye West foi um evento monumental. Não por causa do desfile de moda ou pelas tretas no Twitter ou pelo suspense administrado pelo cara. Não. A grandiosidade de The Life of Pablo está em acelerar morte da primeira era de ouro do streaming musical.

Entenda: o streaming musical agora está tão segmentado que é inconveniente pagar por só um serviço. O consumidor se depara com a mesma questão de quem assina algum site de vídeo por demanda. Não basta só o Netlflix. Precisamos de mais opções.

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Tenha como exemplo o Spotify. Não dá pra abri-lo e ouvir praticamente qualquer coisa. O serviço não tem discos da Taylor Swift – só há algumas faixas suas em trilhas sonoras. Alguns discos da cantora estão no concorrente Tidal, mas não o 1989. Todos seus álbuns estão no Apple Music. Já o novo single do Prince (e quase nada além disso) está no Spotify, o seu catálogo no Tidal e, no Apple Music, há um apanhado aleatório de suas canções.

Please for all music lovers. Please subscribe to tidal!!! I decided not to sell my album for another week. Please subscribe to tidal.
— KANYE WEST (@kanyewest) 14 fevereiro 2016

Antes alvo de piadas por causa de sua interface desengonçada, o Tidal é a única plataforma em que se pode ouvir The Life of Pablo de Kanye, o Formation de Beyoncé e Anti de Rihanna (este só por alguns dias pois, como um leitor nos avisou, está também no Spotify e no Deezer). Esses lançamentos exclusivos (ou apenas o espetaculoso TLOP) levaram o Tidal à primeira posição da App Store pela primeira vez.

Isso não significa que o Tidal é o melhor serviço de música. Nem significa que você terá que assinar o Tidal, Apple Music e Spotify e memorizar quais canções estão disponíveis onde.

Trata-se de uma situação insustentável. A Apple pode lidar muito bem com os prejuízos associados ao streaming, mas é difícil imaginar uma situação em que o Tidal e seu 1 milhão de assinantes – com TLOP ou não – consigam bater as contas por muito tempo mais. Ao que se sabe, o serviço tem perdido muita grana e paga mais por suas músicas que o Spotify ou Apple.

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Mesmo que alguns usuários do Spotify partam para o Tidal por causa de seu acervo, é complicado ver a empresa ganhar dinheiro em uma indústria em que nenhum outro semelhante lucra (Spotify, Pandora, e Tidal todos perdem grana; o Rdio foi comprado; Google Play e Apple Music não tem dados divulgados).

E agora? Bom, parece claro que o streaming musical parece ser um setor em que a competitividade é ruim para o consumidor. Enquanto o Tidal, Apple Music e Spotify se mantiverem no ar com discos exclusivos, veremos a fragmentação.

Junto dessa fragmentação certamente voltaremos aos tempos da pirataria. É impossível ouvir TLOP no Spotify, por exemplo, mas como alguns deixam logo claro, é possível baixa-lo por torrent, importa-lo para o Spotify, sincronizando com seu celular. Contanto que Spotify, Apple Music ou Tidal tenham quase tudo que você quer, veremos gente se virando com o que tem, aumentando seu acervo com música comprada ou pirateada mesmo.

Com o tempo, quando algum vencedor emergir, virá a consolidação mais uma vez. Se isso é bom ou ruim, bom, depende da boa vontade do vencedor (e se ele terá grana) para tratar artistas e consumidores de forma justa.

Tradução: Thiago "Índio" Silva