​Os Vendedores de Afrodisíacos no Peru Estão Levando o Sapo Escrotal à Extinção

Symbiotic é uma nova série do Motherboard que investiga as belas e distorcidas interações entre homens e animais e a disputa interdependente entre as duas espécies em nome da sobrevivência mútua.

Quão longe você iria para obter uma ereção? Você possivelmente extinguiria uma espécie inteira por uma vida amorosa mais vigorosa?

Em algumas regiões do Peru, há uma iguaria antiga que consiste na liquefação de um sapo raro. Beber tal preparo supostamente cura diverso males, incluindo bronquite, tuberculose, asma, artrite e sim, até mesmo a impotência.

O anfíbio em questão não é um sapo em qualquer, mas o ameaçadíssimo Telmatobius culeus, mais conhecido como sapo escrotal, cujo apelido rende um belo trocadilho em português além de ser um tanto quanto adequado ao fazer referência às diversas dobras na pele que cobre o animal; pense em uma versão anfíbia de um buldogue gorducho, com uma pele que o ajuda a respirar.

Suco de sapo, ou Jugo de Rana, como é chamado em espanhol, também tem sido chamado de Viagra peruano. É um preparo que crê-se possuir fortes propriedades medicinais com supostos benefícios como melhoras no fluxo sanguíneo, função pulmonar, e mais absurdamente, no estímulo sexual.

O correspondente do Motherboard Mariano Carranza foi até Lima e deu de cara com o tal suco de sapo em um pequeno estabelecimento nas ruas de Puente Nuevo. Por mais que a receita varie de um lugar para o outro, não existem segredos. Os ingredientes principais são alguns alimentos energéticos como mel, alfarroba, pólen e caldo de feijão branco, mas mais pertinentemente, inclui-se também uma bela porção de raiz de maca e um sapo escrotal inteiro.

Não encontramos nenhuma literatura científica que indique que o sapo possua todas essas qualidades dignas de um elixir. Porém, há alguma evidência de que a raiz de maca – uma planta nativa da região central andina do Peru – talvez melhore a fertilidade.

Para sabermos mais, falamos com o Dr. Gustavo F. Gonzales, professor de endocrinologia na Universidade de Cayetano Heredia, em Lima, cujo trabalho é focado como maca, que melhora a libido, pode melhorar a produção e mobilidade de espermatozoides. Quanto mais aprendíamos sobre a maca, mais o sapo escrotal parecia perfumaria ancestral, ao invés de uma louca panaceia.

O extrativismo exagerado do sapo escrotal para consumo humano chamou atenção da comunidade zoológica, científica e governamental ao redor do mundo. Em Lima, encontramos com o veterinário especializado em vida selvagem Roberto Elías, que com a ajuda do Zoológico de Denver, lidera a batalha contra o suco de sapo.

Através de campanha de preservação em torno da região do Laco Titicaca, Elías e sua equipe estão educando os moradores da região a como usarem os sapos para seu bem-estar econômico sem contribuir para o seu sumiço e um inevitável desequilíbrio ecológico. O governo peruano também assumiu uma postura contra o tráfico de vida selvagem ao promover batidas nestes comerciantes de suco de sapo, confiscando seus produtos ameaçados de extinção.

Porém, o consumo da mistura não mostra sinais de enfraquecimento. A comerciante que encontramos declarou que entre 50 e 70 sapos continuam sendo servidos na forma de suco todos os dias. É uma situação similar à enfrentada por outros animais em risco de extinção como rinocerontes e tigres, cujas partes do corpo também sofrem com a falsa crença de possuírem propriedades medicinais – não importa o quão articuladamente a ciência desmistifique os supostos benefícios do sapo escrotal, os seres humanos continuarão a ser influenciados pelas tradições de outrora, pelo folclore indelével e pelo apetite de qualquer coisa escassa. Mesmo que isto ponha sua relação simbiótica com a natureza em jogo.