Que Morte Horrível: Qual É o Pior Jeito de Morrer?
Um mosaico tunisiano da era romana. Crédito: Dennis Jarvis/Flickr

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Que Morte Horrível: Qual É o Pior Jeito de Morrer?

A resposta que encontrei não é muito agradável. Você provavelmente não vai gostar.

Nós gastamos muita energia para evitá-la e tirá-la de nossas cabeças, então sinto muito por ter que dizer isso: a morte é inevitável. E apesar de ela ocorrer (seja de propósito ou por acidente) desde antes dos humanos serem humanos, a ciência nunca entrou em um consenso sobre quais formas de morrer nós devemos evitar a todo custo.

Aqueles com uma quedinha pelo mórbido já devem ter pensado nisso. O afogamento pode ser particularmente indesejável para alguns, ou quem sabe ser queimado vivo. Costumamos pensar sobre isso de forma impessoal, como se essas coisas só pudessem acontecer no mundo real sob circunstâncias bizarras, ou na época em que os médicos ainda não sabiam o que eram os germes. Quando finalmente tocamos no assunto, costumamos estar bebendo com nossos amigos — damos uma risada meio mórbida e seguimos com nossas vidas.

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Mas as mortes que assombram nossos pesadelos têm algo em comum. Apesar de os cientistas estarem longe de entrar em um consenso, podemos unir várias abordagens científicas, analisar as entrelinhas e responder a questão sobre a "pior forma de morrer".

A resposta que encontrei não é muito agradável. Você provavelmente não vai gostar.

Antes de chegarmos ao quê da questão, é importante definir o que a "forma" de morrer significa. Quando alguém morre, um médico ou legista preenche um atestado de óbito, que segundo Kevin Henderson, um legista de Ontario County, contêm três informações: a causa, o mecanismo e o modo da morte. Embora cada um desses elementos tenha sua cota de partes nojentas, vou me ater principalmente à causa da morte.

"A causa da morte é a doença ou ferimento que produz a disrupção fisológica corporal que resulta na morte; por exemplo, uma ferida causada por um tiro no peito", disse Henderson. São essas causas que habitam os nosso medos mais profundos. É a diferença entre o medo de se afogar e o medo da asfixia, da água engolida, e da circulação prejudicada que te matariam de fato, ou até mesmo do fato de que você não sabe nadar.

As pessoas costumam se incomodar ao pensar em causas de morte devido à dor que ligam a cada uma delas. A dor é comumente descrita como uma "sensação incômoda" no corpo; mas ela é subjetiva, podendo ser aumentada ou exarcebada em diferentes contextos.

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"O contexto é algo importante quando o assunto é dor", afirma Randy Curtis, diretor do Centro de Excelência de Cuidados Paliativos da Universidade de Washington, em Seattle. "O parto é um bom exemplo. A dor é muito aguda, mas a mãe sabe que ela é temporária, e porque ela está sentindo-a, e o evento é muito empolgante. As mulheres podem suportar dores muito intensas dentro desse contexto — ao contrário do que acontece com a dor causada pelo câncer, que diminui sua expectativa de vida e pode sempre aumentar."

Apesar da dor ser algo muito subjetivo, ela pode ser categorizada objetivamente, o que pode ajudar os médicos a tratá-la. Eles analisam a sua duração: aguda (de curta duração) ou crônica (de longa duração). Segundo Curtis, as duas podem ser terríveis. Mas a dor também difere conforme a sua origem. A dor nociceptiva, ou somática, é a sensação nervosa que resulta de um ferimento, enquanto a dor neuropática não possui nenhuma origem específica, o que inclui as dores de doenças como o alcoolismo, a síndrome do membro fantasma, ou a esclerose múltipla.

Poucas pessoas compreendiam o poder da dor tão profundamente quanto os inquisidores, que criaram o que conhecemos por torturas "medievais". Essas punições apavorantes se tornaram relativamente comuns a partir de 1520, após a Reforma Protestante, segundo Larissa Tracy, professora de literatura medieval da Universidade de Longwood, em Farmville, na Virgínia.

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VIVENCIAR SEU PRÓPRIO DECLÍNIO É DIFÍCIL, E AS PESSOAS TEM MEDO DE PERDER O QUE LHES RESTA

Métodos de punição cruéis eram usados com pouca frequência, Tracy enfatizou, e apenas para os piores criminosos: traidores e assassinos. Mas as suas características comuns eram a dor intensa e o tempo que levavam para chegar ao seu objetivo final.

Pensemos, por exemplo, na forca, que era a pena de morte mais comum no final da Idade Média. "O processo não era nada sofisticado — eles dependuravam [os criminosos] até eles se asfixiarem, o que podia demorar entre seis e dez minutos", disse Tracy.

Outros métodos horripilantes incluíam o enforcamento seguido de evisceração e esquartejamento, punição aplicada nos piores traidores da Inglaterra medieval. A pessoa era enforcada até quase morrer, e então retirada da forca. Após isso, o traidor era castrado, e seus intestinos eram removidos na frente de seus próprios olhos com um espeto quente enfiado em seu cólon. Por fim, ele era decapitado, esquartejado em quatro pedaços (algumas versões desse método utilizavam cavalos para desmembrar a pessoa, mas Tracy diz que não há muitas evidências de que isso fosse algo prático) e exibido em praça pública.

Outra punição particularmente vil era ser esfacelado em uma roda, reservado aos piores criminosos da Europa e aos escravos revoltos nos Estados Unidos. O criminoso era amarrado à uma roda de madeira e espancado até que todos os seus ossos fossem quebrados. Algumas fontes afirmam que as vítimas podiam sobreviver por até três dias nesse estado.

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Tracy afirma que hoje usamos a pena de morte de forma muito mais leviana, e que nossos métodos "piedosos" não o são de fato. Estudos recentes mostraram que o coquetel químico utilizado em injeções letais pode não ter o efeito anestésico que deveria. E o método ainda é considerado uma evolução da cadeira elétrica.

"Milhares de volts são transmitidos pelo corpo humano, os cérebros fritam, a pele chamusca em alguns pontos", disse Tracy, tremendo um pouco. "E tudo isso enquanto a pessoa está viva."

Apesar de esses métodos serem dolorosos, eles ( normalmente) duram apenas alguns minutos. O americano comum tem mais chances de morrer por causa de alguma doença mais duradoura. As maiores causas de morte são as doenças cardíacas e o câncer, que juntos somam cerca de 63% de todas as mortes registradas nos Estados Unidos em 2011. Muitas vezes, as pessoas que sofrem dessas ou de outras doenças vivem mais do que seus antepassados, mas seus últimos suspiros de vida costumam ser mais difíceis e dolorosos.

"As pessoas pensam que irão saber quando estiverem perto de seus últimos dias, semanas ou meses de vida, mas a maioria de nós morre aos poucos", diz Joanne Lynn, uma médica e especialista em cuidado paliativo. "Fingimos que as pessoas vão morrer de infarto enquanto dormem, mas isso não corresponde com a realidade."

Conforme o fim se aproxima, as pessoas são obrigadas a confrontarem seu medo da morte. "Vivenciar o seu próprio declínio é difícil, e as pessoas tem medo de perder o que lhes resta", disse Lynn. "Elas têm medo de sofrer, e de ficar isoladas física e emocionalmente. Eles temem perder o controle, perder seu dinheiro e não ter acesso à comida. E é claro que há o medo derradeiro da não-existência, de estar morto."

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Ter que enfrentar esses medos não é nada incomum. Para as pessoas que chegam aos 85 ou 90 anos, o medo da morte em si é menos perturbador, porque muitos de seus amigos já faleceram, o que torna a morte "incômoda mas não inesperada", acrescenta Lynn.

A má notícia é que, se você está vivo agora, é bem provável que sua morte seja arrastada e um tanto assustadora. A boa notícia é que nós somos muito melhores em aliviar a dor do que éramos na Idade Média. Dependendo da origem da dor ou do quão incômoda ela é, os médicos podem tratar o paciente com remédios que vão do Tylenol a opiáceos como a morfina. Nessa situação, a avaliação da dor pelo próprio paciente é mais uma vez essencial.

"O primeiro passo antes de tratar a dor é observar o que a causa, para descobrir se é possível extirpá-la", disse Curtis, da Universidade de Washington. O câncer que entra em metástase e afeta os ossos, por exemplo, gera uma dor profunda e específica.

"Alguns tipos de câncer respondem muito bem à radiação, então a dor pode melhorar muito", disse Curtis. "Mas outros tipos de câncer não são tão sensíveis à radiação. Se os médicos a usarem muito, ela pode causar problemas — queimaduras e feridas que podem gerar mais dor."

A dor, Curtis acrescentou, é um dos fatores que podem angustiar um paciente prestes a morrer. "Náusea, vômitos, fatiga, depressão, ansiedade e falta de ar podem ser muito debilitantes e assustadores", disse Curtis. Isso nos leva a algo mais profundo, o pai de todos os outros medos: o medo de ninguém conseguir entender sua dor e de ser forçado a sofrer sozinho.

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Os médicos, devido à sua profissão, costumam ter mais facilidade para colocar essa angústia em palavras. "Eu teria medo de sentir muita dor e não ter acesso a médicos que a levassem a sério e a tratassem com sucesso", disse Curtis.

Lynn também teme receber cuidados insuficientes. "Eu quero que exista um sistema em que eu possa confiar, um no qual todos os envolvidos saibam lidar com minhas preferências e serem honestos sobre as minhas chances", ela disse.

Após falar com esses especialistas, me parece que a pior forma de morrer, segundo a ciência, é também a mais provável: em um quarto de hospital, após uma doença prolongada. Você pode ou não saber que o fim está próximo. E você pode ou não ter bons médicos que saibam tratar sua dor, ou parentes que respeitem suas vontades.

Mas o assunto não é tão existencial. Quer você seja um criminoso sendo eviscerado por um espeto ou um cidadão comum sendo eviscerado pelo câncer, seu estado psicológico pode mudar completamente o significado de "morte horrível". Os pesquisadores irão, sem dúvida, desenvolver estratégias mais avançadas para tratar e compreende a dor, e talvez até mesmo a morte. Mas as condições psicológicas são multifacetadas — e dependem muito mais do autocontrole de cada um.

Tradução: Ananda Pieratti