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Tecnologia

A Stoya Explicou pra Gente Quando É de Boa Piratear Pornografia

Torrent? Sim. YouTubes da putaria? Não.
​Crédito: Steve Prue. Cedido por: Stoya Inc./TRENCHCOATx.com.

A Stoya quer que você baixe seus pornôs de graça.

Foi o que disse a estrela da pornografia alternativa, empresária e escritora em um post publicado na semana passada. Nele, ela criticava os sites de vídeos pornôs — sites de pornografia parecidos com o YouTube e que compartilham vídeos de forma ilegal — e sugeriu que, se a ideia é não pagar pela pornografia, o mínimo que podemos fazer é apoiar a liberdade de informação e baixar esses vídeos por torrent ao invés de frequentar e financiar esses sites.

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Ela também deixou claro que apoia a criação de uma licença da Creative Commons especial para seus pornôs, e que, se dependesse dela, ela disponibilizaria seus trabalhos para download por torrent e os tiraria desses sites de vídeos. Uma rápida explicação: a Creative Commons é uma organização sem fins lucrativos que emite licenças que permitem a livre distribuição das obras licenciadas. Com uma licença de partilha igualitária, por exemplo, uma obra só pode ser compartilhada se estiver sob os termos da mesma licença. Uma licença não-comercial só autoriza o compartilhamento para fins não-lucrativos.

Os sites de vídeos pornôs têm um longo e notório histórico de mau comportamento. Uma matéria publicada na Slate no ano passado sobre a MindGeek — a maior proprietária de sites pornôs e empresas de produção de pornografia da América do Norte — definiu a empresa como um "monopólio" devido à sua mania de comprar todas suas adversárias no mercado de produção e distribuição. A MindGeek também é um dos alvos favoritos da Stoya.

"Baixe o quanto quiser, mas não ganhe dinheiro com isso"

Quando ela não está eviscerando maus atores do ramo do entretenimento adulto, Stoya trabalha no lançamento de seu site de pornografia pay-per-scene, o TRENCHCOATx. O site já oferece inovações eróticas como vídeos financiados por merchandising, uma novidade na indústria. O primeiro filme, apresentado pela co-fundadora da TRENCHCOATx, Kayden Kross, irá contar com o financiamento do ArrangementFinders — um site de relacionamentos voltado para sugar daddies. O filme se chama Fudendo Wall Street: O IPO do ArrangementFinders.

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Defender o direito de roubar conteúdo quando você está construindo uma empresa que produz esse mesmo conteúdo é uma estratégia corajosa. Por isso ligamos para a Stoya e perguntamos o que ela acha disso tudo: abaixo, ela fala sobre os problemas do copyright e do capitalismo e sobre a importância de disponibilizar boa pornografia para todos.

Crédito: Steve Prue. Cortesia de: Stoya Inc./TRENCHCOATx.com.

Motherboard: Por que você pede para as pessoas baixarem seus pornôs via torrent?

Stoya: Existe um interessante quantidade de dissonância cognitiva nessa história. É claro que toda obra custa alguma coisa. Seguindo esse raciocínio, uma obra um pouco mais elaborada vai custar ainda mais. Na Graphic Depictions [uma série sobre a vida de uma protagonista queer], se um episódio faz sucesso, o cara que fez a cena merece ganhar uma boa grana — como isso é financiado? Ao mesmo tempo, especialmente agora que tudo acontece na internet, as coisas estão cada vez mais difíceis.

Digamos que eu inauguro a TRENCHCOATx, uma lojinha física no Brooklyn onde você pode entrar e tocar os produtos e comprar objetos físicos — um DVD, ou um pen drive com um livreto bonitinho de brinde ou qualquer coisa do tipo. E digamos que alguém entre, enfie um produto no bolso e saia da loja. Isso é tipo, que merda!

Mas quando estamos falando sobre produtos que são só zeros e uns — nós que fizemos tudo isso. Ele está dentro de um disco qualquer, enfiado dentro de algum servidor. Logo, assistir esses filmes em um site de torrents não é, tecnicamente, um roubo. Dentro dessa indústria, falamos muito sobre comprar pornografia. Por um lado, a ideia é ótima. Por outro, ela ignora alguns problemas. Um deles é a pirataria, que sempre vai existir.

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Parece que você pensa nos torrents como uma forma mais "ética" de compartilhamento. Você acha que compartilhar pornografia via torrent tem algum benefício social?

Bem, outra coisa que a indústria ignora é que — e eu vou dizer uma coisa um pouco egoísta agora — se um cara de 18 anos que tem dois empregos e está ralando para pagar o aluguel decide, "Ah, eu quero assistir um pouco de pornografia para me divertir ou me masturbar", e ele não tem dinheiro disponível, eu prefiro que ele assista meu trabalho ao invés de ser obrigado a consumir pornôs muito antigos — eles criam uma ideia errada sobre o que é o entretenimento adulto atual — ou a pornografia mainstream da MindGeek. Eles só tem um estilo, que está se tornando cada vez mais homogêneo.

"A educação sexual não pode se limitar ao consumo de filmes pornôs"

Por um lado, sim, o objetivo da nossa empresa é ganhar dinheiro o suficiente para me sustentar e sustentar a Kayden. Mas a coisa que mais me incentiva a disponibilizar algo para o mundo, seja esse um blog ou um pornô, é a minha vontade de compartilhar e divulgar a pluralidade sexual. Então sim, eu apoio dar o meu trabalho para as pessoas que não tem dinheiro para comprá-lo. Devemos inserir essa questão dentro da discussão sobre pornografia.

Você acha que lançar pornografia com uma licença da Creative Commons é possível para uma empresa como a sua?

A coisa de "eu queria que a Creative Commons tivesse uma licença especial para os pornôs da Stoya" foi uma brincadeira. A licença que eu quero é a não-comercial e de partilha igualitária. Eu acredito nisso 100%. Acho que tudo é possível — é possível ter uma carreira financeiramente viável no ramo de entretenimento da internet sem essa besteira de copyright e sem babaquice. Por isso a licença não-comercial é ideal. Use o quanto você quiser, mas não ganhe dinheiro com isso. E se você ganhar, nós vamos ganhar uma porcentagem. É assim que eu acho que todo projeto comercial colaborativo deveria funcionar. Nós ainda estamos longe disso, tanto na indústria quanto na nossa empresa, a TRENCHCOATx, mas é lá que eu quero chegar.

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Será que um "YouTube de pornografia" vai existir algum dia? Se sim, você aprovaria a iniciativa?

Eu acho que essa é uma questão complexa para caralho. Se esse problema é uma bola de neve, o que a gente está discutindo é apenas uma partícula de gelo. Dá pra escrever um livro sobre isso. Mas existem alguns sites de vídeos pornôs — o WoodRocket, por exemplo, e o PornTube — que são independentes, e muitos mais éticos. Quando eles dão coisas de graça, eles se asseguram de que eles estão dentro da lei, o que para mim é ético.

Gritar "não usem sites de vídeos pornôs, só torrents" ignora a existência dos poucos sites que valem a pena, mas isso é necessário para ter certeza de que a mensagem foi captada. É a mesma coisa que os educadores sexuais fazem quando gritam "Camisinhas! Usem camisinhas!" Quando você tem 20 segundos para enfiar algo na cabeça de alguém, o mais importante é, de fato, a camisinha. Mas a coisa é um pouco mais complicada. As camisinhas não são completamente seguras, existem outros métodos — tipo, você também pode usar vários métodos. Como, por exemplo, camisinhas e a discussão honesta sobre histórico sexual e testes de DSTs. Podemos chegar o mais próximo de seguro possível. Ninguém nunca vai estar completamente "seguro", mas você pode aumentar essa segurança.

Ok, agora nós entramos em uma tangente sobre a saúde sexual, mas o ponto é que às vezes temos que sacrificar a sutileza para dar mais força à nossa mensagem.

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Como um site de vídeos "bom" funciona?

Eles agem de boa fé, basicamente. Eles licenciam as coisas, normalmente filmes que os donos já venderam e distribuíram de todas as formas. Os produtores dizem "Sim, a gente vende essa pilha de arquivos por tantos dólares". Ou eles fazem outro tipo de acordo — eu não conheço o negócio direito — mas eles se asseguram de que o dono do conteúdo saiba que ele está sendo utilizado; eles sempre pedem permissão. Também existe um retorno para os donos desses vídeos. Isso é bem legal.

"Como é possível viver dentro do capitalismo, esse sistema de bosta?"

Uma coisa que é muito comum nesse meio, é que [os sites de vídeos pornôs] nivelam todo o mercado de sites pornôs para desvalorizar a indústria — não é por nada que a Slate chamou a MindGeek de monopólio — e começar a homogeneizar tudo. Quando alguma pessoa ou empresa dos Estados Unidos — e aqui nós tratamos as empresas como pessoas — tem metade do poder de todo um grupo, isso é um problema. E quando eles usam esse poder para padronizar alguma coisa, esse problema só aumenta.

A educação sexual não pode se limitar ao consumo de filmes pornôs. Como existe uma falta de informação na educação sexual, a indústria pornográfica acaba fazendo o papel de professora. Ver essa empresa impondo uma única visão sobre sexo e mulheres, e ver isso se espalhar e se tornar cada vez mais real — isso é um problema enorme.

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Mas nem todo mundo vai baixar seu trabalho de boa fé. Qual é o equilíbrio entre ser pago e permitir que outros abusem dessa liberdade, se é que posso usar essa expressão?

A coisa é: como é possível viver dentro do capitalismo, esse sistema de bosta? Toda vez que olhamos para o lado vemos algo horrível acontecendo, e o horror está sempre ligado ao capitalismo. Tudo porque alguém fez algo péssimo em nome do capital, ou em nome do poder. O crescimento da poliomelite no Paquistão, por exemplo, porque a CIA precisava usar as vacinas como uma desculpa para atuar no país, e o atual medo que os paquistaneses têm dessas vacinas. Tipo, que merda é essa? As pessoas fazem atrocidades terríveis em nome do capitalismo e do poder.

Como nós devemos lidar com isso? Não podemos simplesmente pedir para as pessoas congelarem suas contas bancárias e deixar de serem terríveis. Como viver nesse sistema e ainda assim conseguir dormir à noite? Este é um processo contínuo, uma missão, e eu acho que ninguém tem a resposta; a não ser que esse alguém seja um sociopata que consegue dormir mesmo fazendo coisas absolutamente terríveis pelo dinheiro e pelo poder.

O que você diria para alguém que está prestes a adicionar um vídeo ao seu site pornô favorito, supondo que essa pessoa não saiba a quem ele pertence?

Nesse caso, eu me esforçaria para saber quem é o dono do site. É por isso que eu digo para as pessoas usarem o torrent no lugar desses sites. Não entrem nesses sites. Baixem tudo por torrent.

Tradução: Ananda Pieratti